Resumo:O presente artigo foi produzido mediante a comemoração dos 15 anos do Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos (Satepsi). Inicialmente serão apresentados aspectos históricos que fundamentam a decisão do Conselho Federal de Psicologia (CFP) de criar um sistema de análise dos instrumentos, bem como alguns dos desafios vivenciados pela comunidade científica nesses anos. Em seguida, a partir de uma revisão de estudos sobre os testes psicológicos disponíveis no Satepsi, pretende-se discutir a evolução das características dos testes psicológicos disponíveis no Brasil. Buscou-se contrastar os dados das pesquisas recentes com um levantamento feito em fevereiro de 2018 no Satepsi. No levantamento, foram identificados 180 testes psicológicos com pareceres favoráveis, sugerindo que do ponto de vista quantitativo praticamente quadruplicou o número de testes disponíveis no mercado desde a criação do Satepsi. Além disso, nota-se que a qualidade do material acompanhou os avanços da área. A partir das análises feitas, defende-se a importância do Satepsi para assegurar que materiais de qualidade estejam acessíveis para uso dos psicólogos. Show Palavras-chave: Abstract:This paper was produced to celebrate the 15th anniversary of the Psychological Test Assessment System (in Brazil Satepsi). Initially, the historical aspects that underpin the Federal Council of Psychology's decision to create a system of analysis instruments will be presented, as well as some challenges faced by the scientific community in the past years. Thereafter, stemming from a review of carried out studies on the available psychological test in the Satepsi, the evolution of the available psychological tests’ features in Brazil are discussed. Current research's data were contrasted with a survey performed in February, 2018, at Satepsi. 180 psychological tests with favorable positions were identified, suggesting that, from a quantitative point view, the number of available tests on the market virtually quadruplicated since the Satepsi creation. Furthermore, it was noticed that the quality of the material accomplished the advances in the area. Stemming from the carried out analysis, the importance of the Satepsi to assure that good materials will be reachable on use by psychologists is upheld. Keywords: Resumen:El presente artículo fue producido mediante la conmemoración de los 15 años del Sistema de Evaluación de las Pruebas Psicológicas (en Brasil SATEPSI). Inicialmente van a ser presentados aspectos históricos que fundamentan la decisión del Consejo Federal de Psicología (CFP) de crear un sistema de análisis de los instrumentos, así como algunos de los desafíos vivenciados por la comunidad científica en estos años. Después, a partir de una revisión de los estudios sobre las pruebas psicológicas disponibles, se pretende discutir la evolución de las características de las pruebas psicológicas disponibles en Brasil. Se busca contrastar los dados de las investigaciones recientes con uno levantamiento hecho, en febrero de 2018, en SATEPSI. Fueron identificados 180 pruebas psicológicas con dictamen favorables, sugiriendo que del punto de vista cuantitativo prácticamente cuadruplicó el número de pruebas disponibles en el mercado desde la creación del SATEPSI. Además, se nota que la cantidad del material acompañó los avances del área. A partir de las análisis hechas, se defiende la importancia del SATEPSI para garantizar que los materiales de calidad estén accesibles para el uso de los psicólogos. Palabras claves: Os avanços na área da Avaliação Psicológica são crescentes (Primi,
2010Primi, R. (2010). Avaliação psicológica no Brasil: Fundamentos, situação atual e direções para o futuro. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(spe), 25-35.: https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500003 O surgimento do Satepsi não ocorreu de forma isolada ou inesperada na história da Psicologia brasileira. No período de sua criação, a área da Avaliação Psicológica estava se recuperando de uma crise internacional, apontada por Anastasi ao assumir a presidência da American Psychological Association em 1967. Ela indicava que os psicólogos que lidavam com técnicas psicométricas estariam se afastando das correntes centrais da Psicologia contemporânea e que pareciam descartar seu conhecimento psicológico. Esse acontecimento levou outros autores a reiterar as críticas feitas por ela de que essa crescente dissociação estaria levando a área de Avaliação Psicológica à marginalização. A superação desta crise se deu a partir da década de 1980 nos Estados Unidos da América (EUA) e a partir da década de 1990 no Brasil (Hutz, & Bandeira, 2003Hutz, C. S., & Bandeira, D. R. (2003) Avaliação psicológica no Brasil: Situação atual e desafios para o futuro. In: O. H. Yamamoto, & V. V. Gouveia (Eds.), Construindo a psicologia brasileira: desafios da ciência e prática psicológica (pp.261-275). São Paulo, SP: Casa do Psicólogo.). Concomitante à superação dessa crise, surgiram no Brasil, na década de 1990, as principais entidades da área da Avaliação Psicológica atuantes até o presente. São associações de professores, pesquisadores e profissionais da área de Avaliação Psicológica, tais como: a Associação Brasileira de Orientação Profissional (ABOP), em 1993; a
Associação Brasileira de Rorschach e Métodos Projetivos (ASBRo), em 1993; e o Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP), em 1997. Estas entidades foram fundadas em congressos científicos nacionais de suas áreas e se mantêm ativas até o presente, com a realização de congressos bianuais. Além disso, com objetivo de agregar as diversas demandas das entidades de Psicologia, foi fundada em 1997 o Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira (FENPB), que atualmente congrega 24
grandes entidades nacionais (FENPB, 2018Fórum de Entidades Nacionais da Psicologia Brasileira – FENPB. (2018). Sobre o FENPB. Recuperado de http://www.fenpb.org/sobre/ A partir de uma visita aos sites das entidades, foram encontradas as seguintes informações: A ABOP realizou desde sua fundação até o presente oito congressos nacionais, a ASBRo está no seu nono congresso nacional, o IBAP realizou oito congressos brasileiros e o FENPB, que é responsável pela organização do Congresso Brasileiro de Psicologia (CBP), está na quinta edição. Além destes grandes eventos nacionais, destaca-se também o evento regional mineiro iniciado em 1993 (Encontro Mineiro de Avaliação Psicológica – EMAP) que, devido seu sucesso e prosperidade, já atinge uma dimensão quase nacional e está atualmente em sua 13ª Edição. Esses congressos reúnem periodicamente professores, pesquisadores, profissionais e alunos que canalizam suas produções na área de Avaliação Psicológica para exposição. Para se ter uma dimensão da amplitude da produção científica atual, nos últimos congressos do IBAP e da ABOP, em 2017, foram apresentados, respectivamente, 569 e 255 trabalhos científicos e no último congresso da ASBRo, em 2016, foram apresentados 126 trabalhos. Todos estes trabalhos passaram por avaliações prévias por pares e são reconhecidos como tendo qualidade técnica para serem expostos nos eventos. O impacto desse avanço da área também refletiu na ampliação dos Grupos de Trabalho (GTs) da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia (ANPEPP), que facilita o encontro de pesquisadores e, consequentemente, da articulação das pesquisas das mais diversas áreas da Psicologia (Primi, 2010Primi, R. (2010). Avaliação psicológica no Brasil: Fundamentos, situação atual e direções para o
futuro. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(spe), 25-35.: https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500003 Ao mesmo tempo em que a área da Avaliação Psicológica avançava com vigor, os próprios Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs) e o CFP também recebiam inúmeros processos éticos disciplinares oriundos das práticas inadequadas da Avaliação Psicológica pelo Brasil afora. Além desses processos internos, o CFP também passou a receber representações judiciais de pessoas e categorias que alegavam terem sido prejudicadas por testes psicológicos, sobretudo em concursos, e requeriam que eles fossem extintos no Brasil. Até o
início dos anos 2000, realmente inexistia no Brasil qualquer controle de qualidade dos testes psicológicos e os pesquisadores da área já reconheciam a baixa qualidade técnica de muitos instrumentos disponíveis no mercado na época. No entanto, nos EUA já havia um sistema de revisão de testes, conceituado internacionalmente e até hoje considerado como referência, o Buros Institute of Mental Measurements, cuja primeira edição foi publicada por Oscar Buros em 1938. Embora se tivessem notícias
que outros países também estivessem desenvolvendo seus próprios sistemas nacionais, a instituição do Satepsi colocou o Brasil como um dos pioneiros na implementação de um sistema de certificação baseado em critérios internacionais de qualidade de todos os testes usados profissionalmente em um país (Primi, 2010Primi, R. (2010). Avaliação psicológica no Brasil: Fundamentos, situação atual e direções para o futuro. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(spe), 25-35.:
https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500003 De forma geral, pode-se dizer que os pesquisadores que criaram as entidades científicas de Avaliação Psicológica e os pesquisadores que a elas se associaram foram, praticamente, os mesmos atores que contribuíram para o fortalecimento da área de Avaliação Psicológica dentro do próprio CFP. Foram também os atores que – a muitas mãos – auxiliaram o CFP a editar a Resolução nº 002/2003 e a criar o Satepsi. Esses mesmos atores trouxeram os fundamentos técnico-científicos de experiências internacionais consolidadas para a composição das normativas nacionais, como por exemplo: ITC Guidelines on Adapting Tests, da International Test Commission, 2000; Standards for Educational and Psychological Testing, da American Educational Research Association, American Psychological Association & National Council on Measurement in Education, 1999; e, Guidelines for Educational and Psychological Testing, da Canadian Psychological Association, 1996 (Resolução CFP nº 002/2003). Os avanços não tinham sido suficientes para diminuir as demandas judiciais de pessoas que alegavam serem prejudicadas por testes psicológicos utilizados por psicólogos e, com isso, percebia-se que a área ainda não estava pacificada. Um momento crítico experimentado pela categoria foi quando o Ministério Público Federal (MPF) moveu uma Ação Civil Pública em desfavor do CFP, em especial contra a recém-editada Resolução CFP n° 002/2003. O MPF buscava tutela jurisdicional para exigir a abstenção de atos do CFP, por considerar que estes extrapolavam sua competência legal. O MPF pedia, liminarmente, que fosse proibida a comercialização e também a suspensão do uso de todo e qualquer teste psicológico no território nacional, com a apreensão dos produtos disponíveis no mercado, até que a União implementasse no Brasil os procedimentos para regularização dos testes psicológicos, pois considerava o CFP incompetente para tais ações. A sentença de Ação Improcedente, julgada pela Justiça Federal, confirmou o CFP como instância máxima de avaliação dos testes psicológicos no país sendo, portanto, o seu papel regulamentar esta prática no Brasil. Foi uma grande vitória da categoria, cuja luta foi coordenada pelo próprio CFP com o apoio de todas as entidades científicas da área (CFP, 2007Conselho Federal de Psicologia – CFP. (2007). Teste psicológico: vitória para o CFP. Brasília, DF: o autor.). A instituição do Satepsi consolidou um importante marco para área da Avaliação Psicológica no Brasil. Estavam instituídos os parâmetros normativos, compatíveis com os internacionais, para a categoria tanto para a produção científica como para o exercício da profissão na área de Avaliação Psicológica. Os congressos de todas as entidades nacionais, a partir de 2003, rapidamente incorporaram os parâmetros da nova resolução do CFP. Em parte, porque estavam assimilados em sua prática e em parte porque passou a ser tema central no ensino da Avaliação Psicológica em todo Brasil. Em 2012, o Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica resgatou a relevância da formação dos psicólogos e publicou as “Diretrizes para Ensino da Avaliação Psicológica”. O documento estruturou-se em quatro tópicos, a saber, 1) “Competências em Avaliação Psicológica” que os profissionais devem desenvolver; 2) as “Disciplinas e Conteúdos Programáticos” fundamentais para uma boa formação; 3) a “Estrutura de Ensino” indicando a necessidade de criação de Laboratórios, testotecas, bibliografia atualizada e formação dos professores da área; 4) “Referências” bibliográficas atualizadas sugeridas para as disciplinas da área (Nunes et al., 2012Nunes, M. F. O., Muniz, M., Reppold, C. T., Faiad, C., Bueno, J. M. H., & Noronha, A. P. P. (2012). Diretrizes para o ensino de avaliação psicológica. Avaliação Psicológica, 11(2), 309-316.). Em 2015, o IBAP publicou o primeiro Catálogo dos Laboratórios de Avaliação Psicológica no Brasil, distribuídos por região do país, com informações sobre a data de fundação, pesquisadores, linhas de pesquisa e filiação institucional. Nesta publicação, foram identificados 46
Laboratórios e Centros de Estudos em Avaliação Psicológica no Brasil, indicando que a maioria deles foram criados após o Satepsi (IBAP, 2015Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica – IBAP. (2015). Catálogo dos laboratórios de avaliação psicológica no Brasil. São Paulo, SP: o autor. Recuperado em http://www.ibapnet.org.br/congresso2015/arquivos
A criação do Satepsi foi inicialmente questionada e até mesmo repudiada por muitos psicólogos, pois estes profissionais sentiam-se habilitados a manejar os instrumentos disponíveis que conheciam e mediante a retirada de circulação de vários deles pelo CFP, alegavam estarem sendo prejudicados no exercício da profissão. No entanto, a realidade
dos instrumentos disponíveis à época indicava problemas graves, como citado por Noronha, Primi e Alchieri (2004)Noronha, A. P. P, Primi, R., & Alchieri, J. C. (2004) Parâmetros psicométricos: uma Análise de testes psicológicos comercializados no Brasil. Psicologia Ciência e Profissão, 24(4), 88-99.
https://doi.org/10.1590/S1414-98932004000400011. Com o passar dos anos, os avanços que o sistema trouxe para a área foram reconhecidos. Para Primi e Nunes (2010)Primi, R. (2010). Avaliação psicológica no Brasil: Fundamentos,
situação atual e direções para o futuro. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(spe), 25-35.: https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500003 Noronha e Reppold (2010)Noronha, A. P. P., & Reppold, C. T. (2010). Considerações sobre a avaliação Psicológica no Brasil. Psicologia: Ciência e Profissão, 30(spe), 192-201. https://doi.org/10.1590/S1414-98932010000500009
No que tange ao reconhecimento
científico dos instrumentos, há que se considerar o aumento na quantidade e diversidade de testes psicológicos disponíveis no mercado. Segundo Primi e Nunes (2010)Primi, R. (2010). Avaliação psicológica no Brasil: Fundamentos, situação atual e direções para o futuro. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(spe), 25-35.: https://dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500003
A Figura evidencia que dos 180 instrumentos disponíveis aos profissionais em fevereiro de 2018, 41 deles, ou 22,78%, receberam parecer favorável em 2003, na época em que foi implantado o Satepsi. Nos últimos 15 anos quase quadruplicou a quantidade de testes aprovados disponíveis aos profissionais, evidenciando uma produção constante por parte dos pesquisadores brasileiros. A Resolução CFP n° 009/2018 define que as normas técnicas dos testes devem ser revisadas a cada 15 anos. Portanto, em 2018, que muitos instrumentos precisam apresentar normas técnicas atualizadas, sendo possível que alguns deles – hoje favoráveis – passem por um período como desfavorável, até que seus autores e/ou editoras os atualizem com novas normas. Figura Para além da quantidade, nota-se uma diversidade no público-alvo para os quais os testes se destinam e também os construtos medidos pelos instrumentos disponíveis (Reppold et al. 2017aReppold, C. T., Serafini, A. J., Ramires, D. A., & Gurgel, L. G. (2017a). Análise dos manuais
psicológicos aprovados pelo SATEPSI para avaliação de crianças e adolescentes no Brasil. Avaliação Psicológica, 16(1), 19-28. https://dx.doi.org/10.15689/ap.2017.1601.03. Reppold et al. (2017a)Reppold, C. T., Serafini, A. J., Ramires, D. A., & Gurgel, L. G. (2017a). Análise dos manuais psicológicos aprovados pelo SATEPSI para avaliação de crianças e adolescentes no Brasil. Avaliação Psicológica, 16(1), 19-28.
https://dx.doi.org/10.15689/ap.2017.1601.03. Em outro estudo, Reppold et al. (2017b)Reppold, C. T., Serafini, A. J., Gurgel, L. G., & Kaiser, V. (2017b). Avaliação de aspectos cognitivos em adultos: análise de manuais de instrumentos aprovados. Avaliação Psicológica, 16(2), 137-144. https://dx.doi.org/10.15689/AP.2017.1602.03 Com método semelhante, Reppold et al. (2017c)Reppold, C. T., Serafini, A. J., Magnan, E. S., Damion, M., Kaiser, V., & Almeida, L. (2017c). Análise de manuais de testes psicológicos aprovados pelo SATEPSI para adultos. Psicologia Teoria e Prática, 16(1), 19-28.
http://dx.doi.org/10.15689/ap.2017.1601.03 Vale a pena destacar que todos os instrumentos avaliados nos estudos descritos estavam à época com status de “favorável” no Satepsi, portanto, atenderam as
especificações técnico-científicas dos requisitos mínimos obrigatórios relacionados a: (1) Fundamentação teórica; (2) objetivos do teste e contexto de aplicação, detalhando a população-alvo; (3) pertinência teórica e qualidade técnica dos estímulos utilizados nos testes; (4) evidências empíricas sobre as características técnicas dos itens do teste; (5) evidências empíricas de validade e estimativas de precisão das interpretações para os resultados do teste; (6) um sistema de correção e
interpretação dos escores, podendo esse ser referenciado à norma ou não; e (7) orientações explícitas sobre aplicação e correção para que haja a garantia da uniformidade dos procedimentos. Entretanto, em diversos manuais são descritas as “qualidades psicométricas” sem necessariamente especificar o tipo de estudo realizado e, em alguns casos, o instrumento apresentou discrepância entre a faixa etária indicada e as amostras populacionais com as quais foram feitos os estudos de evidências de
validade (Reppold et al., 2017aReppold, C. T., Serafini, A. J., Ramires, D. A., & Gurgel, L. G. (2017a). Análise dos manuais psicológicos aprovados pelo SATEPSI para avaliação de crianças e adolescentes no Brasil. Avaliação Psicológica, 16(1), 19-28. https://dx.doi.org/10.15689/ap.2017.1601.03. Sobre este
aspecto, Reppold et al. (2017b)Reppold, C. T., Serafini, A. J., Gurgel, L. G., & Kaiser, V. (2017b). Avaliação de aspectos cognitivos em adultos: análise de manuais de instrumentos aprovados. Avaliação Psicológica, 16(2), 137-144. https://dx.doi.org/10.15689/AP.2017.1602.03 A adequada discriminação do público-alvo dos testes é imprescindível para assegurar que os profissionais possam escolher qual instrumento é mais adequado para uso. Devido essa discrepância, é importante que os psicólogos fiquem atentos aos estudos normativos descritos nos manuais, bem como que os pesquisadores sejam mais prudentes no que se refere à descrição do público-alvo para qual o manual se destina. No sentido de facilitar a identificação desses dados úteis para adequada seleção dos instrumentos, na resolução CFP n° 009/2018 passou também a ser exigido que os manuais incluam uma ficha síntese informando objetivo, público-alvo, material, aplicação e correção. Além disso, observa-se que em maio de 2018, houve uma atualização do site do Satepsi que passou a fornecer informações sobre autores, editora, construto, público-alvo, idade da amostra de normatização, aplicação (coletiva/individual), correção (informatizada/manual), data de aprovação na plenária e os prazos dos estudos de normatização e de validade para cada um dos testes que possui parecer favorável. Considera-se um avanço a disponibilização desses dados no Satepsi na medida em que facilitará a identificação dessas informações, contribuindo para tomada de decisão sobre qual teste o profissional pode
usar. Esse ajuste no site vai ao encontro das demandas de pesquisadores, que recentemente apontaram a relevância de ampliar as informações disponíveis no site para além do dado favorável ou desfavorável, possibilitando que os profissionais pudessem consultar o site para obter outras informações que são uteis na etapa de seleção dos testes psicológicos durante um processo de avaliação (Reppold et al., 2017aReppold, C. T., Serafini, A. J., Ramires, D. A., &
Gurgel, L. G. (2017a). Análise dos manuais psicológicos aprovados pelo SATEPSI para avaliação de crianças e adolescentes no Brasil. Avaliação Psicológica, 16(1), 19-28. https://dx.doi.org/10.15689/ap.2017.1601.03. A partir da pré-seleção dos testes mais indicados, considerando as características do construto e do público-alvo, o psicólogo também pode consultar no Satepsi qual editora comercializa o instrumento de interesse. De acordo com as tabelas apresentadas no estudo
de Reppold et al. (2017c)Reppold, C. T., Serafini, A. J., Magnan, E. S., Damion, M., Kaiser, V., & Almeida, L. (2017c). Análise de manuais de testes psicológicos aprovados pelo SATEPSI para adultos. Psicologia Teoria e Prática, 16(1), 19-28. http://dx.doi.org/10.15689/ap.2017.1601.03 Na comercialização dos testes psicológicos há uma representação, ainda que modesta, de laboratórios de pesquisa e empresas vinculadas a pesquisadores de Instituições de Ensino Superior que comercializam instrumentos, tais como o Instituto de Psicologia (LabPAM-UnB), em Brasília; o Laboratório de Avaliação e Medidas Psicológicas (LAMP-PUCcamp), em São Paulo; e a Empresa Distribuidora de Testes Ltda (Edites), em Minas Gerais. Ao fazer uma associação entre o ano de publicação e as editoras responsáveis pela comercialização dos testes psicológicos, nota-se que 12 dos testes comercializados pelos laboratórios de pesquisa tinham data anterior a 2003 e que a maioria dos testes publicados entre 2004 e 2006 era oriunda de laboratórios de pesquisa. Nota-se, entretanto, que o mercado brasileiro de comercialização dos testes psicológicos passou por mudanças significativas, de modo que algumas empresas brasileiras foram adquiridas por multinacionais. Ao analisar a lista dos 180 testes psicológicos com parecer favorável em fevereiro de 2018, verificou-se que 162 (90%) são escalas, inventários, questionários e tarefas cognitivas para resolução. Para além do avanço quantitativo, nota-se que este dado reflete o progresso dos estudos na área da Psicometria, tanto da Teoria Clássica dos Testes (TCT) quanto da Teoria de Resposta ao Item (TRI). Ambas pressupõem que os testes e/ou itens são representantes legítimos, adequados e válidos do construto avaliado, e ambas têm como parâmetros importantes a validade e a precisão para legitimação das medidas. As duas teorias também pressupõem que uma medida empírica é,
necessariamente, a derivação de um construto teórico, ou seja, a medida atende ao princípio do isomorfismo, em que o estímulo (o teste ou o item) é equivalente ao traço avaliado. Diferindo-se pelo fato de que na TCT o critério avaliado é o comportamento, considerado como um representante válido do construto que está sendo mensurado (modelo comportamental). O eixo principal desta teoria está no controle da magnitude do erro da medida (para que seja o mais próximo de zero possível) e a precisão
(fidedignidade) do teste como um todo (escore geral do teste) para mensurar o construto em questão. Já na TRI, o critério avaliado não é o comportamento, e sim o traço latente de cada pessoa, ou seja, sua tendência a expressar determinada conduta/característica/competência (modelo cognitivo). O principal esforço da TRI é fazer uma adequada operacionalização do construto teórico em itens válidos que representem o traço latente. Cada item, individualmente, deve ter boas propriedades psicométricas
aferidas pela Curva Característica do Item (CCI), que é a capacidade de diferenciar pessoas com maior e menor habilidade/proficiência (Pasquali, 2009Pasquali, L. (2009). Psicometria. Revista Escola de Enfermagem da USP, 43(Esp), 992-999. https://doi.org/10.1590/S0080-62342009000500002. Os instrumentos psicométricos primam por quatro parâmetros básicos, a saber, a) padronização; b) validade; c) fidedignidade; d) normas. Com o advento do Satepsi, estas características têm sido cada vez mais aperfeiçoadas, pois observa-se que todos os instrumentos aprovados contemplam de forma explícita cada um deles:
Voltando à lista dos 180 testes psicológicos com parecer favorável no Satepsi em fevereiro de 2018, 18 (10%) eram métodos projetivos (Tabela 1). De acordo com Reppold et al. (2017c)Reppold, C. T., Serafini, A.
J., Magnan, E. S., Damion, M., Kaiser, V., & Almeida, L. (2017c). Análise de manuais de testes psicológicos aprovados pelo SATEPSI para adultos. Psicologia Teoria e Prática, 16(1), 19-28. http://dx.doi.org/10.15689/ap.2017.1601.03 Tabela 1 Reppold et al. (2017c)Reppold, C. T., Serafini, A. J., Magnan, E. S., Damion, M., Kaiser, V., & Almeida, L. (2017c). Análise de manuais de testes psicológicos aprovados pelo SATEPSI para adultos. Psicologia Teoria e Prática, 16(1), 19-28.
http://dx.doi.org/10.15689/ap.2017.1601.03 Destaca-se que embora o Rorschach tenha cinco sistemas interpretativos com parecer favorável, todos utilizam o mesmo estímulo. Sobre isso, cabe ressaltar que o profissional que usa os métodos projetivos deve ficar atento à qualidade gráfica do material usado na administração, visando preservar as características dos estímulos. No caso do Rorschach, por exemplo, recentemente houve denúncia ao CFP que estariam sendo comercializados estímulos diferentes dos originais (CFP, 2017Conselho Federal de Psicologia – CFP. (2017). Parecer N° 1/2017/Gtec/Cg. Comercialização das pranchas de Rorschach sem comprovação científica e sem aprovação do CFP. Brasília, DF: o autor.). O uso de material diferente do orginalmente estudado é considerado um problema ético, pois as características da coloração e sombreamento das manchas de tinta interferem diretamente na percepção do examinando. Essa situação é bastante grave na medida em que todos os parâmetros interpretativos e normativos foram estabelecidos considerando as características do estímulo. Nota-se, deste modo, que preservar a qualidade gráfica dos cartões, seja do Rorschach ou de qualquer outro método projetivo, é imprescindível. Na Tabela 1, verifica-se que três métodos projetivos foram aprovados em 2003. No que se refere ao primeiro da lista, a Técnica de Zulliger (Z-teste), novos estudos tiveram parecer favorável em 2016, ampliando o uso para administração tanto coletiva quanto individual. Para que os demais se mantenham na lista de instrumentos com parecer favorável será preciso que seus responsáveis técnicos submetam novos estudos a serem analisados. Caso haja mais interesse em informações sobre cada um dos métodos projetivos listados na Tabela, sugere-se a leitura de Villemor-Amaral e Werlang (2008)Villemor-Amaral, A. E., & Werlang, B. S. G. (2008) Atualizações em métodos projetivos para avaliação psicológica. São Paulo, SP: Casa do Psicólogo. e de Hutz, Bandeira e Trentini (2018)Hutz, C. S., Bandeira, D. R., & Trentini, C. M. (2018). Avaliação psicológica da inteligência e da personalidade. Porto Alegre, RS: Artmed. . Nos manuais mais recentes, seja de métodos projetivos ou psicométricos, há um detalhamento mais amplo das informações, bem como uma quantidade maior de estudos psicométricos (Reppold et al., 2017aReppold, C. T., Serafini, A. J., Ramires, D. A., & Gurgel, L. G. (2017a). Análise dos manuais psicológicos aprovados pelo SATEPSI para avaliação de crianças e adolescentes no Brasil. Avaliação Psicológica, 16(1), 19-28.
https://dx.doi.org/10.15689/ap.2017.1601.03. Referências
O que o Satepsi avalia?O SATEPSI foi desenvolvido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) com o objetivo de avaliar a qualidade técnico-científica de instrumentos psicológicos para uso profissional, a partir da verificação objetiva de um conjunto de requisitos técnicos e divulgar informações sobre os testes psicológicos à comunidade e às( ...
Como são avaliados os testes psicológicos?Nessa avaliação, a pessoa desenha diversos traços verticais (os palos), que são avaliados de acordo com sua disposição e formato. Essas características indicarão alguns aspectos da personalidade do indivíduo, como iniciativa, capacidade de organização, inteligência emocional, entre outros.
Quais são as principais características de um teste psicológico?Testes psicológicos são uma das mais típicas técnicas de avaliação, que se caracterizam como medida objetiva e padronizada de uma amostra de comportamento.
Qual o objetivo da utilização dos testes psicológicos?O teste psicológico é uma método de avaliação utilizado exclusivamente por psicólogos e tem como objetivo analisar os traços de personalidade e características psicológicas dos indivíduos. Eles podem ajudar a entender como as pessoas se comportam diante de diferentes situações.
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