O que Milton Santos fala sobre a globalização

Fizeram História

Por Diana Carvalho

O baiano Milton Santos (1926-2001) foi um intelectual brasileiro e um dos grandes estudiosos da geografia no mundo. Ele jogou luz em questões sociais para pensar como as cidades se formam e se desenvolvem, especialmente em países pobres. Olhou para as relações humanas e as práticas cotidianas para estudar os espaços.

O geógrafo foi crítico dos modelos de globalização. Santos não acreditava ser possível, e nem sustentável, globalizar sem enfrentar a redução das desigualdades -- muito expostas em um cenário de pandemia como o da covid-19, que atinge o mundo todo, mas de forma heterogênea.

Reprodução/Flckr/Milton Santos

A globalização devolve ao homem a condição primitiva do cada um por si e, como se voltássemos a ser animais da selva, reduz as noções de moralidade pública e particular a um quase nada"

Milton Santos

Reprodução/Flickr/Milton Santos

Nascido em 1926 no pequeno município de Brotas de Macaúbas, na região da Chapada Diamantina, filho de professores primários, Milton Santos formou-se em direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e fez doutorado em geografia na Universidade de Estrasburgo, na França.

Reprodução/Globalização Milton Santos

Em 1964, durante o golpe militar, deixa o país após ficar preso por 90 dias em um quartel do Exército em Salvador. A convite de colegas francesas, ele dá início ao seu exílio passando por países na Europa, África, América do Norte e Latina.

Em 1977, Santos retorna ao Brasil. Dois anos depois, passa a dar aulas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de 1979 a 1983, ano em que ingressa por concurso na Universidade de São Paulo (USP), onde se torna professor titular de geografia humana. Sua aposentadoria ocorre em 1997, quando recebe o título de Professor Emérito.

Reprodução/Flickr/Milton Santos

Reprodução/Globalização Milton Santos

Com o título de Doutor Honoris Causa em 20 universidades nacionais e internacionais, Milton Santos recebe o Prêmio Vautrin Lud, o "Nobel da Geografia", em 1994.

Reprodução/Flickr/Milton Santos

Globalização Milton Santos - O mundo global visto do lado de cá

A declaração foi dada a Silvio Tendler em 2001, em uma das últimas entrevistas do geógrafo. O material virou o documentário "Encontro com Milton Santos: O Mundo Global Visto do Lado de Cá" (2006). "É um filme que não envelhece pela atualidade das coisas que Santos fala e pelas bobagens que se fazem no mundo", diz o cineasta.

Globalização Milton Santos - O mundo global visto do lado de cá

Em 2018, o Google fez uma homenagem ao intelectual no dia 1 de outubro, data em que ele ganhou o Prêmio Vautrin Lud. Com mais de 40 obras publicadas, Milton ainda ganhou o 39º Prêmio Jabuti do Brasil de melhor livro de ciências humanas com "A Natureza do Espaço" (1996).

Milton Santos morreu em junho de 2001, em decorrência de um câncer, aos 75 anos. Sua obra, no entanto, segue viva como referência não apenas para geógrafos, mas para todos os interessados no debate sobre cidades e sociedade.

Como j� citamos Milton Santos considera a exist�ncia de pelo menos tr�s mundos num s�. O entendimento de como seriam esses mundos passa pela compreens�o do que � a globaliza��o, e, por isso o autor identifica os mundos de acordo com a percep��o, com a realidade e com a possibilidade.

O mundo que percebemos: a globaliza��o como f�bula
Esse mundo globalizado, visto com f�bula, exige um certo n�mero de fantasias. A m�quina ideol�gica faz crer que a difus�o instant�nea de not�cias realmente informa as pessoas. Um mercado avassalador dito global � apresentado como capaz de homogeneizar o planeta atrav�s da disposi��o, cada vez maior, de mercadoria para o consumo quando, na verdade, as diferen�as locais s�o aprofundadas. Podemos indagar se n�o estamos diante de uma ideologiza��o maci�a, segundo a qual a realiza��o do mundo atual exige como condi��o essencial o exerc�cio de fabula��es.

O mundo real: a globaliza��o como perversidade
Para a maior parte da humanidade a globaliza��o est� se impondo como uma f�brica de perversidades. o desemprego se torna cr�nico, a pobreza aumenta, novas enfermidades se instalam, a mortalidade infantil permanece, a educa��o de qualidade � cada vez mais inacess�vel e o consumo � cada vez mais representado como fonte de felicidade. A perversidade sist�mica est� relacionada a ades�o desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as a��es hegem�nicas.

O mundo como possibilidade: uma outra globaliza��o
As bases materiais do per�odo atual s�o, entre outras, a unicidade da t�cnica, a converg�ncia dos momentos e o conhecimento do planeta. � nessas bases t�cnicas que o grande capital se apoia para construir a globaliza��o perversa. No entanto, essas mesmas bases poder�o servir a outros objetivos, se forem postas ao servi�o de outros objetivos, se forem postas ao servi�o de outros fundamentos sociais e pol�ticos.

O cineasta brasileiro S�lvio Tendler fez um document�rio que discute os problemas da globaliza��o sob a perspectiva das periferias. O filme � conduzido por uma entrevista com o ge�grafo e intelectual baiano Milton Santos, gravada quatro meses antes de sua morte. Considerado um dos maiores pensadores brasileiros do s�culo XX, Milton Santos n�o era contra a globaliza��o e sim contra o modelo de globaliza��o perversa vigente no mundo, que ele chamava de globalitarismo. Analisando as contradi��es e os paradoxos deste modelo econ�mico e cultural, Milton enxergou a possibilidade de constru��o de uma outra realidade, mais justa e mais humana.
Este document�rio est� dispon�vel em nove partes.

Fontes de Pesquisa

Recursos Did�ticos

�udios

Imagens

Not�cias

Simuladores

Textos

Trechos de Filmes

V�deos

Recomendar esta p�gina via e-mail:

O que Milton Santos afirma sobre a globalização?

O que defendia Milton Santos?

Quais são as 3 visões de Milton Santos em relação a globalização?