Por que a utilização da mão de obra indígena era um problema espinhoso?

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Por que a utilização da mão de obra indígena era um problema espinhoso?

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dispersas pelo território; jamais depostas.
NA TERRA DO TRABALHO FORÇADO
Montou-se a partir de então uma empresa de proporções bastante significativas, em que tudo girava
em torno da monocultura da cana. É claro que se ampliaram também atividades ao redor das
plantações, com a produção de gêneros para a subsistência — a mandioca, por exemplo — e o
desenvolvimento da pecuária, indispensável para o trato das lavouras, força motriz para as moendas
mais simples, alimento para a população, e meio de transporte de cana e de lenha. Ao lado de uma
sociedade feita pelo açúcar, consolidou-se no sertão uma “civilização do couro”, organizada na base de
muito gado e homens livres para ordená-lo.
Na Bahia, se desenvolveu ainda o cultivo do tabaco nas regiões de Cachoeira, no Recôncavo, e mais
ao norte da província, de onde provinham cerca de 90% da produção. No local produziram-se vários
tipos de fumo, sendo os mais finos exportados para a Europa. Já os mais grosseiros viraram moeda de
troca para o tráfico negreiro na costa da África. A produção de fumo era, na verdade, complementar à
da cana: viável em pequena escala, ela ajudou a gerar um setor de pequenos proprietários,
basicamente formado por produtores de mandioca ou imigrantes portugueses com pouco cabedal que
aportaram na colônia. A cultura ajudou também a estabilizar a balança comercial de Portugal, que
lucrou com o monopólio do fumo. Mas não havia a menor possibilidade de o tabaco competir com a
cana, nem de dar origem a uma classe separada do monopólio do açúcar.
Aliás, para que o sistema funcionasse, e a roda do engenho girasse sem parar, o mais fundamental
era a manutenção da mão de obra. Como vimos, a utilização de trabalhadores indígenas transformara-
se num problema espinhoso já nos tempos do pau-brasil. Na era do açúcar, a situação se veria ainda
mais agravada. As ordens religiosas, por exemplo, os jesuítas, desestimulavam o uso dessa mão de
obra. Entre outros argumentos, alegava-se que os gentios eram “rebeldes”, indolentes, e não se
fixavam na terra. Hoje sabemos que os ameríndios não eram mais rebeldes ou “pouco afeitos ao
trabalho” do que qualquer ser humano submetido a um sistema escravista, que supõe a posse de um
homem por outro e a violência como moeda corrente. O que existia, sim, era uma vontade religiosa e
políticas diferentes, por parte da Igreja e dos colonizadores, quando se referia aos indígenas, por um
lado, e aos africanos, por outro.
A briga entre colonos e a Igreja, no que dizia respeito à escravização indígena, foi uma constante,
assim como muita mitologia cercou a questão do trabalho compulsório nativo (ver imagem 21). Do
ponto de vista do discurso religioso, de teor moralizante, os indígenas foram, sobretudo, considerados
“inapropriados” para o cultivo e o trabalho agrícola. Entretanto, aquilo que se chamava de
“inadaptação” revelava concepções muito diferentes da vida e do cotidiano, as quais separavam
europeus de gentios. Havia da parte destes desinteresse pelo excedente, uma concepção comunitária
ou de reciprocidade em relação aos cuidados com a terra e o consumo — a produção de caráter
doméstico. Em sua sociedade, o status não derivava da capacidade econômica, e essa visão diversa
sobre a natureza do trabalho levou os portugueses a tomarem como “desinteresse”, ou “falta de
aptidão”, o que na realidade correspondia a uma compreensão distinta do mundo e das necessidades
básicas.
Além disso, doenças como a varíola (bexigas) e mesmo o conhecimento da terra acarretaram a fuga
de muitos indígenas das áreas onde se dava o avanço dos colonizadores, com o objetivo de não se
submeterem ao regime de trabalho forçado. De outro lado, havia as justificativas morais e cristãs
ligadas à missão de doutrinação. Indígenas eram vistos como “rebanhos”; novos fiéis nas mãos da
Reforma cristã, que nesse contexto ampliava suas fronteiras catequéticas.
No entanto, diferentemente do que se popularizou na historiografia — que ocorrera uma
substituição do trabalho escravo dos índios pelo dos africanos —, hoje se sabe que, a despeito do
discurso oficial, os indígenas foram escravizados por um longo período. Os paulistas, por exemplo,
comportaram-se até o século XVIII como aprisionadores de índios, que ou vendiam ou utilizavam
como mão de obra escrava nas fazendas agrícolas do planalto de Piratininga. Para tanto, não só
assaltavam as missões jesuíticas estabelecidas na região do Paraguai, como a partir de 1640
praticamente limparam o sertão do Nordeste, onde então adentrava a nova colonização. Esse
movimento ficou conhecido como Guerra dos Bárbaros, e se estendeu até a primeira metade do
século XVIII. Os interesses dos paulistas e o discurso dos missionários jesuítas os colocaram em lados
opostos, um cuidando de detratar o outro.24
Por sua vez, a abertura para um mercado próspero, como o do açúcar, demandava saídas mais
duradouras, estáveis e distantes de maiores controvérsias religiosas ou morais. Foi dessa maneira que
se casaram os lucros da cana com aqueles provenientes do “tráfico de viventes”. De um lado, entre os
domínios do Império português constavam feitorias em toda a costa da África. De outro, controlando
as guerras internas no Brasil, os mercadores lusos fariam dos vencidos futuros cativos, recriando a
escravidão que já vigia no continente africano.25
Contudo, se hoje é possível constatar a existência de várias formas de escravidão naquele
continente, a novidade seria agora a introdução de um sistema mercantil em que seres humanos
viravam mercadoria e seu comércio resultava em vultosos lucros: primeiro para os negociantes
africanos, depois para Portugal, e depois ainda para os próprios comerciantes brasileiros. A compra e
a distribuição de escravos, quando eram realizadas por mercadores da metrópole, representavam,
ademais, uma espécie de adiantamento de parte considerável da renda gerada pela colônia. Portugal
garantia as duas pontas do mercado: o provimento de mão de obra e o monopólio da cana. Mas quase
nada permanecia no Novo Mundo: nem a cana, nem o lucro por ela produzido.
Com o passar do tempo, mais e mais comerciantes nativos se engajaram no tráfico de escravos.
Talvez por isso o termo “brasileiro” tenha surgido, para se referir a esses mercadores, distinguindo-os
dos portugueses de origem. Em alguns momentos, como no século XVIII, as praças escravistas
africanas dominadas pelos holandeses impediram as trocas com os comerciantes portugueses, mas
não com os brasileiros. Estes últimos abasteciam-se da aguardente, do fumo e do couro, que eram
utilizados como moeda de troca no comércio escravista.
Paradoxalmente, uma longa experiência com a escravidão negra na península Ibérica, aumentada
durante a expansão da indústria açucareira no Atlântico, familiarizara os portugueses com os
africanos e os deixara alertas para as suas várias aptidões. Já no XVI a habilidade de muitos povos
africanos em dominar as técnicas de fabrico do açúcar era observada com atenção em documentos
lusitanos. Por esse motivo, os primeiros que chegaram ao Brasil, vindos de Angola e da Guiné,
exerceriam funções especializadas, como purgadores, mestres de açúcar, ferreiros e caldeireiros.
Aliás, diversos cativos originários da África Ocidental eram experientes na lida da agricultura, no uso
do ferro e no cuidado com o gado. Claro que não eram “predispostos à escravidão”; muito pelo
contrário.
No entanto, e com o decorrer do tempo, a escravidão africana e o complexo da cana mais
pareceriam com um par lógico e inseparável, tal seu grau de associação foi se aprofundando. Tanto
que, na época, os termos se misturavam — indígenas eram chamados de “gentios da terra” ou de
“negros”, e africanos de “negros de Guiné” e de “negros da terra” — a denominação “negro”
correspondendo à designação genérica de escravo. Os critérios eram expressos pelo idioma da cor da
pele, e em função da oposição entre preto e branco, devidamente reforçada pela experiência colonial.
A vasta gama de variações de cor não implicava, porém, falta de preconceito e discriminação; refletia,

Porque a utilização da mão de obra indígena era um problema espinhoso?

Resposta: a) a mão de obra indígina era sim ,um grande problema porque os índios como eram escravizados e obrigado a seguir ordens se revoltavam contra os patrões.

Quais as dificuldades da utilização da mão de obra indígena?

Os comerciantes locais sentiam-se prejudicados por esse monopólio da Companhia. Os proprietários rurais entendiam que o preço oferecido pelos seus produtos era insuficiente. Os apresadores de índios, contrariados, reclamavam da aplicação das leis que proibiam a escravidão dos nativos.

Por que a mão de obra indígena foi substituída?

Por fim, a escravidão indígena foi suplantada pela africana, pois se acreditava que os índios não suportavam o trabalho forçado e acabavam morrendo. Isso acontecia em decorrência do trabalho pesado ou vítimas de epidemias contraídas do contato com o homem branco, gripe, sarampo e varíola.

Porque a mão de obra indígena foi substituída pela negra Brainly?

Os nativos não possuíam a representatividade econômica dos africanos, isto é, ao contrário destes, os índios era cativos e não comercializados, o tráfico negreiro era uma alternativa mais rentável a coroa.