Porque a construção de Brasília atraiu imigrantes para essa região?

O termo ”migrações” corresponde à mobilidade espacial da população, ou seja, é o ato de trocar de país, de região, de estado ou até de domicílio. Esse fenômeno pode ser desencadeado por uma série de fatores: religiosos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos e ambientais.

No Brasil, os aspectos econômicos sempre impulsionaram as migrações internas. Durante os séculos XVII e XVIII, a intensa busca por metais preciosos desencadeou grandes fluxos migratórios com destino a Goiás, Mato Grosso e, principalmente, Minas Gerais. Em seguida, a expansão do café nas cidades do interior paulista atraiu milhares de migrantes, em especial mineiros e nordestinos.

No século XX, o modelo de produção capitalista criou espaços privilegiados para a instalação de indústrias no território brasileiro, fato que promoveu a centralização das atividades industriais na Região Sudeste. Como consequência desse processo, milhares de brasileiros de todas as regiões se deslocaram para as cidades do Sudeste, principalmente para São Paulo.

Outra consequência do atual modelo de produção é a migração da população rural para as cidades, fenômeno denominado êxodo rural. Essa modalidade de migração se intensificou nas últimas cinco décadas, pois as políticas econômicas favorecem os grandes latifundiários (empréstimos bancários), além da mecanização das atividades agrícolas em substituição da mão de obra.

A Região Sudeste que, historicamente, recebeu o maior número de migrantes, tem apresentado declínio na migração, consequência da estagnação econômica e do aumento do desemprego na região. Nesse sentido, ocorreu uma mudança no cenário nacional dos fluxos migratórios, onde a Região Centro-Oeste passou a ser o principal destino.

As políticas públicas de ocupação e desenvolvimento econômico da porção oeste do território brasileiro intensificaram a migração para o Centro-Oeste. Entre as principais medidas para esse processo estão: construção de Goiânia, construção de Brasília, expansão da fronteira agrícola e investimentos em infraestrutura. O reflexo dessa política é que 30% da população do Centro-Oeste são oriundas de outras regiões do Brasil, conforme dados de 2008 divulgados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

Outro aspecto das migrações internas no Brasil é que os fluxos são mais comuns dentro dos próprios estados ou regiões de origem do migrante. Esse fato se deve à descentralização da atividade industrial no país, antes concentrada na Região Sudeste e em Regiões Metropolitanas.

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A construção de Brasília foi uma obra realizada durante o governo de Juscelino Kubitschek e estendeu-se de 1957 a 1960. A transferência da capital do Brasil para o planalto central era parte de um plano idealizado desde o começo da república brasileira. A edificação de Brasília foi o grande símbolo do desenvolvimentismo do governo JK.

Estima-se que bilhões de dólares tenham sido gastos para viabilizar a nova capital, e fala-se em grande custo humano, uma vez que os trabalhadores exerciam suas funções em condições muito ruins. A construção de Brasília foi parte do Plano de Metas, idealizado para promover o crescimento e o desenvolvimento do país.

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Contexto

Porque a construção de Brasília atraiu imigrantes para essa região?
Juscelino Kubitschek (de terno claro, acenando) não economizou gastos na construção de Brasília.[1]

A construção de Brasília foi realizada durante o governo de Juscelino Kubitschek, presidente do Brasil entre 1956 e 1961. Juscelino Kubitschek era um dos quadros mais conhecidos do Partido Social Democrático, o PSD, e tinha sido governador de Minas Gerais. Foi eleito presidente ao vencer a eleição de 1955 por uma margem apertada.

A política brasileira na década de 1950 era agitada, e assim foi o ano de 1955, sobretudo porque grupos conservadores ligados à União Democrática Nacional (UDN) fomentavam um golpe contra uma possível posse de JK. A ideia de um golpe era tão presente que o ministro da guerra, Henrique Teixeira Lott, realizou um contragolpe em 11 de novembro de 1955 e garantiu a posse de JK.

Juscelino Kubitschek foi eleito com um discurso desenvolvimentista que ressaltava a necessidade do Brasil retomar o caminho do desenvolvimento econômico e com a promessa de que o país cresceria 50 anos em cinco. A sua vitória deu-se com ele obtendo 36% dos votos, e sua posse aconteceu no dia 31 de janeiro de 1956.

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Plano de Metas

Durante seu governo, Juscelino Kubitschek investiu de forma maciça para garantir o desenvolvimento e a industrialização do Brasil. A síntese da sua busca por esses objetivos deu-se pelo Plano de Metas, um programa de modernização iniciado em 1º de fevereiro de 1956.

O Plano de Metas estipulava 31 objetivos que deveriam ser alcançados pelo governo por meio de investimentos público e privado. Todos esses intentos estavam dentro de áreas enxergadas como fundamentais pelo governo: energia elétrica, transportes (infraestrutura), indústria de base, alimentos e educação.

Esse planejamento fomentou a construção de estradas e usinas hidrelétricas e contribuiu significativamente para o crescimento industrial do Brasil. Do ponto de vista econômico, o Plano foi um sucesso, mas isso aconteceu, principalmente, graças à construção da nova capital, a cidade de Brasília.

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Idealização da construção de Brasília

A construção de uma nova capital no interior do território brasileiro era uma ideia antiga. No período monárquico, por exemplo, existiam discussões tímidas acerca disso. Com a Proclamação da República, esse projeto deixou de ser apenas uma discussão política vaga e ganhou contornos mais palpáveis.

A Constituição de 1891, a primeira do período republicano, já determinava, no seu artigo 3º, que um território de 14.400 km² no planalto central seria de posse da União para o desenvolvimento de uma futura nova capital para o Brasil. Visando a isso, foi realizada, em 1892, a Missão Cruls, que realizou estudos e demarcação de terras no planalto central para a construção da nova capital.

Os trabalhos relacionados com a Missão Cruls foram finalizados em 1897. Em 7 de setembro de 1922, o presidente Epitácio Pessoa realizou o lançamento da pedra fundamental da nova capital em Planaltina. Por fim, Getúlio Vargas também ordenou a realização de estudos no território demarcado pela Missão.

Essas foram as iniciativas realizadas para a transferência da capital para o interior do território brasileiro. O projeto nunca caminhou para frente por conta do desafio que era executar essa construção. Financeiramente, ela era complexa, e politicamente, poderia ser um risco para a reputação daquele que se propusesse a realizá-la.

O historiador Jônatas Soares de Lima afirma que a construção de Brasília no governo de JK deu-se após um questionamento de um eleitor feito a JK durante sua campanha eleitoral, em 1955|1|. O autor da pergunta foi Antônio Soares Neto, que questionou se o candidato cumpriria a determinação da Constituição de transferir a capital brasileira.

Isso porque o artigo 4º das disposições transitórias da Constituição de 1946 determinava que a capital seria transferida para o planalto central brasileiro. A resposta de Juscelino Kubitschek foi que ele obedeceria o que a Constituição determinava. Na base da improvisação, nascia o plano de construção de Brasília, e ele se tornou o carro-chefe do projeto modernizador de JK.

Construção de Brasília

Em 1956, foi submetido ao Congresso o projeto da construção de Brasília e da transferência da capital de nosso país. Apesar da resistência da UDN, partido de oposição ao presidente, o projeto foi aprovado por meio da lei nº 2.874, de 19 de setembro de 1956. Assim, os planos para a construção da nova capital foram iniciados. No mesmo mês, foi criada a Companhia Urbanizadora Nova Capital, a Novacap.

O comando da Novacap foi entregue a Israel Pinheiro, deputado do PSD e um engenheiro da confiança do presidente. Outros nomes significativos que fizeram parte da Novacap foram o de Bernardo Sayão, diretor técnico da empresa, e o de Oscar Niemeyer, diretor do Departamento de Arquitetura.

A ideia de Juscelino para dar corpo ao seu projeto foi cercar-se de técnicos e especialistas que já tinham trabalhado com ele no período que ele foi prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas Gerais. O presidente fez uso sistemático da imprensa para garantir uma imagem positiva do projeto e obter apoio popular.

Uma vez formada a Novacap, ela ficou responsável por promover um concurso para determinar qual seria o desenho urbano da nova capital. Esse concurso recebeu o total de 26 candidaturas, e o resultado, emitido em 16 de março de 1957, determinou a vitória de Lúcio Costa. Segundo a pesquisadora Lara Moreira Alves, o projeto de Costa venceu por planejar uma cidade moderna e com visualidade monumental|2|.

Os quatro grandes nomes da construção de Brasília foram, portanto, o do presidente Juscelino Kubitschek; o do diretor da Novacap, Israel Pinheiro; o do arquiteto do projeto, Oscar Niemeyer; e o do urbanista Lúcio Costa. Por três anos, trabalhadores de todo o Brasil foram para Brasília para participar da sua construção.

Como o prazo para inauguração da cidade era 21 de abril de 1960, o trabalho para a sua construção foi frenético. Os trabalhadores que se mudaram para construí-la eram, em geral, nordestinos e ficaram conhecidos como candangos. Existe uma série de relatos que mostram a precariedade no ofício e nas condições disponibilizadas aos trabalhadores que construíram a capital.

Ao longo da construção, o presidente não economizou com os gastos do projeto, e isso foi muito criticado pela oposição udenista. As historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling afirmam que a UDN criticava “a monumentalidade do projeto, a suspeitíssima urgência, a impossibilidade de a capital ser terminada durante a administração JK”, entre outros fatores|3|.

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Inauguração

Porque a construção de Brasília atraiu imigrantes para essa região?
O projeto arquitetônico de Brasília ficou sob a responsabilidade de Oscar Niemeyer, um dos maiores arquitetos do Brasil.[1]

A cidade de Brasília foi oficialmente inaugurada em 21 de abril de 1960, marcando a transferência da capital do Rio de Janeiro para o centro do país. Não se sabe exatamente quanto foi gasto na sua construção, mas estudos sugerem que o valor chegou aos bilhões de dólares em valores atuais.

A construção de Brasília sintetizou o projeto de JK e a sua busca pela modernização do país. O historiador Thomas Skidmore sugere que a sua construção também foi utilizada como distração para os problemas do governo e tirou os olhos da nação de graves problemas que existiam no país, como a questão da inflação, a falta de vagas nas universidades e as reivindicações por reforma agrária|4|.

Notas

|1| LIMA, Jônatas Soares de. O progresso é para todos: o território do cerrado visto e revisto por meio dos filmes informativos nos anos JK (1956-1961). Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Goiás. Anápolis, 2016, p. 50.

|2| ALVES, Lara Moreira. A construção de Brasília: uma contradição entre utopia e realidade. Para acessar, clique aqui.

|3| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 427.

|4| SKIDMORE, Thomas E. Brasil: de Getúlio a Castello (1930-1964). São Paulo: Companhia das Letras, 2010, p. 206.

Créditos das imagens

[1] FGV/CPDOC

Por que a construção de Brasília atraiu imigrantes?

Nordestinos e nortistas em sua maioria, vinham atraídos pela chance de um novo começo.

Como a construção de Brasília impactou a migração brasileira?

Além disso, a Capital Federal é polo de atração para milhares de migrantes, o que causa um grande fluxo migratório e consequente explosão demográfica acima da média nacional. O crescimento populacional acima do planejado vem causando forte pressão sobre os recursos naturais desta área.

Qual foi o principal objetivo da construção de Brasília?

A construção de Brasília foi a concretização de um projeto nacional que existia desde o século XIX, cujo intuito era o de levar a capital do nosso país para o planalto central. Essa obra aconteceu entre 1957 e 1960 e foi viabilizada pelo governo de Juscelino Kubitschek.

Quais foram as consequências da construção de Brasília?

Houve falta de planejamento financeiro, recursos mal administrados, gastos desenfreados e verba desviada. Como consequência, nos anos seguintes, a inflação disparou, a população empobreceu e a desigualdade social cresceu. Outra consequência foi a desigualdade regional.