Que atividades econômicas era favorecidas pela localização de Constantinopla?

História Medieval

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Que atividades econômicas era favorecidas pela localização de Constantinopla?

Créditos

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Assesoria Pedagógica/Equipe de Revisores

  • Sônia Henrique Pereira da Fonseca
  • Anaisa Alves de Moura
  • Evaneide Dourado Martins

Sumário

  • Palavra do Professor-autor
  • Biografia dos autores
  • Ambientação
  • Trocando ideias com os autores
  • Problematizando
  • Unidade de Estudo: Idade Média

    • Crise do Império Romano e invasões Bárbaras
    • Império Bizantino
    • A formação do Império
    • Romanização ou Orientalização?
    • O Império tornou-se Oriental
    • A Questão Iconoclasta
    • Auge e Decadência
    • A Cultura Bizantina

  • Unidade de Estudo: Feudalismo

    • Feudalismo e Baixa Idade Média
    • Comércio no início na Idade Média
  • Unidade de Estudo: Impulso Comercial

    • Expansão Comercial
    • O Ressurgimento da Vida Urbana
    • Papel do Diabo, das Feiticeiras e Hereges no imaginário Medieval
  • Explicando melhor com a pesquisa
  • Leitura Obrigatória
  • Pesquisando na Internet
  • Saiba mais
  • Vendo com os olhos de ver
  • Revisando
  • Autoavaliação
  • Bibliografia
  • Bibliografia Web
  • Vídeos

Lista de Vídeos de História Medieval

  • Unidade de Estudo: Idade Média

    • Nascimento e Expansão Civilização Muçulmana
  • Unidade de Estudo: Idade Média

    • Civilização Bizantina
  • Unidade de Estudo: Feudalismo

    • Feudalismo: Sociedade e Economia
  • Unidade de Estudo: Impulso Comercial

    • A Igreja Católica seu poder e sua influência
  • Unidade de Estudo: Impulso Comercial

    • Idade Média: A Igreja e a Inquisição

  • Unidade de Estudo: Impulso Comercial

    • Idade Média: A Igreja e as Cruzadas
  • Unidade de Estudo: Impulso Comercial

    • O Renascimento comercial e urbano na baixa idade média
  • Unidade de Estudo: Impulso Comercial

    • As crises dos séculos XIV e XV da baixa idade média

Palavra do Professor-autor

Olá,

O texto que temos é uma reflexão sobre a pluralidade do que foi a Idade Média. Nele existe uma certeza: esse período apresenta expressões diversas, não cabendo-lhe nos dias de hoje, o reducionismo que muitos dos Humanistas quiserem impor séculos atrás. Busca refletir sobre as diferentes concepções teóricas sobre o período, e que tem como objetivo esclarecer as estruturas políticas, sociais, econômicas e culturais da época.

Por ser um período da História extremamente denso, do ponto de vista das ações dos homens, a Idade Média, e o sistema que lhe foi peculiar, no caso o Feudalismo, nos possibilitam diversos olhares. Entender esse período para além da “idade das trevas” é um desafio que deve ser aceito com um espírito investigativo, baseado em fontes diversas, o que tornará essa empreitada prazerosa.

A intenção, portanto, é a da busca de equilíbrio entre as informações e suas interpretações. De certo, veremos que a Idade Média é o período da fé, autoridade, e da tradição, mas muitas descobertas e inovações, algumas delas, importantes para o mundo Moderno de hoje. Neste sentido, propomos o desafio de entender esse período, ao invés de julgá-lo. Tenham todos um bom estudo!

Os autores.

Biografia dos autores

Priscilla Régis Cunha de Queiroz

Possui graduação em História pela Universidade Federal do Ceará (2008) e mestrado em História Social pela mesma Instituição (2011). Atualmente está vinculada a Universidade Federal do Cariri - UFCA como Professora Assistente I e Vice-coordenadora do curso de Bacharelado em História do Instituto de Estudos do Semiárido - IESA, em Icó-CE. Experiência docente na Universidade Estadual do Ceará-UECE (2014) e na Universidade Regional do Cariri- URCA (2012-2013). Pesquisas na área de História, com ênfase em História do Ceará, atuando principalmente nos seguintes temas: cidade, trabalho, seca, natureza e patrimônio socioambiental.

Waldech César Rocha Júnior

Possui graduação em história pela Universidade Estadual Vale do Acaraú (2007). Atua no Ensino Médio e Pré-Vestibular. Professor do SESC SOBRAL. Ministra aulas para o Instituto de Estudos e Pesquisas Vale do Acaraú/IVA.

Ambientação

Olá, seja bem-vindo a disciplina...

“O período entre os séculos IV e XVI é tradicionalmente conhecido por Idade das Trevas, Idade da Fé ou, com mais frequência, Idade Média. Todos eles são rótulos pejorativos que escondem a importância daquela época na qual surgiram os traços essenciais da civilização ocidental. No entanto, mesmo países surgidos depois daquela fase histórica - caso do Brasil - têm muito mais de medieval do que, à primeira vista, possa parecer. Olhar para a Idade Média é estabelecer contato com coisas que nos são, ao mesmo tempo, familiares e estranhas, é resgatar uma infância longínqua que tendemos a negar, mas da qual somos produto. De fato, para o homem do Ocidente atual compreender em profundidade a Idade Média é necessário, um exercício imprescindível de autoconhecimento.”

Sugerimos que leia a obra A Idade Média: Nascimento do Ocidente do autor Hilário Franco Júnior.

Hilário, Franco Júnior. A idade Média: Nascimento do Ocidente. São Paulo, Brasiliense, 2001.

Trocando ideias com os autores

Convidamos você a trocar ideias com os autores realizando a leitura das obras indicadas.

"Extensa e detalhada análise do cotidiano ao longo da História universal. Uma obra enciclopédica que, por sua abrangência, seriedade e funcionalidade, tornou-se um best-seller tanto junto ao público leigo como ao especializado."

Tratando do período que se estende do ano mil até a Renascença, a obra traça em linguagem acessível um vívido painel de instituições e costumes de fundamental importância para a compreensão do surgimento do homem moderno. Recorrendo a documentos diversos, como cartas, memórias, obras literárias, contratos e à cultura material, os autores realizam um verdadeiro trabalho arqueológico em torno do ainda obscuro domínio da vida privada ao longo destes cinco séculos na Europa.

Sugerimos a leitura desta obra que faz parte da coletânia "História da vida privada", um amplo panorama do século XIX - a época por excelência das concepções sobre a esfera privada que norteiam ainda hoje a vida social nos países ocidentais - compõe o núcleo central deste volume. A organizadora, Michelle Perrot, da Universidade de Paris VII, contou com a colaboração de especialistas no período, como Lynn Hunt, Catherine Hall, Anne Martin-Fugier e Alain Corbin, para abordar o avanço acelerado da industrialização, a mobilização dos trabalhadores, a redefinição dos papéis sociais de mulheres e crianças, e outras transformações profundas desencadeadas pela Revolução Francesa.

As análises estendem-se até a Primeira Guerra Mundial, evento que marcou a precipitação, o bloqueio e o desvio da modernidade da qual somos herdeiros diretos. Bibliografia e índice remissivo completam o volume.

Que atividades econômicas era favorecidas pela localização de Constantinopla?
VV. AA (2009)
Que atividades econômicas era favorecidas pela localização de Constantinopla?
VV. AA (2009)

Após a leitura das obras, escolha uma e faça uma resenha crítica.

Problematizando

Prezado estudante, a partir do texto “A cidade e o comércio” vamos pensar algumas questões sobre a urbis na Idade Média.

“Na época feudal, a base da economia era a agricultura e a paisagem dominada pelos castelos; a partir do século XII, o comércio e as cidades passaram a ocupar essa posição. A cidade se converteu num lugar ideal para desenvolver trabalhos manuais e comercializar os produtos fabricados. Nas cidades, a população encontrava proteção contra os abusos do senhor feudal, além de uma diversidade de serviços concentrados num só local. Com o aumento da população, ampliaram-se as muralhas das cidades antigas; novas cidades também foram criadas. As ruas estreitas e as casas muito juntas e apertadas davam abrigo a uma população numerosa que se autogovernava por meio dos conselhos municipais ou prefeituras.”

Fonte: http://www.miniweb.com.br/historia/artigos/i_media/cidades_comercio.html

Sugiro que leia o texto na integra e reflita sobre os questionamentos e responda: O que eram aqueles conselhos municipais? Apresente semelhanças e diferenças com as prefeituras atuais. Qual o papel das muralhas em volta das cidades na Idade Média? Como eram as casas das cidades medievais? Como eram organizadas? Onde se organizam os mercados públicos? Como você acha que era organizada a produção na Idade Média? Era destinada a atender quais necessidades?

Conhecimento

Compreender as peculiaridades sociais, políticas, econômicas e culturais da Idade Média.

Habilidade

Reconhecer a Idade Média enquanto um período histórico rico em conhecimento, valores e produções.

Atitude

Posicionar-se criticamente diante das diferentes concepções teóricas para o período denominado Idade Média.

Que atividades econômicas era favorecidas pela localização de Constantinopla?

Crise do Império Romano e Invasões Bárbaras

Você sabia que ao longo do século III, o Império Romano passou por uma acentuada crise? A política expansionista do Império, ou seja, as guerras travadas para ampliar suas fronteiras e anexar novas terras se tornaram inoperantes, acarretando muitos problemas que comprometeram a organização e manutenção do Império.

A economia estivera quase inteiramente apoiada na exploração do trabalho escravo. Esse sistema era alimentado por guerras de conquistas e os sujeitos destituídos da sua liberdade eram geralmente vendidos pelo Estado aos proprietários de terra ou empregados em minas, obras públicas e na construção de monumentos. Porém, com a diminuição da política de expansão, a aquisição de novos escravos diminuiu bastante, pondo em severa crise todo o sistema escravista.

A mão de obra livre, formada por pequenos proprietários rurais e artesãos, mantiveram-se em grande descontentamento com a crescente carga tributária desse mesmo período. Devido à baixa na arrecadação de impostos dos povos conquistados, o Império aumentou a carga tributária imposta a seus súditos, ação que contribuiu para o aumento das dificuldades dos produtores livres que já sofriam com a diminuição de braços na lavoura por conta do número decrescente de trabalhadores escravos. A partir daí, verificou-se um sistemático êxodo rural por parte de homens e mulheres empobrecidos que se concentraram e passaram a depender do auxílio do Estado que, por meio da distribuição de trigo e da promoção de espetáculos de divertimento levou a cabo a chamada política do “pão e circo”.

O quadro de dificuldades enfrentadas pelo Império evoluiu para a profunda crise caracterizada pela diminuição populacional, pelo quase desaparecimento da indústria artesanal, o acentuado declínio das atividades do comércio acompanhado da generalização da prática de pagamentos em produtos, não mais em moeda – agora profundamente desvalorizada. Além de todos esses elementos tal realidade foi motivada, sobretudo, pela pressão exercida por povos bárbaros.

Nesse cenário de declínio do Império Romano, observou-se a decadência política e militar que desencadeou a insegurança nas cidades e a ruralização da sociedade, quando os grandes proprietários passaram a residir em suas vilas rurais. Essa alternativa tornou viável manter uma produção, sobretudo, de caráter autossuficiente. Para tal, algumas modificações nas relações de trabalho foram necessárias; primeiro mantiveram-se parte dos escravos, no entanto, seus serviços foram mantidos sob um estatuto jurídico mais confortável que lhes proporcionava maiores possibilidades de melhoria de vida. Quanto aos homens livres que se juntassem à comunidade moradora da vila rural caberia, a partir desse momento, ao senhor das terras, proteger esses aldeões que, por sua vez, também possuíam responsabilidades.

Nesse sentido, pouco a pouco, desenvolveu-se o chamado colonato. Antigos escravos, homens e mulheres livres empobrecidos passariam a estabelecer com os grandes latifundiários, uma relação marcada pelo uso da terra. Os trabalhadores ficariam presos a ela, devendo dedicar-se durante alguns dias ao trabalho gratuito e tendo também alguns direitos: o uso de parcelas de terra para produção de consumo próprio e a caça em terras comuns como florestas e bosques.

Império Bizantino

Duas foram as sociedades que no período medieval conseguiram manter uma estrutura duradoura de grandes impérios: a sociedade bizantina e a sociedade muçulmana.

Enquanto na Europa ocidental se acentuava a ruralização e a descentralização do poder, no Oriente do Mediterrâneo, a sociedade bizantina e a sociedade muçulmana se caracterizavam pela existência de um poder centralizado, pelo desenvolvimento de suas cidades, pela grandeza do comércio e por ideologias religiosas que marcavam profundamente a vida dos homens: a fé cristã foi, na sociedade bizantina, o problema mais discutido, o que levou ao surgimento de várias heresias, sendo o próprio Imperador também chefe da Igreja. Na sociedade muçulmana a fé em Alá foi o fator unificador e que impulsionou o povo árabe à guerra de conquista.

Entretanto, as conquistas realmente foram muitas. A expansão muçulmana atingiu o domínio de imenso território, desde a Península Ibérica até a Índia. Na Europa Oriental, a expansão alcançou sua maior extensão no século XV, e isso significou o fim do Império Bizantino: foi quando a cidade de Constantinopla, em 1453, caiu em poder dos turcos otomanos, que desde o século XIII governavam o Império Muçulmano.

A sociedade bizantina, como herdeira do grande Império Romano, assumiu o ideal de grandeza, e seus governantes tudo fizeram para manter e ampliar a estrutura de Império centralizado; todavia, só conseguiram deter as ameaças externas por algum tempo, e o esforço foi tão grande que acabou por provocar a instabilidade interna, tornando-se, assim, vulnerável a dominação estrangeira.

A sociedade árabe foi desde cedo atraída pelo comércio, mas, fragmentadas por inúmeras tribos rivais distribuídas no interior e no litoral da Península Arábica, via-se constantemente convulsionada por lutas internas: foi preciso um ideal religioso para unir o povo árabe e impulsioná-lo à conquista. Era preciso combater para glorificar a mensagem de Alá.

Enquanto o Império Romano do Ocidente, em fins do século V, vítima de suas contradições internas e das migrações bárbaras chegou ao fim, o Império Bizantino sobreviveu até meados do século XV. O Império Bizantino teve origem romana.

Será que persistiram as características romanas?

Nos primeiros momentos, sim, elas predominaram, mas a partir do século VII a predominância étnica e cultura grega e asiática acabaram prevalecendo e caracterizando a Civilização Bizantina. Apesar dos esforços realizados no governo de Justiano no sentido de manter e conservar a herança cultural romana, a Civilização Bizantina sob seus sucessores voltou às suas raízes mais fortes, tornando-se oriental: o Império constituído por populações gregas e orientais helenizadas (sírios, egípcios, judeus, persas) foi perdendo pouco a pouco as características latinas. A partir do século VI abandonou-se o latim, e o grego passou a ser a língua oficial do Império. Acentuava-se assim o distanciamento entre o mundo latino e o mundo Greco-oriental.

No Ocidente, o século V foi marcado pela fragmentação do Império, sob o choque das migrações bárbaras, enquanto o Império Bizantino, apesar de também as ter sofrido, perdendo até, de modo definitivo ou temporário, partes de seu território, conseguiu sobreviver, muitas vezes graças ao pagamento de tributos aos inimigos, o que significou forte opressão fiscal sobre a população do Império.

Enquanto o Ocidente se ruralizava, despovoando-se as cidades e decaindo o comércio, o Império do Oriente manteve-se com características urbanas, com grande desenvolvimento das manufaturas de artigos de luxo e do comércio. Constantinopla, também chamada de Bizâncio, antigo nome grego, tornou-se importante centro de comércio e de cultura.

Constantinopla veio a ser, assim, cidade de grande riqueza, passando a atrair não só comerciantes, mas também artistas, pintores, escultores, arquitetos, etc., que podiam encontrar amplo campo de trabalho nas grandes construções públicas, como as basílicas, que alcançaram extraordinário destaque devido à beleza de suas linhas arquitetônicas e de seus mosaicos e pinturas. Também os estudiosos da Filosofia e Ciências foram atraídos: afinal, as cidades conjugavam elementos bastante favoráveis ao desenvolvimento cultural.

A formação do Império

O Império Bizantino, também conhecido por algum tempo pela denominação de Império Romano do Oriente, ofereceu grande contraste com as sociedades da Europa Ocidental.O Império Romano do Ocidente foi incapaz de resistir às migrações dos germanos e hunos, fragmentando-se em reinos independentes, enquanto o Império Bizantino sobreviveu quinze séculos, recorrendo à guerra e à diplomacia para repelir, desviar ou enquadrar os inúmeros povos invasores que se abateram sobre seus domínios.

As sociedades ocidentais europeias até o século XII tenderam à ruralização e à descentralização do poder político, enquanto a sociedade bizantina manteve-se essencialmente urbana e politicamente subordinada a uma Monarquia Despótica e Teocrática exercida pelo Basileu ou Imperador. O Império Bizantino, contudo, teve origem romana, e os Imperadores do Oriente sempre afirmaram serem os herdeiros de Roma. A crescente decadência e ruralização do Ocidente evidenciaram o contraste com o Oriente, mais rico cultural e economicamente, levando o Imperador Constantino a construir, no Oriente, a cidade de Constantinopla, destinada a ser a nova capital do Império Romano.

Romanização ou Orientalização?

Em seus primeiros tempos, o Império Romano do Oriente conservou nítidas influências romanas, tendo as dinastias Teodosiana, Leonina, e Justiniana mantido o latim como língua oficial do Estado, conservando a estrutura e as denominações das instituições político-administrativas romanas. A predominância étnica e cultural grega e asiática, entretanto, acabaria prevalecendo a partir do século VII.

Nos séculos IV e V, as invasões de vários povos foram desviadas para o Ocidente mediante o emprego das forças das armas, da diplomacia ou pelo pagamento de tributos, meios usados pelos bizantinos durante séculos para sobreviver.

Essas ameaças externas colocaram em perigo a estabilidade do Império Bizantino, internamente convulsionado questões religiosas que também envolviam divergências políticas. É o caso do Monofisismo, doutrina religiosa elaborada por Eutiques (superior de um convento de Constantinopla), centralizada na concepção de que só havia a natureza divina em Cristo.

Embora considerada heresia pelo Concílio de Calcedônia (451) que reafirmou a natureza divina e a natureza humana de Cristo, a doutrina monofisista propagou-se pelas províncias asiáticas (Síria) e africanas (Egito), onde se identificou com aspirações de independência.

No século VI, Bizâncio teve no reinado de Justiniano um dos períodos marcantes: a “primeira idade de ouro”. Empenhado em reagir contra a orientalização do Império e do domínio do Ocidente pelos bárbaros, imprimiu a seu governo duas diretrizes básicas: a consolidação da autoridade imperial e a reconstituição do antigo Império Romano, mantendo o Mar Mediterrâneo como eixo da economia imperial.

Justiniano conservou ou restabeleceu os quadros administrativos romanos em todo o Império. O Direito Romano foi revisado e atualizado, para fortalecer juridicamente as bases do poder imperial e dotar o Estado de um sistema jurídico eficiente. O resultado desse trabalho é conhecido pela denominação de Corpus Juris Civilis. Essa obra é considerada a obra-prima do Direito Romano, e que serve como base aos códigos atuais.

O Império tornou-se Oriental

Ao final do século VI foi marcado pela regressão das fronteiras imperiais. Na Península Italiana, os domínios bizantinos sofreram ataques dos lombardos. Nos Bálcãs, povos eslavos, juntamente com os avaros, começaram a se sedentarizar, continuando novas ondas migratórias a chegar até o século VIII. No Oriente Próximo, a Pérsia Sassânida, empenhada em controlar rotas comerciais de acesso ao Mediterrâneo, reiniciou guerras ofensivas e se apoderaram da Síria, Palestina e Egito.

A grave crise que ameaçou a continuidade do Império exigiu modificações nas instituições imperiais, o que foi realizado pela dinastia Heráclida ou Heracliana (610-717).

O costume de conceder terras a particulares em troca da prestação do serviço militar foi então iniciado e mantido até o século XI. A concessão era hereditária e obrigava um dos membros da família ao serviço militar.

A reorganização do Estado também atingiu a administração, que foi estruturada em bases militares: criaram-se os Temas (subdivisões administrativas que dispunham de tropas para a defesa) submetidos aos Estrátegas (governantes dispondo de poderes militares e civis) de grande importância foi o emprego do fogo grego, arremessado de tubos munidos de propulsores. Ao explodir, o projétil espalhava um líquido inflamado, pois era feito à base de derivado de petróleo (nafta). Graças ao seu emprego, vários combates foram vencidos pelos exércitos e frotas bizantinas. Essas e outras medidas detiveram a desintegração do Império, territorialmente diminuído e com uma população predominantemente grega e asiática.

O embasamento grego e asiático tinha suas raízes nos primórdios de Bizâncio e, apesar da influência romana e ocidental, acabou impondo-se e caracterizando a Civilização Bizantina.

Foi grega e asiática a religião cristã que se desenvolveu em Bizâncio, com características bem distintas do Cristianismo romano e ocidental: esse se voltou mais para a organização da Igreja e para a conversão dos pagãos, enquanto aquele teve no monarquismo e nas controvérsias teológicas aspectos marcantes. Foi grega e asiática a estrutura econômica que se manteve por longo tempo no Império Bizantino, cuja prosperidade contrastou, por séculos, com as regiões ocidentais do antigo Império Romano. Ainda que a agricultura até o século XI apresentasse uma gradual transformação para o modo de produção feudal, como ocorria na Europa Ocidental, a transição do escravismo ao feudalismo foi mais lenta. Além do mais, o Império Bizantino incluía em seus limites, embora em regiões da periferia, áreas com uma infraestrutura fundamentada no modo de produção asiático, como foi o caso da Síria, da Palestina e do Egito, incorporados ao Império Árabe, no século VII.

Grega e asiática era a tradição urbana do Império Bizantino, que tinha no artesanato (refinado e submetido a rígido controle do Estado) e no comércio (monopólio do Estado durante séculos) duas importantes fontes de riquezas.

A Questão Iconoclasta

No século VIII, tendo os árabes avançado a Ásia menor, preparando a tomada de Constantinopla, subiu ao poder uma nova dinastia, de origem asiática: Isáurica. Seu fundador foi Leão III, cujo reinado, juntamente com o do seu filho e sucessor Constantino V, caracterizou-se pela contraofensiva contra os Omíada, frustrados no ataque terrestre e naval contra Constantinopla em 717 e rechaçada da Ásia Menor pelos Bizantinos.

O período, no entanto, teve como aspecto marcante a Questão Iconoclasta, de profundas implicações, inclusive externas. No Império Bizantino as influências helenísticas e orientais resultaram na estreita ligação entre a Igreja e Estado, concretizada no Cesaropapismo: ao Basileu cabia a chefia da Igreja e do Estado. Tal situação funcionava como arma de dois gumes: na condição de protetor da Igreja poderia gerir seus bens e preencher os cargos eclesiásticos, o que reforçava o poder imperial; em contrapartida, as reações à ortodoxia religiosa refletiam resistências de oposições ao poder central, que transformavam controvérsias religiosas em problemas políticos decorrentes de contradições socioeconômicas, como se deu com a Questão Iconoclasta.

Só podemos entender a Questão Iconoclasta enquadrando-a no contexto da transição do escravismo ao feudalismo. Com efeito, os ícones eram as imagens, pequenas ou grandes, representando pessoas santificadas ou o próprio Cristo; feitos nos mais diversos materiais incorporaram-se às cerimônias de culto da sociedade bizantina. Entre os principais produtores de ícones encontravam-se os monges que obtinham grandes lucros com a venda de imagens. Essas riquezas reforçavam ainda mais o poderio dos monges, cujas ordens possuíam grandes propriedades isenta de tributos. Exerciam grande influência na sociedade e constituíam uma ameaça ao poder central porque representavam o avanço da feudalização.

É certo que o culto das imagens era visto por muitos, sobretudo os asiáticos, como idolatria, os quais defendiam concepções mais espiritualizadas da religião, onde não haveria práticas supersticiosas, como queimar incenso, iluminar círios, crenças em relíquias ou culto de imagens.

Leão III, de origem asiática, foi quem determinou a proibição do culto de imagens e sua destruição – ou iconoclastia – medida que atingiu ainda outras práticas consideradas pagãs em 726. O objetivo visado era enfraquecer o poder dos monges que reagiram provocando revoltas contra o Basileu. A crise interna aprofundou-se quando os monges obtiveram o apoio das populações, da maioria do clero que consideravam a destruição de imagens um sacrilégio e uma heresia.

Sustentado pelo exército, cujos soldados eram na maioria de origem asiática, Leão III determinou o confisco de bens dos mosteiros e a redistribuição das terras entre os soldados, prosseguindo a política de reação do poder central contra os setores feudais. Embora fossem reprimidas as sublevações provocadas pelos monges e mantidas as expropriações de seus bens, a Questão complicou-se porque o Papado considerou herética a destruição dos ícones e condenou as demais medidas contra os monges.

Apesar disso, Leão III e seus sucessores mantiveram-se firmes na política adotada contra o culto de ícones. A Questão Iconoclasta serviu, no entanto, para aprofundar divergências com o Papado, que acabou se aproximando dos francos e coroando Imperador a Carlos Magno, o que politicamente representou um desprestígio para os Imperadores bizantinos, face à criação do Novo Império Romano do Ocidente em 800. Além do mais, a crise interna do Império Bizantino impossibilitou o envio de ajuda militar à Península Italiana, onde o Exarcado de Ravena e demais províncias bizantinas foram conquistadas pelos lombardos.

No século IX, a Basilissa Teodora revogou as leis iconoclastas e restabeleceu o culto das imagens em 842. Novamente o poder dos monges voltou a crescer, como se evidencia no depoimento do Basileu Nicéforo Focas (963-969) “Os monges não possuem nenhuma das virtudes evangélicas; não pensam senão na aquisição de terra, na ereção de enormes edifícios e na compra de grande número de cavalos, bois, camelos de todos os tipos de criação. Dedicam todas as energias ao próprio enriquecimento, de sorte que a vida deles em nada difere das pessoas que vivem no mundo”.

Auge e Decadência

Os séculos IX e X constituíram um dos períodos de apogeu da sociedade bizantina, a segunda idade de ouro, e que correspondeu ao governo da dinastia Macedônica (867-1056). Desenvolveu-se uma política externa expansionista, os imperadores Macedônicos reconquistaram ilhas do Mediterrâneo Oriental e regiões da Itália Meridional, como a Sicília, que era importante celeiro de trigo. Nos Bálcãs, os búlgaros foram submetidos definitivamente, tendo a conversão dos húngaros e russos ao Cristianismo ampliado a influência cultural e a área de ação comercial bizantina.

A conversão dos povos eslavos e a prosperidade do Império Bizantino realçaram o prestígio e a importância do Patriarca de Constantinopla, que se considerava o supremo dirigente da cristandade, não aceitando a teoria da supremacia do poder pontifical.

Desde a extinção do Império Romano do Ocidente, assim como os Imperadores bizantinos afirmavam sua condição de herdeiros de Roma, os Patriarcas apregoavam sua primazia na direção da Igreja. Essa divergência levara a frequentes atritos entre o Papado e os Patriarcas, ocasionando rompimento entre a Igreja Cristã Oriental, como se verificou com a Questão Iconoclasta.

O Cristianismo, em sua evolução, assumiu características diferentes na Europa Ocidental e em áreas do Império Bizantino, seja no ritual Oriental (celebrado em grego), seja na disciplina (a subordinação da Igreja ao Estado bizantino) e nas crenças (rejeição do Purgatório pelos orientais).

A cisão seria inevitável e se deu quando o Papa Leão IX e o Patriarca Miguel Cerulário entraram em conflito a respeito da jurisdição sobre dioceses da Itália Meridional, excomungando-se mutuamente. Não se acreditava que a ruptura fosse definitiva, mas a intransigência do Patriarca e do Papa – explicável porque a questão envolvia interesses econômicos relativos à arrecadação das rendas daquelas dioceses e interesses políticos antagônicos sobre a direção suprema da cristandade – consumou o Cisma do Oriente, em virtude do qual se criaram duas Igrejas: a Igreja Cristã Ortodoxa Grega, subordinada ao Patriarcado de Constantinopla, e a Igreja Católica Apostólica Romana, dirigida pelo Papado (1054).

A prosperidade alcançada deveu-se, sobretudo, às riquezas acumuladas com os rendimentos da terra, da indústria artesanal – intensamente desenvolvida era a produção de artigos de luxo nas oficinas estatais – e do comércio. A atividade mercantil estava submetida ao controle do Estado e, apesar dos ataques árabes, manteve-se florescente, funcionando Constantinopla como intermediária entre o Extremo Oriente e o Ocidente: através da “rota da seda”, que atravessara toda a Ásia Central, fluíam especiarias, perfumes, seda, pedras preciosas etc., que chegados ao Mar Negro, eram transportadas pelas embarcações bizantinas aos portos do Mediterrâneo. As cidades italianas, em especial Veneza, redistribuíram aquelas mercadorias pela Europa Ocidental. Constantinopla foi também importante centro financeiro, onde cambistas permutavam moedas das mais diversas procedências trazidas pelos mercadores estrangeiros.

A Cultura Bizantina

A Civilização Bizantina exerceu profunda influência sobre as sociedades medievais, particularmente sobre as sociedades eslavas, às quais transmitiu muitas de suas instituições político-jurídicas e realizações culturais. Em sua prolongada existência, a sociedade bizantina fundiu elementos culturais latinos, gregos e asiáticos, condicionados pelo Cristianismo, criando uma civilização marcada pela originalidade.

A arte expressou-se particularmente na edificação de igrejas, mosteiros e palácios, refletindo a sua subordinação à religião e ao Estado. Das construções civis (palácios, aquedutos etc.) quase nada restou, mas não ocorreu o mesmo com os templos, muitos dos quais sobreviveram até hoje.

As igrejas bizantinas apresentavam construções de abóbodas múltiplas e formas variadas, (planos quadrados, octogonais, em cruz grega etc.) mas sua originalidade estava no emprego de cúpulas e na singeleza do exterior, contrastando com a suntuosidade da decoração interior, onde sobressaíam os mosaicos dos vitrais, paredes e tetos. O templo mais famoso é a Basílica de Santa Sofia, em Constantinopla, com monumental cúpula sobreposta a uma construção quadrada.

A pintura, essencialmente decorativa, manifestou-se em afrescos representando santos e anjos, os dirigentes, etc., cujas figuras geralmente são estáticas e com fisionomias que apresentam linhas de sofrimento, benevolência e misticismo. A escultura foi igualmente decorativa. Baixos relevos de construções, trabalhos em marfim e ícones constituíram as formas mais desenvolvidas.

A atividade literária, realizada inicialmente em latim e depois em grego, teve uma produção rica em variedade, qualidade e quantidade. Escritos em prosa ou verso, os manuscritos frequentemente eram ilustrados com iluminuras, em que os artistas davam asas à imaginação para a concretização da ilustração, ou subordinavam-se à rígida e severa orientação da Igreja. Predominaram as composições de conteúdo religioso: hinos sacros, assuntos de Teologia, vida de santos etc. embora tendendo a imitar os clássicos Greco- romanos, a literatura profana exprimiu-se nos mais variados gêneros, como a poesia epigramática e a poesia lírica, tratados sobre diplomacia e técnicas de guerra, enciclopédias, narrativas de viagens, romances épicos e narrativas históricas.

Nascimento e Expansão da Civilização Muçulmana

Nesta videoaula o professor Waldech fala da civilização Árabe e sua cultura, da religião islâmica e sua influência no Islamismo, princípios básicos do Islamismo, grupos que formam o povo Árabe (Sunitas e Xiitas).

O professor aborda sobre a formação do Império Islâmico e as fases da expansão Árabe, Islamismo atual, o Alcorão livro sagrado dos muçulmanos, declínio do Império muçulmano, nascimento e expansão da civilização muçulmana, sua cultura e a contribuição para o tempo moderno.

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  • Civilização Bizantina

Civilização Bizantina

O professor Waldech nesta vídeoaula fala de Constantinopla, a mescla de elementos culturais e porque os costumes greco-romanos foram preservados pelo Império Bizantino, a era do governo Justiniano, as condições sociais, e aborda o porque houve a revolta de Nika e como começou, explica o significado de Cesaropapismo.

Ele aborda também sobre a economia, sociedade e o comércio Bizantino e como o governo controlava as atividades econômicas e artesanais. Faz uma explanação de como a religião e cultura em Constantinopla influenciou a cultura Bizantina e alguns aspectos dessa cultura, a crise do Império e as principais consequências da conquista de Constantinopla pelos turcos e ainda apresenta um pequeno vídeo que retrata a arte Bizantina.

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Conhecimento

Compreender o feudalismo na história medieval e suas consequências neste momento histórico.

Habilidade

Reconhecer o feudalismo enquanto um sistema político, econômico e social presente na Idade Média.

Atitude

Argumentar sobre as esferas: política, econômica e social presentes no feudalismo.

Que atividades econômicas era favorecidas pela localização de Constantinopla?

Feudalismo e Baixa Idade Média

A Idade Média é formalmente dividida em duas fases distintas: a Alta Idade Média (séculos V ao X) onde se aponta as origens do chamado feudalismo e Baixa Idade Média (séculos XI ao XV), em que se analisa a consolidação e crise do sistema feudal. Como se observa, em geral, a Idade Média é sumariamente caracterizada por um sistema político, econômico e social denominado feudalismo.

Hoje em dia, a historiografia busca fazer uma análise deste período histórico de modo a evidenciar que se trata de um momento bastante complexo, dificilmente apreendido quando voltamos nossas atenções para um único elemento, no caso, o feudalismo. Como já acompanhamos esse debate na primeira unidade de estudo, vejamos agora algumas considerações a respeito do mesmo sobre o feudalismo. Ao longo dos séculos XVIII, XIX, XX e até os dias de hoje, o estudo da Idade Média passou por transformações diversas.

Até o início do século XVIII, a palavra ‘feudal’ - que em sua forma latina remonta ao próprio período da Idade Média - conservava um valor estritamente jurídico. O feudo era tido como um “modo de posse de bens reais” e ‘feudal’ relacionava-se não apenas ao feudo propriamente, mas também aos encargos decorrentes deste tipo de posse.

Posteriormente, durante a monarquia absolutista, a expressão que denominava o aspecto jurídico, passa a incorporar um conteúdo político. Com isso, passa-se a enfatizar como principais características do âmbito feudal os vários aspectos relativos à fragmentação da soberania.

Mais tarde, a partir dos estudos e conceitos desenvolvidos por Karl Marx e Friedrich Engels, entre 1845 e 1846, o período medieval passa a ser visto pelos historiadores marxistas como um modo de produção, o chamado “modo de produção feudal”. Este modo de perceber o feudalismo como fenômeno histórico implicava num entendimento em que a expressão “feudal” incorporasse também um conteúdo econômico, referindo-se não apenas à organização política e às relações pessoais estabelecidas entre os homens pertencentes às classes dominantes, mas também à própria maneira como estes sujeitavam uma população mais ampla para a organização de uma produção agrícola da qual todos dependiam para a sua subsistência. Assim, as relações verticais entre senhores e servos e todo um complexo sistema de trabalho e propriedade passavam a figurar o “modo de produção feudal”. Este incluía assim, tanto um sistema senhorial de exploração econômico-social, como o conjunto de mecanismos feudo-vassálicos por onde se organizava a hierarquia. Portanto, entendia-se o feudalismo como um sistema que abrangia ao mesmo tempo os aspectos econômicos, sociais e políticos.

Nesse conceito marxista, o papel da igreja e do corpo clerical poderia ser considerado como parte integrante do sistema global descrito. Este conceito de modo de produção feudal expandiu-se logo para setores historiográficos, não necessariamente marxistas, dominando a grade de conhecimentos que se divulgava sobre a Idade Média e o Feudalismo.

Posteriormente, a necessidade de separar o que era o sistema de exploração da propriedade e do trabalho e o que era o sistema de suserania e vassalagem levou a uma nova percepção sobre o tema. Historiadores modernos, por sua vez, deram-lhes um conteúdo muito mais complexo e mais rico, de natureza mais social e antropológica do que jurídica.

Para deixar essa abordagem excessivamente jurídica, foi preciso ampliar o estudo das fontes, consultar tudo aquilo que os historiadores não liam no século XX, como por exemplo, manuais de confissão, teologia prática, contas comerciais, enfim, registros que deixam ver uma Idade Média bem diferente.

Para compreendermos melhor a discussão exposta acima trataremos a seguir de algumas características deste tipo de organização sócio-econômico-político medieval para, posteriormente, abordarmos as questões culturais de igual importância que podem ser localizadas historicamente no período em que se deram as relações feudais.

Graças à fragilidade dos poderes centrais e às constantes guerras e ameaças vindas do exterior a figura do senhor ou proprietário de terra – chamados feudos - se sobressaiu no período medieval. Sua principal posse era a terra, também chamada de feudo, podendo ou não conter em suas terras castelos fortificados. Este senhor, também denominado suserano, dispunha também de um grupo de vassalos, homens armados que o acompanhavam em irrupções militares. Quando o senhor de terras concedia parte delas para outros nobres, estes também eram considerados seus vassalos, caso este concedesse uma pequena parte dessa propriedade a um terceiro homem, esse se consideraria vassalo, configurando assim, uma rede de dependência pessoal e de poder fragmentado que seriam características do período. Estes laços de dependência, inclusive, poderiam ser consolidados por meio de cerimônias em que o vassalo jurava sua lealdade ao senhor feudal.

A economia era basicamente agrícola e de caráter autossuficiente. As relações de produção ou relações de servidão deste período foram marcadas, sobretudo, pela subordinação jurídica da maioria pobre dos camponeses, sejam eles livres ou escravos, aos senhores feudais. Estes trabalhadores eram obrigados a cultivar as reservas senhoriais e a conceder ao suserano uma parte da sua produção cultivada na parcela de terra ofertada pelo senhor para esse fim.

Dentre as obrigações dos servos, estavam:

  • Talha: imposto pago sobre a produção no manso servil;
  • Corveia: trabalho compulsório nas reservas senhoriais;
  • Banalidades: imposto pago pelo uso de instalações pertencentes ao senhor, como forno e moinho.

Acredita-se que mais de 90% da população vivia no campo dedicando-se ao serviço rural, porém muitas vezes eram mobilizados para compor tropas empregadas em emboscadas, vinganças, pilhagens e etc.; militarização relativamente comum num momento em que a população empobrecida estava a mercê das vontades do senhor feudal, um verdadeiro proprietário-guerreiro.

Quanto à cultura, a vida no período feudal era marcada pela cômica popular de vários milênios, possuindo dimensões e características originais. Este aspecto cômico estava relacionado com o riso, a paródia e o escárnio, compondo uma realidade que contrasta com a impressão difundida de “trevas” e sofrimento ligados ao período feudal. O mundo das formas e manifestações do riso opunha-se à cultura oficial, a seriedade, ao religioso da época feudal.

Dentro da sua diversidade, essas formas e manifestações da cultura popular contavam com festas públicas carnavalescas, ritos e cultos cômicos especiais, bufões e tolos, gigantes, anões e monstros. Estas manifestações podem parecer desconexas, no entanto, estão ligadas por uma unidade de estilo e constituem partes e parcelas da cultura cômica popular, principalmente da cultura carnavalesca.

Os festejos do carnaval ocupavam um lugar muito importante na vida do homem medieval. Esta festa era composta por atos e ritos cômicos e eram acompanhados de atos e procissões que enchiam as praças e as ruas durante dias inteiros. Além disso, quase todas as festas religiosas possuíam um aspecto cômico popular, consagrado também pela tradição. Era o caso, por exemplo, das “festas do templo”, habitualmente acompanhadas de feiras com seu rico cortejo de festejos públicos.

Todos esses ritos e espetáculos organizados à maneira cômica apresentavam uma diferença notável em relação às formas do culto e às cerimônias oficiais sérias da igreja ou do estado feudal. Ofereciam uma visão de mundo do homem e das relações humanas totalmente diferentes, exteriores à igreja e ao estado. Eram, portanto, construídas ao lado do mundo oficial e expressavam a vida dos homens e mulheres da Idade Média.

Ao longo dos séculos esse caráter cômico das festas e da vida popular passou a ser menos evidente nas festas e ritos. Quando se estabeleceu o regime de classes e de Estado as formas cômicas adquiriram ainda mais, um caráter não oficial.

Comércio no início da Idade Média

Como já foi dito, o sistema feudal se constituiu por volta do século X e até o século XIV teve seu período de apogeu. Embora a base da economia feudal fosse, sem dúvidas, a atividade agrária, ao contrário do que se imaginou por muitos anos, o comércio e o artesanato continuaram a existir por todo o período da Idade Média.

A Europa, no início da idade feudal, não vivia concentrada sobre si mesma e existiam várias vias de trocas por mar, onde as distâncias eram vencidas com maior velocidade que por terra. Tais correntes de trocas eram estabelecidas entre a Europa e as civilizações que a circundavam e a mais ativa era, provavelmente, a estabelecida entre à Espanha mulçumana e o norte dos Pirineus. Quanto ao mediterrâneo ocidental, nele não havia navegações de longo curso e incursões desse tipo só existiriam no final da Idade Média.

Por terra, a rota do Rio Danúbio merecia destaque e nela circulavam carregadores e caravanas inteiras. O comércio concentrava-se num número pequeno de linhas e estava, no início da Idade Média, bastante enfraquecido. Nesse período é reconhecida a existência de mercados onde os camponeses vendiam alguns dos produtos e essa venda era direcionada a clérigos, homens de armas e à população que habitava as cidades.

Também por terra, agiam os vendedores e mercadores ambulantes que, indo de vila em vila, visitando os mais distantes locais, vendiam mercadorias diversas, afinal, era difícil estabelecer pontos de venda fixos já que havia bastante dificuldade em encontrar aglomerada num mesmo local uma clientela suficiente para lhe assegurar os lucros.

Assim, é aceitável dizer que num primeiro momento, o comércio da Idade Medieval era, em geral, de nível interior, de pequeno porte e desenvolvido entre pequenas distâncias, realidade favorecida pela insuficiência das colheitas devido a pouca técnica agrícola, às dificuldades de transporte e comunicação, às intempéries e às perturbações sociais. É importante afirmarmos ainda que a sociedade medieval não desconhecia a compra nem a venda, mas não tinha sua vida mediada por essas atividades. O comércio, ainda que sob a forma de trocas, era um canal viável de circulação de bens, mas não era o único nem o mais importante. A prestação de serviços era a atividade que ocupava o lugar mais privilegiado na vida econômica feudal.

No que diz respeito ao uso da moeda, é possível afirmar que esta nunca esteve totalmente ausente das transações, mesmo nas classes camponesas e sempre desempenhou papel de padrão nas trocas. Para esse momento histórico, caberia falar de “carência monetária” e não de inexistência monetária visto que a circulação era a dificuldade que mais existia. Uma das dificuldades da ampliação dessa circulação era a situação anárquica da cunhagem das moedas, elemento facilmente localizável num contexto de fragmentação política.

Feudalismo: Sociedade e Economia

O professor Waldech César, nesta vídeoaula faz uma explanação sobre o conceito de Idade Média, a Alta Idade Média, a formação do feudalismo, suas características, a composição da sociedade feudal, economia feudal, sociedade estamental, bem como as obrigações devidas ao servo e a família.

Conhecimento

Compreender a importância do comércio no desenvolvimento econômico durante a Idade Média.

Habilidade

Reconhecer a conjuntura histórica que permitiu o desenvolvimento das cidades na Idade Média;
Identificar as transformações econômicas e sociais presentes na Idade Média.

Atitude

Posicionar-se criticamente com as transformações econômicas e sociais na Idade Média.

Que atividades econômicas era favorecidas pela localização de Constantinopla?

Expansão Comercial

Num segundo momento, a partir o século XI, o impulso comercial foi revigorado. A aproximação dos grupos humanos foi, sem dúvida, um fator importante para ao aumento populacional e o desenvolvimento de novos poderes e interesse. A ampliação das ligações com civilizações próximas deu início a um comércio de maior vulto elevando antigos entrepostos à categoria de grandes centros comerciais.

Neste mesmo período, as relações com o Oriente também se transformaram fazendo com que diversas partes da Europa Medieval saíssem da função de importador para desempenhar o papel de exportador de produtos manufaturados, onde se destaca o comércio de tecidos. O aumento da produção no campo merece destaque como elemento facilitador das mudanças ocorridas por volta do século XI, pois seriam esses produtos, cultivados em maior escala, os responsáveis pelo abastecimento da população que habitava, cada vez mais, as cidades; sujeitos que comporiam as crescentes classes artesãs e de mercadores responsáveis, por sua vez, pelo aumento das atividades de produção de artigos e sua compra e venda num comércio mais dinâmico.

Outro importante fator de propulsão das atividades comerciais foram as cruzadas. Essas incursões representaram significativo papel no processo de articulação comercial entre a Europa e a Ásia através do Mediterrâneo que até esse momento não era usado como importante rota comercial. Além de fomentar as trocas culturais com as civilizações bizantinas e mulçumanas contribuindo para que novos costumes, hábitos e produtos (tanto os de luxo como armamentos e especiarias) fossem conhecidos e compartilhados.

Ao todo, foram realizadas oito cruzadas entre os séculos XII e XIII. Organizadas pela cristandade, essas verdadeiras expedições militares tinham a finalidade primeira de libertar a cidade de Jerusalém, localizada no Oriente Médio, do julgo dos povos turcos mulçumanos. A importância da cidade era evidente para os cristãos, pois lá havia nascido o filho de Deus, Jesus Cristo, sendo então um verdadeiro símbolo da fé cristã.

Mesmo não tendo atingido plenamente seus objetivos, o advento das cruzadas representou uma verdadeira demonstração de força do mundo cristão, impulsionando, inclusive, a reconquista da Península Ibérica, então dominada pelos mulçumanos.

O Ressurgimento da Vida Urbana

Assim como o comércio, as cidades também não desapareceram totalmente durante a Alta Idade Média, embora seu número e funções tenham declinado de forma acentuada.

Para as necessidades dos habitantes do castelo, começaram a afluir diante de sua porta, junto a ponte, negociantes, depois taberneiros e hoteleiros. Tantos habitantes aí acorreram que em breve nasceu uma cidade, a qual, ainda hoje, conserva o seu nome de ponte (‘Brugghé’). JEAN LE LONG, 1977.

Ao longo do século XI, concomitantemente as mudanças já comentadas, o número de cidades se multiplicou. As razões para tal transformação passam pelo já mencionado aumento populacional. Veja abaixo a tabela representando o crescimento populacional na Europa no período medieval.

Tabela 1 – Crescimento Populacional na Europa no período medieval

CRESCIMENTO POPULACIONAL
Ano Habitantes da Europa Medieval
1.050 46 milhões
1.100 48 milhões
1.151 50 milhões
1.200 61 milhões
1.300 74 milhões

Fonte: SILVA, Francisco. C. T. da. Sociedade Feudal – Guerreiros, sacerdotes e trabalhadores. São Paulo: Brasiliense, 1982, p. 43.

A população que se estabeleceu nesses núcleos urbanos era formada por mercadores, tecelões, artesãos, aprendizes, trabalhadores assalariados e camponeses saídos das áreas rurais, e preferiam se estabelecer nas cidades, que eram pontos estratégicos. Estes sujeitos desempenhavam várias funções e ofícios, entre eles se destacava a produção de artesanato.

O desenvolvimento do artesanato verificou-se com a maior especialização do trabalho. Nas cidades, o núcleo de produção manufatureira era a chamada oficina, estabelecimento de propriedade de um mestre-artesão que ensinava o aprendiz, pessoa interessada em aprender um ofício para, quem sabe, ter sua própria oficina.

Com o objetivo de preservar a exclusividade da produção, regulando com maior facilidade os preços e os usos de matérias-primas, os mestres-artesãos se reuniam em corporações de ofícios. Estas corporações possuíam seus santos padroeiros e tinham o caráter assistencialista, ou seja, os membros se ajudavam e apoiavam em diversos segmentos da vida cotidiana.

Com o crescimento das atividades comerciais e o aquecimento da rotina urbana a vida na sociedade medieval se transformou de maneira radical. As cidades medievais contavam, no caso das maiores, com cerca de 25 mil habitantes, bem pequenas se compararmos com as grandes metrópoles do dias de hoje. Porém, sua função na economia medieval passou a ser, ao longo dos séculos, bastante relevante, sobretudo para motivar outro importante ponto do ressurgimento da vida urbana; as feiras.

As feiras eram realizadas ao longo do ano. Suas atividades destacaram-se como imprescindíveis para a criação de centros comerciais, verdadeiros pontos de encontro de negociantes, compradores ou simples curiosos do movimento. A partir delas, intensificaram-se os volumes de vendas e compras, bem como o uso de moedas.

Acompanhando e fomentando esse crescimento urbano e comercial, verificou-se o nascimento de uma nova e importante classe social, a burguesia, denominação derivada da palavra burgo, que significa castelo fortificado. Com o passar do tempo, o termo burguês passou a referir-se somente a grandes mercadores, banqueiros e mestres; distinção explicada pela ascensão rápida dos sujeitos que compunham essa classe e que possuíam um rico modo de vida e contrastava com a profunda miséria da maioria da população.

Por fim, é preciso deixar claro que as diferenças sociais existentes entre as classes ricas e pobres não eram simplesmente aceitas pelos mais fracos, que por diversas vezes reagiam aos abusos cometidos pelos mais poderosos, sobretudo, no perímetro urbano. Diante do aumento comum dos tributos, da alta dos preços das mercadorias, principalmente, dos gêneros alimentícios e arbitrariedades judiciais, os mais pobres promoviam pequenas ações em busca de melhores condições de vida. Com a diminuição das rendas dos senhores feudais em função das diminuições periódicas da produção, os mesmos aumentavam a carga de trabalho e tributo sobre os camponeses que fugiam para as cidades, cobravam direitos e usos por meio do direito consuetudinário e promoviam revoltas armadas, conduta também empregada pelos habitantes em descontentamento nas cidades, chamados “movimento comunal” (originário das cidades, seu objetivo era maior autonomia em relação a nobres e clérigos, buscando uma vida urbana em comuna, ou seja, livre).

As revoltas camponesas ocorridas no século XIV ficaram bastante conhecidas ao longo do tempo e foram denominadas Jacqueries (derivada da palavra Jacques, nome dado pelos nobres e senhores aos camponeses). Em 1358, por exemplo, camponeses e pobres urbanos da França se uniram contra os nobres, chegando a destruir castelos e matando nobres e senhores. A repressão a essa rebelião foi dura e cerca de 20 mil camponeses foram assassinados. O resultado do aumento das insurreições camponesas foi o próprio colapso do feudalismo. O trabalho servil declinou com a ampliação dos pagamentos em dinheiro; assim como o trabalhador da cidade, o camponês passou a receber pagamentos em dinheiro e a pagar o uso das terras em moeda ao invés de serviços, pondo em questão também os chamados laços de lealdade que antes uniam senhores e vassalos.

O quadro conflituoso e de diferenças enormes entre o modos de vida de nobres e camponeses compunham a realidade medieval, porém, nem mesmo nos momentos mais conflituosos a sociedade medieval rejeitou todo e qualquer saber intelectual. Havia grande interesse e investimento em cultura por parte de algumas grandes famílias reais. O analfabetismo, no entanto, imperava até mesmo entre os abastados. A maioria dos médios e pequenos senhores detinham muitos poderes, mas não sabiam ler, escrever e, nem mesmo, assinar o próprio nome.

A situação de precariedade instrutiva explica, em parte, o importante papel desempenhado pelos clérigos que exerciam as funções de intérpretes do pensamento e guardiões das tradições políticas ajudando a manter laços políticos mais largos diante de conflitos, inclusive os de cunho pessoal. Mesmo assim, o leigo, ou seja, o não religioso era um elemento ativo na sociedade do período, não sendo totalmente dominado pelos religiosos.

O papel dos religiosos na sociedade feudal era de suma importância. Com a fragmentação política que se seguiu ao colapso do Império Romano do Ocidente e no ambiente de insegurança durante a Alta Idade Média, a Igreja se destacou como a única instituição realmente estável e constante do período.

Contando com uma hierarquia precisamente organizada, beneficiada pelas constantes doações de fiéis, sendo isenta das obrigações tributárias e exercendo um quase monopólio do conhecimento formal, a Igreja Católica multiplicou suas posses e sua influência no mundo feudal, sendo credora e conselheira de reis, mercadores, banqueiros, nobres, cavaleiros e camponeses. Enfim, era reconhecida infalível influenciando todos os setores componentes do sistema feudal e ter o apoio desta instituição significava contar com as bênçãos de Deus, elemento indispensável a qualquer um que desejasse manter ou justificar seus poderes e decisões. Tais ideias se mantiveram firmes por toda a Alta Idade Média.

A cultura medieval cristã foi, sem dúvidass, um ponto mais que relevante para a composição do legado medieval. As obras elaboradas por clérigos ou por pensadores ligados à Igreja abordaram diversas áreas do conhecimento, influenciando durante séculos o modo de pensar e de agir das pessoas por todo o mundo. Foram obras de educação, teatro, filosofia, teologia e cultura popular da época, entre outras. Um dos maiores elementos do patrimônio medieval é, sem dúvida, a obra de Santo Tomás de Aquino.

Ao longo da Idade Média a Igreja procurou reafirmar seu poder de diversas maneiras, a mais eficiente era a justificativa teológica e a jurídica. A obra desse grande pensador deu base a boa parte do pensamento religioso e filosófico do período, sendo estudada até hoje. Seus escritos, inclusive, podem ser tratados como fontes históricas, pois dão a ver boa parte da Idade Média, principalmente, no que se refere à cultura e a educação medievais que, como se sabe, estão centradas na religião.

Quanto ao argumento jurídico a Igreja se valeu, principalmente, do documento chamado “Doação de Constantino” no qual o Imperador teria outorgado autoridade suprema à Igreja, farsa descoberta no século XV. Durante o século XI, os principais conflitos entre Igreja e Império pela obtenção de poder, atingiu um nível superior com a chamada “questão das investiduras”, quando o Império Germânico tentou exercer pressão no poder da Igreja. Outros conflitos ocorreram deste momento em diante. Em fins da Idade Média, com a afirmação do nacionalismo, os monarcas se tornaram mais poderosos e as pretensões universalistas da Igreja entraram em conflito com o emergente poder nacional debilitando cada vez mais o domínio da Igreja no mundo.

Papel do Diabo, das Feiticeiras e Hereges no imaginário Medieval

Durante os séculos XIV e XV, observamos uma Europa marcada por crises. Esse período é considerado pela historiografia como de grande excitação sócio espiritual, quando homens e mulheres passaram a vivenciar o medo de forma peculiar ante o surgimento de incontáveis aflições, diante da insegurança causada pelo clima constante de guerras e invasões, pela existência de longos períodos invernosos e de diversas epidemias, em especial da chamada “peste negra”. Cenário problemático explicado, sobretudo, pelos argumentos da fé e da cultura popular.

Acompanhando esse ambiente de insegurança, disseminaram-se as versões de leituras apocalípticas, seguidas de um verdadeiro temor a respeito do Juízo Final e com as preocupações relacionadas aos aspectos morais da vida ligados ao discernimento do que era pecado ou não, elegendo os escolhidos do paraíso.

O medo do fim do mundo, somado ao contexto histórico duvidoso, promoveu a figura horrenda do Anticristo na Cristandade Ocidental, ideia disseminada de muitas formas, entre elas, a dos pregadores itinerantes, o teatro religioso e as gravuras. À medida que as representações do Diabo, ou anticristo, ganhavam lugar no cotidiano das pessoas, o medo diante da possibilidade de perecer no dia do juízo final motivava a fé na Igreja Católica, instituição gabaritada para oferecer os caminhos da salvação.

As origens do demônio Medieval devem ser consideradas como um fenômeno de caráter essencialmente histórico. A compreensão da construção da figura do demônio nos conduz à tradição religiosa hebraica, a qual produziu o arquétipo do Grande Inimigo, constituído através da evolução histórica. À medida que marchamos para um monoteísmo de caráter absoluto verificamos o esboço do demônio como ente real.

Assim, Deus e o demônio justificavam-se mutuamente, e ambos eram onipresentes. O âmago religioso era a luta eterna entre o Bem e o Mal. O demônio constituía um símbolo de complementaridade a Deus.

Deste modo, no início da Idade Média o mundo religioso passa então a ser povoado de dois reinos, o de Cristo e o do demônio. No século XIV, o diabólico reveste-se de toda desumanidade e maldade.

O oponente de Deus é inimigo número um da humanidade, passou assim a ser entendido como aquele que corrompe, explora e deixa os homens loucos tentando arrebatar o maior número possível de almas; sua principal representante na terra era a mulher que, desde a mitologia grega, foi quem disseminou a maldade e o pecado.

Outros medos se espalharam de forma peculiar no período e seus agentes foram, diversas vezes, relacionados à figura do Diabo: os muçulmanos, os hereges e os judeus. Esses grupos simbolizavam no imaginário medieval os representantes do demônio, sendo todos historicamente vinculados ao mal, contribuindo ao longo dos anos para a formação do que seria a Bruxaria demoníaca.

A figura do muçulmano foi apontada como símbolo das forças da escuridão e, em toda a Europa, diante do constante avanço muçulmano nos séculos XIV e XV verificou-se que a população em geral e, especialmente os clérigos, experimentava terror em relação aos avanços otomanos no continente europeu.

Ao lado do temor da figura dos muçulmanos temos a presença dos hereges como figura complementar da comitiva infernal. Segundo definições de Franco Júnior (2001), heresia é uma “escolha”, e se refere às interpretações e práticas religiosas contrárias àquelas declaradas como oficiais e verdadeiras pela Igreja Católica. Naquela época, as heresias medievais funcionaram como uma transferência de pretensões socioeconômicas para o plano espiritual. As diversas heresias remontam à Alta Idade Média, fenômeno estritamente vinculado à formação do Cristianismo como religião monoteísta.

Por volta de 1022, o rei Roberto da França presidiu a primeira execução de heréticos com traços de bruxaria na Idade Média alegando que estes hereges acreditavam em doutrinas impregnadas de dualismo chegando a prestarem culto ao demônio.

Quanto ao fenômeno da Bruxaria, este deve ser revisto em sua gênese a partir do século XII. Segundo o argumento de Sallmann (2000), a origem da chamada Bruxaria demoníaca estaria vinculada à heresia. Diversas iconografias circulam nestes períodos demonstrando esta estreita ligação.

Assim, nos séculos X ao XIII, com o aparecimento das heresias, temos o ressurgimento das crenças em torno da relação demônio e magia. Com o tempo proliferam os tribunais da Inquisição em toda a Europa e os manuais inquisitoriais são sistematizados contendo as especificações a respeito das acusações de heresia e bruxaria com o objetivo de exterminar os crimes contra a fé católica.

Nesta conjuntura, a Igreja Católica intensificou a vigilância sobre as pessoas, ideias e possibilidades de novas religiões ou cultos e, em 1215, por meio do IV Concílio de Latrão, estimulou a perseguição aos hereges e, por volta de 1233 temos esta reafirmação na bula Vox in Rama do papa Gregório IX, que organizou, ainda mais, a possibilidade de acusações e perseguições. Um dos grandes marcos desta situação foi a publicação em 1376 do Manual do Inquisidor (Directorium Inquisitorum) de Nicolau Eymerich, estabelecendo o instrumental teórico para a perseguição aos heréticos.

No entanto, outro elemento que compôs o quadro dos temores no imaginário medieval foi a figura do judeu, acusado dos mesmos delitos atribuídos aos heréticos e às bruxas. No contexto de uma Idade Média, economicamente acanhada, os judeus tiveram uma expressiva atuação financeira, chegando inclusive a assumir, em parte, o comércio internacional durante o século XII. A partir da ocorrência da primeira Cruzada, a situação dos israelitas se deteriorou no Ocidente. Após o IV Concílio de Latrão (1215), ordens contra esse povo se ampliaram, chegando, inclusive, a determinar que os judeus se vestissem com indumento diferenciado. A partir desse momento, os judeus seriam considerados diabólicos, exploradores dos pobres e cristãos. Diante das perseguições, os judeus procuraram, voluntariamente, o batismo cristão, dando origem aos “conversos”, porém, mesmo convertendo-se ao Cristianismo, a população judaica continuou perseguida.

Concomitante à perseguição de hereges, judeus e mulçumanos, desenvolveu-se a caça às bruxas, ou mais especificamente às mulheres, símbolo bastante ambíguo nesse período. Embora o feminino já se configurasse como um símbolo de fraqueza e inferioridade no imaginário da Antiguidade, a demonização da mulher é posterior aos mitos de criação. Com o advento do Cristianismo, a Igreja Medieval reproduziu os discursos da Antiguidade acusando as mulheres de manterem vínculos satânicos.

A figura da mulher pecadora - ligada a Eva do livro de Gênesis - foi identificada como a imagem perigosa de Satanás não apenas por homens da Igreja, mas por todo o imaginário medieval. Assim, as mulheres tiveram um papel demonizado na Europa Cristã, suas práticas costumeiras e sabedoria milenar ligada às potencialidades da natureza e da cura foram identificadas como bruxaria.

Despótica: É o regime político em que o governante(ou grupo governante)não responde a lei,e/ ou não tem legitimidade conferida pela escolha popular

Lombardos: natural ou habitante da Lombardia, região do Norte da Itália.

Sassânida: Diz-se de membro da dinastia persa que, entre cerca de 224 e 652, criou um império do mesmo nome em torno do planalto da Pérsia, hoje Irã (soberano sassânida).
Que é referente ou concernente a essa dinastia, a esse império (cultura sassânida).

Isáurica:A dinastia isáurica também é fortemente associada com a crise religiosa do Iconoclasma, uma tentativa de recuperar a graça divina purificando a fé de uma suposta e excessiva adoração aos ícones e que provocou grandes tumultos por todo o império.

Feudalização: Característica ou condição de regime feudal: o declínio da feudalidade e o nascimento dos estados modernos.

Exarcado era o território governado por um exarco (ou exarca) durante o Império Bizantino. Existiam dois exarcados: o de Ravena, na Itália e o de Cartago, no norte da África.

Abóbodas: Arquitetura. Obra de alvenaria arqueada em que os elementos que a constituem (pedras, tijolos etc.) se apoiam uns nos outros, assumindo a forma de cobertura: abóbada de uma catedral.

Cúpulas: Arquitetura. Tipo de teto em forma de semiesfera. Os antigos assírios, persas e romanos usavam cúpulas em suas construções. Até o séc. XVI, entretanto, os construtores colocavam a maioria das cúpulas em edificações redondas

Absolutista: O rei exerce poder de forma indiscriminada.

Consuetudinário: Habitual, acostumado. Direito consuetudinário, direito não escrito, fundado no uso, costume ou prática.

Explicando melhor com a pesquisa

Para nos aprofundarmos um pouco mais sobre o período histórico denominado Idade Média, é importante lermos a pesquisa de Leandro Duarte Rust “Colunas Vivas de São Pedro: concílios, temporalidades e reforma na história institucional do Papado medieval (1046-1215)”. Este estudo analisa a constituição política do papado medieval entre os séculos XI e XIII. Em especial, busca compreender como transcorreram os processos decisórios nos quais estavam envolvidos os homens encarregados de agir em nome da autoridade apostólica romana.

A análise de um diversificado corpus documental composto por constituições e atas conciliares, vitae papae, epistolários, crônicas e opúsculos revelou uma intrincada trama de condicionamentos envolvendo, num mesmo movimento histórico, a organização e a dinâmica das relações políticas pontifícias e as representações do tempo partilhadas pelos integrantes da igreja romana. Em outras palavras, íntimas conexões ligavam os sentidos atribuídos à passagem do tempo à aplicação de lei canônica, ao entrosamento com as elites regionais da Cristandade senhorial, aos fundamentos sociais da noção de autoridade e às metas de controle social presentes nas relações de poder vivenciadas pelos membros do papado centro-medieval.

Entretanto, com base no exame destas correlações destacam-se: uma releitura dos domínios institucionais que fundamentavam o exercício do poder pontifício, a análise da ascensão política do papado como um conjunto suprarregional de polos de poder, os pressupostos e os limites analíticos envolvidos na aplicação historiográfica do conceito de “Reforma” as relações existentes entre o governo pontifício, a eclesiologia romana e a secularização da temporalidade.

Leitura Obrigatória

Doze ensaios que refletem a interdisciplinaridade da equipe de autores e abordam temas como violência, imigração, relações entre política e vida privada, organização familiar e preconceito racial no Brasil a partir de 1930.

Este volume encerra a Coleção História da vida privada no Brasil , projeto que se tornou um marco editorial no país e que foi viabilizado, no plano empresarial, por uma parceria consistente entre a White-Martins e a Companhia das Letras. No plano acadêmico, o projeto aglutinou intelectuais de diferentes campos de conhecimento, ampliando a ressonância de pesquisas isoladas e propiciando um diálogo mais rico entre elas.

Com o subtítulo Contrastes da intimidade contemporânea , esta coletânea investiga certos contornos que o Brasil adquiriu a partir de 1930. Acompanhados de farto material iconográfico e refletindo a interdisciplinaridade da equipe, são doze ensaios que exploram temas como violência, imigração, relações entre política e vida privada, organização familiar e preconceito racial, entre outros. Prêmio Jabuti 1998 de Melhor Livro de Ciências Humanas.

Após a leitura da obra, faça um texto sobre os temas abordados como: violência, imigração, organização familiar e preconceito racial no Brasil a partir de 1930.

Pesquisando na Internet

Sugerimos que você busque na internet algumas interpretações e perspectivas sobre a questão da passagem da Antiguidade Greco-Romana para a Civilização Medieval no ocidente europeu, atentando para os movimentos historiográficos produzidos em decorrência de mudanças teóricas e metodológicas originárias dos campos históricos surgidos com as novas tendências do século XX.

Após a pesquisa faça uma síntese para aprimorar seus conhecimentos.

Saiba mais

Propomos que leia a entrevista com Jacques Le Goff historiador francês, ele fala da visão negativa da Idade Média, da universidade como “um novo poder”, como o dinheiro era visto na Idade Média e porque para ele a Idade Média não era considerada o período das trevas.

Vendo com os olhos de ver

Propomos que assista ao filme Santa Joana D’arc 1948- Vida e martírio de Santa Joana D’arc. Uma Camponesa lidera a França. No ano de 1429, os franceses estavam em desvantagem na guerra dos Cem Anos. Além de ter ganhado uma série de batalhas, a Inglaterra ocupava várias cidades da França. Nessa época, uma camponesa de apenas dezessete anos chamada Joana d’Arc, que morava na aldeia de Domréemy – La Pucelle resolveu ir ao encontro do rei Carlos VII. Ela afirmava ter ouvido vozes lhe ordenando que libertasse a cidade de Ordéans, invadida pelos ingleses. A notícia logo se espalhou. No perigoso caminho até Paris, Joana d’Arc viajou acompanhada por alguns soldados. Quando chegou ao palácio pediu para ver o rei. Os nobres que a receberam acharam muito engraçado uma pobre camponesa querer ver o rei e avisá-lo de que precisava salvar a França. Resolveram então se divertir com ela: o rei Carlos VII juntou – se aos nobres fazendo outro homem se passar por ele.

No entanto, sem demonstrar dúvidas Joana d’Arc ignorou o falso rei sentado no trono e dirigiu-se diretamente a Carlos VII, confundido entre os nobres ali presentes. Disse-lhes que vinha com a missão de abençoa–lo e derrotar os ingleses, confirmando-o como rei da França. Nenhum dos presentes esperava tamanha firmeza de uma jovem de aparência tão humilde.

Propomos que assista ao filme “O nome da Rosa”, a história discorre no século XIV dentro de uma abadia beneditina italiana. Em meio a tantas paredes que reflete a paz e a taciturnidade dos beneditinos existe ali um barulho misterioso que inquieta os ouvidos e os corações dos monges. Neste sentido, a clausura perde seu sentido mais pleno e mais nobre, o silêncio.

Contudo, por outro lado o sentido do “ora et labora” é bem observado neste filme. Em cenas distintas pode-se observar, ora os monges rezando e ora os monges trabalhando. O trabalho por sua vez, aparece em locais diversos, seja numa biblioteca, no campo, cozinha, celeiro e etc. Mas a trama se volta basicamente no trabalho da biblioteca.

Nesta os monges copista trabalhavam na transliteração dos livros gregos para a língua vernácula. Contudo, um desses livros guarda um grande mistério responsável pelas mortes que vem atormentando aquela abadia. O livro como deixa claro o filme, é o segundo livro da Poética de Aristóteles que causava riso e uma nova forma de conhecer o mundo. O tal misterioso livro tinha suas páginas um veneno mortal impedindo de que muitos tivessem acesso a ele, quem procedesse lendo o livro com hábito de passar às páginas e depois levar os dedos a língua morreria envenenado. Esse mistério, contudo, foi desvendado por dois grandes sábios franciscanos: Guilherme de Baskeville e seu companheiro Adson. Estes tiveram a coragem de expulsar o suposto “demônio” que morava ali. Em suma, o filme ainda mesmo que bem repercutido e com atores brilhantes.

Após assistir aos vídeos, escolha um e faça uma resenha.

Revisando

Durante os séculos XIV, XV e XVI, período chamado de Renascença, tornou-se comum entre estudiosos das mais diversas áreas dividir a História em três grandes períodos: Idade Antiga, Idade Média e Idade Moderna. Naquele momento acreditava-se que a sociedade humana havia passado por dois momentos de profundo progresso: primeiro, durante a Idade Antiga, e, posteriormente, na Idade Moderna.

Entre estes dois momentos considerados pelos renascentistas como importantíssimos para a humanidade teria havido um período de quase nenhuma conquista material, cultural ou intelectual. Esse momento foi chamado de Idade Média ou, como ficou largamente conhecido, “Idade das Trevas”, expressão que tentava apontar o contraste entre este período e as épocas de luz e progresso. Para os renascentistas, a sociedade medieval poderia ser descrita como supersticiosa, miserável e pouco preocupada com o conhecimento. Enfim, um momento histórico de supervalorização dos aspectos religiosos em detrimento dos saberes racionais, quando a vida após a morte era mais importante que as dificuldades da vida real.

Em outras palavras, esse quadro de entendimento sobre a Idade Média era baseado, sobretudo, na conclusão de que durante todo o período medieval os homens em geral não teriam alcançado nenhuma melhoria social ou cultural graças as suas preocupações religiosas, ideia que até hoje permeia o imaginário coletivo acerca da Idade Média.

Esse tipo de conclusão simplista, ou seja, pouco preocupada com uma variedade de aspectos do tempo histórico em questão, não deixa ver a diversidade de elementos relevantes da sociedade medieval. Ao contrário do que se imagina, devemos à Idade Média as origens de muitos segmentos da nossa atual organização social: os modernos sistemas de representação política, os bancos, as universidades, as bases da mentalidade científica e até a expansão marítima têm suas procedências vinculadas às ideias e ideais da Idade Média. Esse momento histórico representou, a grosso modo, o embrião no qual foi gestado o mundo moderno: as atuais nações europeias e uma parcela das nações colonizadas por elas, suas línguas e obras de arte e literatura, são parte da herança medieval.

A Idade Média é dividida em duas fases: a Alta Idade Média (séculos V ao X) onde se apontam as origens do chamado feudalismo e Baixa Idade Média (séculos XI ao XV), em que se analisa a consolidação e crise do sistema feudal. A Idade Média é sumariamente caracterizada por um sistema político, econômico e social denominado feudalismo.

O Mundo Feudal, ou sociedade feudal, apresenta uma concepção bem mais dilatada em relação ao feudalismo. A expressão contempla aspectos econômico-sociais da sociedade feudal que se ligava a um determinado modo de vida, imaginário comum, pensamento religioso, e a práticas comuns, que incluem, o próprio “feudalismo” enquanto um subsistema socioeconômico específico. Este “mundo feudal” abrangia territórios e nações bem diferenciados que correspondem, a grosso modo, a um amplo território dentro do Ocidente Cristão da Idade Média Central.

Até o início do século XVIII, a palavra ‘feudal’ conservava um valor estritamente jurídico. O feudo era tido como um “modo de posse de bens reais” e ‘feudal’ relacionava-se não apenas ao feudo propriamente, mas também aos encargos decorrentes deste tipo de posse.

Posteriormente, durante a monarquia absolutista, a expressão que denominava o aspecto jurídico passa a incorporar um conteúdo político. Com isso, passa-se a enfatizar como principais características do âmbito feudal os vários aspectos relativos à fragmentação da soberania.

Mais tarde, a partir dos estudos e conceitos desenvolvidos por Karl Marx e Fredrich Engels, entre 1845 e 1846, o período medieval passa a ser visto pelos historiadores marxistas como um modo de produção, o chamado “modo de produção feudal”. Este modo de perceber o feudalismo como fenômeno histórico implicava num entendimento em que a expressão “feudal” incorporasse também um conteúdo econômico, referindo-se não apenas à organização política e às relações pessoais estabelecidas entre os homens pertencentes às classes dominantes, mas também à própria maneira como estes sujeitavam uma população mais ampla para a organização de uma produção agrícola da qual todos dependiam para a sua subsistência. Assim, as relações verticais entre senhores e servos e todo um complexo sistema de trabalho e propriedade passavam a figurar o ‘modo de produção feudal’.

Este incluía desta forma, tanto um sistema senhorial de exploração econômico-social, como o conjunto de mecanismos feudo-vassálicos por onde se organizava a hierarquia. Portanto, entendia-se o feudalismo como um sistema que abrangia ao mesmo tempo os aspectos econômicos, sociais e políticos.

Nesse conceito marxista, o papel da igreja e do corpo clerical poderiam ser considerados parte integrante do sistema global descrito. Este conceito de modo de produção feudal expandiu-se logo para setores historiográficos, não necessariamente marxistas, dominando a grade de conhecimentos que se divulgava sobre a Idade Média e o Feudalismo.

Posteriormente, a necessidade de separar o que era o sistema de exploração da propriedade e do trabalho e o que era o sistema de suserania e vassalagem levou a uma nova percepção sobre o tema. Historiadores modernos, por sua vez, deram-lhes um conteúdo muito mais complexo e mais rico, de natureza mais social e antropológica do que jurídica. Para deixar essa abordagem excessivamente jurídica, foi preciso ampliar o estudo das fontes; foi preciso consultar tudo aquilo que os historiadores não liam no século XX, como, por exemplo, manuais de confissão, teologia prática, contas comerciais, registros que deixam ver uma Idade Média bem diferente.

Assim como o comércio, as cidades também não desapareceram totalmente durante a Alta Idade Média, embora seu número e funções tenham declinado de forma acentuada. A população que se estabeleceu nesses núcleos urbanos era formada por mercadores, tecelões, artesãos, aprendizes, trabalhadores assalariados e camponeses saídos das áreas rurais. Estes sujeitos desempenhavam várias funções e ofícios, entre eles se destacava a produção de artesanato.

Acompanhando e fomentando esse crescimento urbano e comercial, verificou-se o nascimento de uma nova e importante classe social, a burguesia, denominação derivada da palavra burgo que significa castelo fortificado. Com o passar do tempo, o termo burguês passou a referir-se somente a grandes mercadores, banqueiros e mestres; distinção explicada pela ascensão rápida dos sujeitos que compunham essa classe e que possuíam um rico modo de vida e contrastava com a profunda miséria da maioria da população.

Contando com uma hierarquia precisamente organizada, beneficiada pelas constantes doações de fiéis, sendo isenta das obrigações tributárias e exercendo um quase monopólio do conhecimento formal, a Igreja Católica multiplicou suas posses e sua influência no mundo feudal, sendo credora e conselheira de reis, mercadores, banqueiros, nobres, cavaleiros e camponeses. Enfim, era reconhecida infalível, influenciando todos os setores componentes do sistema feudal. Ter o apoio da Igreja significava contar com as bênçãos de Deus, elemento indispensável a qualquer um que desejasse manter ou justificar seus poderes e decisões. Tais ideias se mantiveram firmes por toda Alta Idade Média.

Durante os séculos XIV e XV, observamos uma Europa marcada por crises. Esse período é considerado pela historiografia como de grande excitação sócio espiritual, quando homens e mulheres passaram a vivenciar o medo de forma peculiar ante o surgimento de incontáveis aflições, diante da insegurança causada pelo clima constante de guerras e invasões, pela existência de longos períodos invernosos e diversas epidemias. Cenário problemático explicado, sobretudo, pelos argumentos da fé e da cultura popular.

Autoavaliação

  1. Em que consistiram as invasões bárbaras na parte Ocidental do antigo Império Romano?
  2. O que foi o Império Bizantino?
  3. Quais as principais características sociais, políticas e econômicas apresentadas durante o Colonato?
  4. A Idade Média é formalmente dividida em duas fases distintas. Quais? Faça um comentário sobre cada uma delas.
  5. O que foi o modo de produção feudal?
  6. Qual a relevância do comércio no início da Idade Média?
  7. A população que se estabeleceu nos núcleos urbanos era formada por quais categorias sociais? Esses indivíduos desempenhavam quais funções e ofícios?
  8. O desenvolvimento do artesanato verificou-se com a maior especialização do trabalho. Nas cidades, o núcleo de produção manufatureira era a chamada oficina, estabelecimento de propriedade de um mestre-artesão que ensinava o aprendiz, pessoa interessada em aprender um ofício para, quem sabe, ter sua própria oficina. Com o objetivo de preservar a exclusividade da produção, regulando com maior facilidade os preços e os usos de matérias-primas, os mestres-artesão se reuniam em corporações de ofícios. Elabore um comentário sobre essas corporações.

  1. Reflita sobre a importância da cultura medieval cristã na formação da sociedade ocidental contemporânea.

Bibliografia

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Vídeos

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Annaud Jean-Jacques. O nome da Rosa (1986). Gênero: aventura, drama e suspense, Dublado (123 minutos).

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Que atividades econômicas eram favorecidas pela localização de Constantinopla?

A capital Constantinopla, situada na confluência de várias rotas comerciais que no seu auge cobriam praticamente toda a Eurásia e Norte de África, foi um dos principais centros de comércio ao longo de todo o primeiro milénio.

Que atividades econômicas se desenvolvem em Constantinopla?

Resposta verificada por especialistas. O comércio era a principal atividade econômica desenvolvida em Constantinopla, visto que a capital bizantina localizava-se numa região privilegiada, que ligava o Mediterrâneo ao Mar Negro, com acesso às rotas comerciais da Ásia.

Qual era a principal fonte de riqueza de Constantinopla?

Como surgiu Constantinopla A agricultura, baseada no sistema latifundiário, foi o principal fator responsável pela riqueza bizantina. As grandes propriedades estavam ligadas à Igreja ou à aristocracia; em geral, os pequenos proprietários, pressionados pelos cobradores de impostos, se transformavam em colonos.

Qual foi a importância econômica de Constantinopla?

Sua maior importância econômica era no comércio, pois era um dos maiores entrepostos comerciais do Ocidente. Além disso, era uma das cidades com maiores aparatos de defesas contra invasores.