Quem é o verdadeiro real trap

Após o nomes como Meno Toddy e NGC Daddy, o real trap vem ganhando muito espaço no cenário do hip-hop nacional. O Real Trap é uma vertente do trap que se intitula o verdadeiro trap por abordar temas como criminalidade. Esse ideal de ser o “verdadeiro trap” vem pois o gênero trap, surgido nos Estados Unidos, começou com letras abordando situações cotidianas das periferias estadunidenses, até o nome vem de um pensamento periférico, pois “trap” significa armadilha em inglês e é uma gíria usada pelos estadunidenses para designar o crime.

Com a música “AK do Flamengo”, NGC Borges conseguiu uma visibilidade muito boa para o seu trabalho. Nas linhas podemos observar características que de primeira assustam e dá a impressão de apologia, mas se forem bem escutadas e bem interpretadas podemos observar uma critica social, mesmo que não fosse esse o seu objetivo.

Já no começo do videoclipe ele faz uma introdução, dizendo

“Não nasci bandido não. Ninguém nasceu bandido.
Eu jogava bola como qualquer outro dos meus colegas; sou cria com todo mundo. Cria daqui, tá me entendendo?! Foi isso que eu escolhi pra mim? Foi! Tá me entendendo?! Não adianta eu me arrepender. Foi o que quis. Eu falei: ‘eu tenho personalidade própria’.
Paz eu pedi antes de ser traficante, quando eu trabalhava. Que eu queria deitar, sabendo que tinha que acorda 5 horas da manhã pra ir trabalhar e não conseguia porque polícia tava na favela. Tinha que sair pra ir trabalhar, me parava lá embaixo e falava que a marmita que eu tava carregando dentro da minha mochila tava escondendo droga pra sair do morro.”

Nessa primeira parte do interlúdio o MC mostra sua consciência sobre suas atitudes, mas ao mesmo tempo mostra que quando ele tentava ter uma vida normal, como trabalhador, a polícia reprimia-o. O que já é uma realidade para muitos cariocas moradores de favela, que muitas vezes são “confundidos” com traficantes pela sua cor de pele ou até mesmo localidade.

Na continuação do interlúdio ele diz:

“O que mais me deixa revoltado é que… por que eles não vem aqui na madrugada trocar tiro? Só tem traficante na rua…”

Na segunda parte ele demonstra uma revolta e até um sentimento de proteção para com os moradores, numa intenção de até mesmo admitir que os moradores não tem culpa com a guerra entre eles (traficantes) e a polícia. Essa frase tem tanto impacto de realidade que é até difícil escolher qual situação que a polícia subiu o morro e matou inocentes em plena luz do dia.

Essa segunda parte me lembra um verso do DK no Favela Vive 3:

“Mano, os cana peida de subir de madrugada
Sempre marca operação com a porta da creche lotada.”

Acho, que assim como o DK, Borges colocou uma realidade vivida por ele. O MC não demonstra um grande conhecimento teórico da luta de classes, mas mesmo assim consegue colocar uma análise conjuntural crítica a partir de uma experiência por ele vivida.

Ao termino dessa introdução, NGC Borges faz um verso num estilo bem real trap, saindo daquela comodidade do trap de citar roupas de grife e gírias estadunidenses, e se utiliza de toda a brasilidade possível e um sotaque carioca bem forte, o que faz com que a música fique bem original e autentica.

Nas primeiras linhas ele já demonstra um ódio pela polícia e uma autenticidade muito boa, ao se negar a citar marcas ou expressões importadas, e usar gírias bem brasileiras:

Explode a blazer
Dá fuga na blazer
De Falcon na curva, tu vai capotar
Fala que é bandido, mó marra de brabo
Então pia na reta, tenta me pegar
AK do Flamengo, muito barulhento
Famoso na roda por matar alemão
Carga girando na função dos cria
Polícia safado, sai do Caveirão

Já na segunda parte ele confessa sua admiração pelo crime, por proporcionar coisas fáceis, mas, assim como Poze do Rodo, ele não deixa em momento algum de expressar seu ódio pela polícia:

Confesso que gosto da vida bandida
Buceta e dinheiro nunca é demais
Muito sagaz com as droga escondida
Sobe na madruga, nós vai ver quem cai

Esse ódio, raiva e até mesmo provocação á polícia, deve-se muito por políticas de segurança que vivem tentando exterminar a população pobre. Há anos vivemos com a política de “Guerra as Drogas” que é mais uma guerra aos pobres do que ao crime organizado.

Após a parte dele, vêm um feat do Flacko, que também pode ser considerado um MC do Real Trap trazendo o mesmo ódio á polícia que o Borges mostra no verso anterior:

Dá fuga nos cana
Já entoca as cargas lotado de droga

Assim como o Borges, Flacko demonstra uma brasilidade nas suas linhas que faz com que a música converse com o ouvinte. Um exemplo bom de alguém que sempre deixa uma brasilidade forte nas suas letras é Don L, com um sotaque nordestino bem forte, ele traz um Rap ala Brasil, trazendo uma autoestima ao Brasil e ao nordestinos, além de deixar a melodia linda com um sotaque perfeito.

Além disso, Flacko demostra ódio á um projeto bem antigo no Brasil, as Unidade de Polícia Pacificadora, as UPPs:

Apertei dois balão
Joguei um na orelha e o outro dei pro meu fiel acender
Cria de favela
Cabelo na régua, desde menorzinho não gosto de UPP

As UPPs mais falharam do que ajudaram. Além de contribuir na violência contra os moradores das comunidades cariocas, muitos polícias faziam acordos com traficantes para deixarem o crime atuar livremente, o famoso arrego.

Além de toda essa brasilidade, Flacko traz, assim como Poze, um carinho pelo seu local de criação citando de onde veio:

Sou de lá das casas, brabão de pegar
E se vacilar, os cria vai te matar
Com o vetor no colt, bala tem um monte

Borges também cita um local que tem apresso e carinho, mas deixa implícito com a palavra 5, como ele mesmo diz no refrão:

Carga girando no plantão da boca
Se brechar na 5, vai ser muito bala
Foda-se o arrego, tô cheio de ódio
A tropa do moço é os enguiça barca

Em resumo, essa música traz uma critica sócio-econômica-racial, principalmente em sua introdução. Traz uma brasilidade para a cena e um regionalismo ao Rio de Janeiro.

Flacko e Borges, mesmo sem querer, conseguiram fazer críticas sociais e até mesmo chegar a algo que, se estudado, pode vir a se tornar uma análise de conjuntura muito boa e consciente da realidade.

Falar que essa música é apologia ao crime seria um erro tão grande que alguém faria. A música, assim como o Hip-Hop num geral, vem apenas contar uma realidade vivida pelos MCs, e traz até um sentimento de admissão da escolha. Aqueles que acreditam que essa música é um poço de apologia, deveriam cobrar o genocida do Witzel, o usurpador do Temer, o miliciano do Bolsonaro ou, o pior de todos, o Estado Burguês. Esses são os culpados.

Quem é o verdadeiro Real trap do Brasil?

Para uma boa parte dos entusiastas, o rapper carioca Meno Tody foi o primeiro trapper brasileiro a realmente estar vivendo uma vida no crime e ingressado no mundo da música, algo que define o estilo "Real Trap" americano.

Quem inventou real Trap?

Os pioneiros do gênero são DJ Paul, Shawty Redd, 808 Mafia e Lex Luger.

Quem foi o pioneiro do trap no Brasil?

Como eu já te contei, Raffa Moreira é um dos pioneiros do trap no Brasil. Só por aí dá para sentir a força e importância que esse homem tem no cenário artístico. Nascido em Guarulhos, o trapper, que também é conhecido como Lil Raff, não hesita em retratar a realidade da periferia de São Paulo.

Quanto é o cachê do Meno Tody?

Ingressos
Antecipado R$ 20,00 (+ R$ 2,50 taxa) em até 4x R$ 6,12 Vendas até 03/10/2019
Encerrado
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