Qual a diferença entre ginástica natural e ginástica analítica

Para os gregos, era. Quando Platão, por intermédio de Sócrates, afirma que a Educação ideal compreendia a ginástica para o corpo e a música para a alma, usava conotações peculiares à época. Música significava "cultura espiritual", envolvendo a história, poesia, drama, ciência, oratória e a música propriamente dita. A ginástica - etimologicamente "a arte de desenvolver o corpo nu" - compreendia todos os exercícios físicos, englobando as corridas, saltos, lançamentos e lutas. Tal qual a concebemos, provavelmente a ginástica já era praticada, sendo também aí incluída. Nessa época, a ginástica denota uma preocupação de ordem médica, haja vista a definição que Platão lhe destinara: "A ginástica tem por objetivo regular a assimilação e a desassimilação e obter a simetria fisiológica da vida orgânica, da qual dependem a saúde, a força e outros bens físicos". Dois séculos depois de Platão, a ginástica não possuía mais aquele sentido grego tão abrangente, mas a abordagem médica ainda era preponderante.

Em De Arte Ginástica, o médico renascentista Mercuriale conceituou ginástica como "a capacidade de prever o efeito dos exercícios corporais e de conhecer a sua execução prática, a fim de obter e conservar a saúde e o bem- estar". A partir do século XIX foi-se firmando o conceito de ginástica como sendo atividade física que, artificial e intencionalmente, provocaria modificações anatômicas e fisiológicas no corpo humano. Era a ginástica racional e científica, considerada agora como elemento da Educação Física, expressão cunhada em fins do século XVIII.

Essa artificialidade começou a ser combatida quando, principalmente na Áustria e na Alemanha, surgiram métodos que preconizavam uma "ginástica natural", em oposição à antiga ginástica com efeitos localizados. A partir daí exacerbou-se o conflito artificial X natural, pois esta última passou a ser defendida pelos professores que queriam dar um cunho eminentemente pedagógico à ginástica. A ginástica artificial utiliza-se exclusivamente de exercícios analíticos, aqueles que, pela fixação deliberada de alguns segmentos do corpo, localizam o trabalho muscular e articular pretendido. O exercício natural, por sua vez, implica a movimentação do corpo entendido como uma totalidade.

Ora, a simples observação do cotidiano leva à conclusão de que os gestos e os movimentos no ser humano são globais. Quando alguém se abaixa para apanhar um objeto que caiu ao solo, não o faz com as pernas esticadas e com as costas retas. O corpo trabalha como um todo, de forma total e natural. Um grupo de crianças brincando na hora do recreio ou num parque desvenda a espontaneidade com que se movimentam: elas correm, saltam, saltitam, lançam, lutam e rolam. São as manifestações de expressão espontânea do ser humano. Realizam atividades que não dependem, isoladamente, de determinadas regiões do corpo. Desenvolvem suas brincadeiras de forma natural e global, não dependendo de modelos preconcebidos ou de cópias irrefletidas.

A ginástica - natural ou artificial - deve ser analisada à luz dos seus objetivos. Os exercícios analíticos têm aplicação para os fins corretivos a que originariamente se destinavam. Mesmo assim, exigirá do professor de Educação Física um conhecimento profundo de disciplinas da área médica, além da necessidade de especialização em fisioterapia. Essa, porém, é a modalidade que mais tem aplicação nas academias de ginástica e, até mesmo, nas escolas - aqui, totalmente condenada. O que é evidente, sem dúvida, é a visceral ligação da ginástica com a Medicina, chegando mesmo, em alguns momentos, a se confundirem.

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Introdu��o

    A Gin�stica sempre foi proposta como pr�tica corporal nos mais diferentes locais e per�odos hist�ricos. O termo Gin�stica veio ganhando diferentes defini��es de acordo com �pocas, culturas e interesses diversos (FIORIN, 2002). Em alguns momentos, chegou a designar toda e qualquer atividade f�sica sistematizada, abrangendo desde exerc�cios militares at� pr�ticas esportivas.

    No s�culo XIX, passou por um processo de sistematiza��o, denominado de Movimento Gin�stico Europeu, que objetivava romper seus v�nculos com pr�ticas populares, al�m de disciplinar a popula��o moral e fisicamente (SOARES, 2002). Deste processo, resultaram os M�todos Gin�sticos.

    Tais m�todos foram os precursores da gin�stica atual, assim como de diversas pr�ticas da Educa��o F�sica. Eles �[...] tiveram desenvolvimentos simult�neos, favorecendo a troca de informa��es entre os mesmos� (FIGUEIREDO; HUNGER, 2010, p.193) e criando uma rela��o bastante din�mica entre eles, na qual encontramos semelhan�as e diverg�ncias.

    Caracterizar os M�todos Gin�sticos oriundos do Movimento Gin�stico Europeu, relacionando-os, nos permite compreender a g�nese e estrutura��o da Gin�stica atual. Para tanto, realizou-se uma pesquisa bibliogr�fica que, segundo Marconi e Lakatos (2002), coloca o pesquisador em contato direto com o material j� publicado em rela��o ao tema de estudo. A bibliografia consultada foi composta de livros, disserta��es, teses e artigos cient�ficos, publicados na �rea da Educa��o F�sica, sem delimita��o do per�odo de publica��o, em raz�o da escassez de material que abordasse o hist�rico e as caracter�sticas da Gin�stica, assim como foram priorizados os materiais pertencentes aos idiomas portugu�s, ingl�s e espanhol.

    Inicialmente foi feita uma leitura explorat�ria, que determinou qual material tinha relev�ncia para a pesquisa (GIL, 2010), seguida por uma leitura anal�tica que foi fundamental para a ordena��o das informa��es obtidas, de forma que viessem a responder os problemas da pesquisa (GIL, 2010).

    Os dados obtidos na an�lise do material foram utilizados para a constru��o de uma narrativa que caracteriza e estabelece uma rela��o entre os M�todos Gin�sticos e a Gin�stica atual.

O Movimento Gin�stico Europeu

    Na Europa, no s�culo XIX, era comum apresenta��es de ruas de fun�mbulos, acrobatas e artistas.

    Nos meios urbanos, s�o diferentes manifesta��es l�dicas de car�ter popular realizadas com base nas atividades circenses que se imp�em [...]. Suas apresenta��es aproveitavam dias de festas, feiras, mantendo uma tradi��o de representar e de apresentar-se nos lugares onde houvesse concentra��o de pessoas do povo. Artistas, estrangeiros, errantes. Situados no limite da marginalidade fascinavam as pessoas fincadas em vidas metrificadas e fixas. Eram ao mesmo tempo elementos de barb�rie e de civiliza��o nos lugares por onde passavam (SOARES, 2002, p. 24, 25).

    O grande fasc�nio gerado por tais exibi��es passou a ser motivo de apreens�o do Estado, �pois seu modo de ser e viver desafiava as institui��es, t�o caras � sociedade que as inventara de modo t�o profundo� (SOARES, 2002, p. 25). Desse modo, como rea��o a tais acontecimentos, surge o Movimento Gin�stico Europeu, um processo de sistematiza��o da Gin�stica, com o intuito de moralizar os indiv�duos e a sociedade.

    Embasado nas ci�ncias biol�gicas e influenciado pela Revolu��o Industrial em ascens�o, difundia o higienismo e trazia como princ�pios a utilidade dos gestos e economia de energia. De car�ter disciplinador, ordenativo e met�dico, exigia o afastamento de seus v�nculos populares, do uso do corpo como simples entretenimento. Surgia a� a chamada Gin�stica Cient�fica que deu origem aos M�todos Gin�sticos (SOARES, 2002).

    �Estes m�todos foram sistematiza��es criadas por m�dicos, pedagogos ou militares que tentavam organizar a pr�tica das atividades f�sicas� (FIORIN, 2002, p. 25-26). Tinham em comum a valoriza��o da sa�de por meio da pr�tica regular de exerc�cios f�sicos associados � transmiss�o de preceitos sociais extremamente patri�ticos, e se diferenciavam por serem espec�ficos �s necessidades de suas popula��es.

    A ascens�o destes M�todos se difundiu por toda a Europa, dotada de um sentimento nacionalista como forma de causar melhorias f�sicas aos jovens que enfrentariam as guerras da �poca, bem como melhorias �tnico-raciais � na��o (FIGUEIREDO; HUNGER, 2010, p.193).

    Encontramos aqui quatro principais escolas: A Escola Alem�, A Escola Sueca, A Escola Francesa e a Escola Inglesa. As tr�s primeiras serviram de suporte para o surgimento dos principais m�todos gin�sticos, o que resultou nos tr�s grandes movimentos gin�sticos da Europa: o Movimento do Oeste na Fran�a, o Movimento do Centro na Alemanha, �ustria e Su��a e o Movimento do Norte englobando os pa�ses da Escandin�via; enquanto que a Escola Inglesa voltou-se para as atividades desportivas (SOUZA, 1997).

    Como o foco de estudo desse trabalho � a Gin�stica, nos aprofundaremos apenas nas tr�s primeiras escolas e seus respectivos m�todos.

A Escola Alem�

    De car�ter extremamente nacionalista, a gin�stica surge na Alemanha com o objetivo de preparar os corpos para a defesa da p�tria, uma vez que esse pa�s ainda n�o havia conquistado sua unidade territorial e vivia sob a constante amea�a de guerras. �Era preciso, portanto, criar um forte esp�rito nacionalista para atingir a unidade, a qual seria conseguida com homens e mulheres fortes, robustos e saud�veis� (SOARES, 2002, p.53). Para tanto, seus idealizadores apoiaram-se nas ci�ncias biol�gicas, para desenvolver seus m�todos.

    Em 1760, inspirado nas doutrinas pedag�gicas de Jean Jacques Rousseau (1712-1778) e John Locke (1632-1704), Johann Bernard Basedow (1723-1790) iniciou um processo de estrutura��o, denominado M�todo Alem�o, que posteriormente atingiu o �pice com os trabalhos de Johann Christoph Friedrich Guts-Muths (1759-1839), Adolph Spiess (1810-18540 e Friedrich Ludwig Jahn (1778-1852). Guts-Muths foi considerado o Pai da Gin�stica Pedag�gica. Para ele, deveria ser organizada pelo Estado e ministrada todos os dias e para todos. Spiess preocupou-se com a inser��o da gin�stica nas escolas e procurou coloc�-la no mesmo plano das demais disciplinas escolares. Jahn, principal respons�vel pela dissemina��o do m�todo entre a popula��o, trouxe ao seu sistema o car�ter militarista e extremamente patri�tico, chegando a criar termos pr�prios, como por exemplo a palavra �Turnen� que significa gin�stica (RAMOS, 1982).

    Os exerc�cios tinham objetivos que transcendiam a forma f�sica. �O turnen tamb�m tinha um exerc�cio moral: alcan�ar autoconfian�a, autodisciplina, independ�ncia, lealdade, e obedi�ncia. Essas eram as metas a serem atingidas por meio de atividades completas e informais� (PUBLIO, 2005, p. 17).

    Os exerc�cios gin�sticos, coordenados paulatinamente, foram grupados em dezessete fam�lias: marchar, correr, saltar, tomar impulso (no cavalete e no cavalo), equilibrar, exerc�cios de barra, exerc�cios de paralela, trepar, arremessar, puxar, empurrar, levantar, transportar, esticar, lutar bra�o a bra�o, saltar arco e pular corda. [...] Al�m dos exerc�cios citados, quando as atividades podiam ser realizadas ao ar livre, a nata��o, a marcha, a equita��o, a esgrima, a luta e os exerc�cios b�licos eram previstos nos programas. A corrida, o arremesso e o salto realizados sob variadas formas constitu�am, com suas pr�ticas, verdadeira escola de atletismo (RAMOS, 1982, p. 188).

    Tamb�m derivado da Escola Alem� temos o M�todo Natural Austr�aco. Em 1926, ap�s o desmembramento do imp�rio provocado pela Primeira Grande Guerra (1914-1918), iniciou-se uma grande reforma com o intuito de regenerar f�sica e moralmente a juventude por meio dos exerc�cios f�sicos (MARINHO, S/D). Desenvolvido em um pa�s formado por v�rios povos, com diversas l�nguas, costumes e h�bitos, tal m�todo de gin�stica sofreu bastante influ�ncia dos m�todos j� existentes, gerando correntes de pensamentos que se diferenciavam em movimentos gin�sticos independentes.

    Buscando ser uma oposi��o ao M�todo Alem�o, dominado por exerc�cios violentos em aparelhos, o sistema austr�aco foi uma varia��o original de ideias interessantes, mais das ci�ncias m�dicas do que pedag�gicas. Sua maior qualidade consistia no fato de buscar ser interessante para as crian�as e incentivar a juventude a manter uma postura correta, despertando uma consci�ncia higi�nica e o desejo de cuidar do corpo para alcan�ar a sa�de. Entretanto, errou pela aus�ncia de condi��es de execu��o e pela falta de controle de intensidade, esquecendo a influ�ncia educativa e formativa dos exerc�cios f�sicos. Seus principais idealizadores foram Margarete Streicher e Karl Gaulhofer. Margarete esfor�ou-se para levar �s escolas uma gin�stica �natural�, com aplica��o de higiene (MARINHO, S/D).

    Considerando as formas de exerc�cios naturais, Gaulhofer aconselha o seguinte: 1) � respirar, andar, sentar, levantar, rodar, saltar; 2.�) � correr, trepar, carregar, jogar, suspender-se; equilibrar-se, e outros atos do trabalho humano; 3�) � movimentos executados em atitudes dos trabalhos ou nas da vida habitual, seja de p�, ajoelhado, acocorado, ou sentado; 4�) � provas para vencer obst�culos ou resist�ncias, 5�) � exterioriza��o dos conhecimentos adquiridos: art�sticos ou acrob�ticos; 6�) � exerc�cios fundamentais de aplica��o: balan�ar-se, levantar-se, carregar, atirar, empurrar, trepar, lutar; 7�) � jogos e esportes, passeios, auto-defesa, nata��o e outros exerc�cios em grupo (MARINHO, S/D, p. 407)

    Vemos que ambos os m�todos surgiram a partir de necessidades militares. Formar indiv�duos aptos a defender a p�tria era imperativo para essas sociedades, para isso, al�m de fortalecer seus corpos era necess�rio despertar o esp�rito nacionalista, atribuindo um aspecto moral aos exerc�cios f�sicos.

    Ou seja, a Escola Alem� se baseou nas ci�ncias biol�gicas para transformar a gin�stica em um meio de educa��o em massa capaz de atender �s necessidades do Estado. Caracter�stica tamb�m encontrada nas demais escolas, mas o que as diferencia s�o seus distintos anseios.

    A Escola Alem� resultou na modalidade competitiva atual Gin�stica Art�stica (PUBLIO, 2005) e �foi a base para a estrutura��o da �Gin�stica Moderna�, que � a atual Gin�stica R�tmica� (FIORIN, 2002, p.27).

A Escola Sueca

    Idealizada por Pehr Henrick Ling (1776�1839), a gin�stica sueca surgiu com a finalidade de extirpar os v�cios da sociedade, em especial o alcoolismo. Com a miss�o de regenerar a popula��o, possu�a um car�ter n�o acentuadamente militar, mas sim �pedag�gico� e �social�. Deveria gerar indiv�duos fortes que pudessem ser �teis � p�tria, como soldados ou trabalhadores civis (SOARES, 2004).

    Ling acreditava que seu m�todo assegurava a sa�de, por ser essencialmente respirat�rio, e a beleza, por seus efeitos corretivos e ortop�dicos. Por isso, o destinou a todos, independente de sexo, idade ou condi��es materiais e sociais, dividindo-o em quatros partes: Gin�stica Pedag�gica ou Educativa � para todas as pessoas, tinha como objetivo assegurar a sa�de, evitar a instala��o de doen�as, v�cios e defeitos posturais e desenvolver normalmente o indiv�duo; Gin�stica Militar- com as mesmas caracter�sticas da pedag�gica, acrescentando os exerc�cios de prepara��o para a guerra; Gin�stica M�dica e Ortop�dica � tamb�m baseada na pedag�gica, objetivava eliminar v�cios e defeitos posturais, sendo espec�fica para cada caso; Gin�stica Est�tica � mais uma vez apoiada na pedag�gica buscou o desenvolvimento harmonioso do organismo, utilizando-se da dan�a e de movimentos suaves para proporcionar beleza e gra�a ao corpo (MARINHO, S/D).

    Levando em considera��o os princ�pios estabelecidos dentro das ci�ncias biol�gicas, Ling criou exerc�cios livres sem aparelhos, de execu��o f�cil e est�tica, al�m de saltos no cavalo, cambalhotas, jogos gin�sticos, patina��o e esgrima. Tudo associado a cantos alegres e disciplina militar (RAMOS, 1982).

    Uma sess�o de exerc�cios livres era composta da seguinte forma:

1�- Exerc�cios de ordem

2� - Exerc�cios de pernas ou movimentos preparat�rios formando uma pequena s�rie; [...]

3� - Extens�o da coluna vertebral;

4� - Suspens�es simples e f�ceis;

5�- Equil�brio;

6� - Passo gin�stico ou marcha;

7�- Movimentos dos m�sculos dorsais;

8� - Movimentos m�sculos abdominais;

9� - Movimentos laterais de tronco;

10� - Movimentos de pernas;

11� - Suspens�es mais intensas que as do n� 4;

12� - Marchas ou movimentos de pernas, executados mais rapidamente que os outros para preparar saltos;

13� - Saltos;

14� - Movimentos de pernas;

15� - Movimentos respirat�rios (MARINHO, S/D, p. 188).

    �A extens�o do movimento n�o ficou na Su�cia, estendeu-se com entusiasmo por todo o mundo, principalmente aos demais pa�ses n�rdicos � Dinamarca, Noruega e Finl�ndia� (RAMOS, 1982, p. 211). Na Dinamarca, o M�todo Sueco, foi chamado de Gin�stica Racional por ser fundamentado e consciente de seu objetivo. Entretanto, foi considerado inapto para as necessidades e interesses da juventude dinamarquesa por ser composto por posi��es r�gidas (MARINHO, S/D). �N�o � necess�rio modificar o fundamento nem o objetivo da Gin�stica b�sica, mas � o emprego dos meios que deve ser levado a um terreno mais firme� (BUKH, 1939 apud MARINHO, S/D, p.198).

    Surge ent�o a Gin�stica B�sica Dinamarquesa, idealizada por Niels Bukh. �O Professor Niels Illeris, ao fazer uma diferen�a entre a Gin�stica Sueca e a Gin�stica Dinamarquesa, diz que a primeira � uma Gin�stica de posi��es e a segunda uma Gin�stica de Movimento� (MARINHO, S/D, p. 201).

    Assim como Ling, Bukh preocupou-se muito com a postura. Os exerc�cios deveriam ser diferentes para homens e mulheres e voltados para a corre��o de defeitos posturais oriundos do trabalho.

    Marinho (S/D, p. 206-08) traz alguns exerc�cios propostos por Bukh:

    extens�o lateral das pernas em posi��o acocorada nas pontas dos p�s, com as m�os apoiadas no solo; separa��o e extens�o das pernas em posi��o acocorada nas pontas dos p�s, apoiando as m�os no solo; flex�o unilateral lenta e profunda dos joelhos, em posi��o vertical com as pernas abertas e em colabora��o com um companheiro; tors�o do tronco com movimento unilateral de bra�o para fora em posi��o vertical com o tronco inclinado para a frente, as pernas abertas e os bra�os flexionados horizontalmente � altura dos ombros.

    Tamb�m inspirada na Gin�stica Sueca de Ling, temos a Calistenia. Para Silva (S/D), a Calistenia n�o � um sistema pr�prio de gin�stica, mas sim uma s�rie de exerc�cios gin�sticos localizados, com fins corretivos, fisiol�gicos e pedag�gicos, que pode integrar perfeitamente qualquer sistema gin�stico. Por estar em constante evolu��o teria grande vantagem sobre os sistemas cl�ssicos.

    A Calistenia trouxe caracter�sticas nunca antes abordadas. Examinando os dois sistemas mais difundidos, o sueco e o alem�o, educadores suecos chegaram � conclus�o de que ambos eram pobres no que se tratava de elementos psicol�gicos. Por isso, inseriram a m�sica na pr�tica da gin�stica, por considerarem que ela incentivava o movimento, evitando a monotonia e contribuindo para a educa��o dos sistemas psicomotor e neuromuscular (SILVA, S/D).

    Ainda preocupados com os aspectos psicol�gicos, buscavam a varia��o dos exerc�cios. �O professor deve estar municiado de uma quantidade bastante grande de exerc�cios a fim de n�o repeti-los com muita frequ�ncia. A varia��o � um elemento importante, pois al�m do lado psicol�gico, influi, tamb�m fisiologicamente� (SILVA, S/D, p. 27).

    Objetivando melhorar a forma f�sica da popula��o, foi introduzida nas escolas americanas em 1860 por Dio Lewis (MARINHO, S/D). �[...] era dedicado ao homem gordo, ao homem fraco ou enfermi�o, aos jovens e �s mulheres de todas as idades � as classes que mais necessitavam de treinamento f�sico. [...] N�o havia ningu�m, nem nenhum sistema que tivesse contemplado estes [...]� (MARINHO, S/D, p. 265). Por fim, deveria ser uma gin�stica simples, fundamentada na ci�ncia e cativante (MARINHO, S/D).

    Os exerc�cios calist�nicos foram divididos em oito grupos: �de bra�os e pernas;

    para a regi�o p�stero-superior do tronco (parte superior da esp�dua); para a regi�o p�stero-inferios do tronco (parte inferior da esp�dua); para a regi�o lateral do tronco (laterais); de equil�brio;gerais de ombros e esp�duas (Wood) ou gerais de esp�duas e ombros (Skartrom); Saltos e corridas (Skarstrom) ou sufocantes (Wood)� (MARINHO, S/D, p. 268).

    Ao analisarmos o M�todo Sueco e a Calistenia, percebemos que tal escola voltou-se para a sa�de, f�sica e mental, da popula��o, possuindo muito mais o car�ter m�dico e pedag�gico do que militar.

    Esse vi�s m�dico trouxe conceitos para as Gin�sticas Fisioter�picas de SOUZA (1997), al�m do fato de seu grande evento em homenagem ao seu idealizador Per H. Ling servir de inspira��o para a Gymnaestrada, principal manifesta��o da Gin�stica Geral (FIORIN, 2002).

A Escola Francesa

    A Gin�stica na Fran�a baseou-se nas id�ias dos alem�es Jahn e Guts Muths e, apresentava al�m do car�ter moral e patri�tico, uma preocupa��o com o desenvolvimento social. Objetivava formar o homem �completo e universal�, sem desvincular-se do utilitarismo, t�o abordado pela gin�stica cient�fica, buscando o desenvolvimento da for�a f�sica, da destreza, agilidade e resist�ncia (SOARES, 2004).

    Para Ramos (1982), esse movimento teve como principais representantes o M�todo Franc�s desenvolvido por D. Francisco de Amoros e Ondea�o (1770-1848), George Demeny (1850-1917) e o M�todo Natural pensado por H�bert (1875- 1957).

    Inspirado em Pestalozzi, Amoros negou veementemente toda e qualquer forma de empiria, seus exerc�cios eram completamente explicados por enunciados cient�ficos, comprovando a rela��o existente entre a sua gin�stica, a sa�de da popula��o e a t�o desejada utilidade dos gestos (SOARES, 2002). �Admitia no sistema tr�s tipos de gin�stica: civil, militar e m�dica. Condenava o funambulismo, que no dizer de Amor�s, come�a onde a utilidade do exerc�cio cessa� (RAMOS, 1982, p.219).

    Demeny, discordando do m�todo sueco de Ling, prop�s exerc�cios gin�sticos completos, arredondados e cont�nuos (RAMOS, 1982). Voltou-se para a sa�de da mulher, combatendo �h�bitos elegantes�, tais como cintas, salto alto, porta-seios; condenava os meios de sustenta��o artificiais (SOARES, 2004).

    �O m�todo (Franc�s) para alcan�ar os seus objetivos preconiza sete formas de trabalho: jogos, flexionamentos, exerc�cios educativos, exerc�cios m�micos, aplica��es, desportos individuais e coletivos� (RAMOS, 1982, p. 222). Marinho (S/D) descreve a abordagem de exerc�cios de marcha, corrida, salto, lan�amentos, lutas, esgrima, utiliza��o de pesos e halteres, gin�stica de aparelhos, remo, ciclismo, nata��o e salvamento e desportos coletivos.

    O M�todo Franc�s, oriundo da Escola Francesa, foi adotado em todos os estabelecimentos de ensino brasileiros em 1929 (SOARES, 2002), e trouxe as propostas pedag�gicas que embasaram a Educa��o F�sica escolar brasileira no per�odo republicano (RESENDE, SOARES e MOURA, 2009).

    A Escola Francesa inclui ainda a obra de Georges H�bert. O chamado M�todo Natural de H�bert repudia todas as formas de exerc�cios anal�ticos, artificiais ou formais, conhecidos sob a denomina��o de gin�stica. Pretendia �utilizar os gestos de nossa esp�cie para adquirir o desenvolvimento f�sico completo [...], al�m de atender �s dificuldades inerentes � vida moderna, particularmente � falta de tempo e � falta de espa�o� (MARINHO, S/D, p. 122).

    Encontram- se nesse programa caracter�sticas naturistas: resist�ncia corporal ao frio, endurecimento, utiliza��o do meio natural como terreno de exerc�cio, exerc�cios utilit�rios, nudez controlada. Todo o trabalho toma por base a utilidade das a��es e representa um retorno � natureza adaptado � vida urbana moderna e concernente �s atividades pr�ticas da vida em sociedade (H�bert, 1941a apud SOARES, 2003, p. 26).

    Privilegiava a natureza e a qualidade do trabalho em detrimento da qualidade de execu��o. Classificou os exerc�cios em 10 grupos fundamentais de acordo com as fun��es �teis da vida cotidiana. Sendo eles: a marcha, a corrida, o salto, o movimento quadr�pede, a escalada, o equil�brio, o arremesso, o levantar, a defesa e a nata��o. Os treinos deveriam ser ao ar livre para submeter o corpo �s diferentes temperaturas, tinha a corrida como elemento base e cada um deveria trabalhar no seu ritmo e capacidade (MARINHO, S/D).

    O que H�bert deseja � aumentar as resist�ncias org�nicas, real�ar as aptid�es para a execu��o de exerc�cios naturais e utilit�rios (os seus 10 grupos) e, sobretudo, desenvolver a energia, a qualidade de a��o, a virilidade, para ent�o subordinar esse conjunto de qualidades f�sicas bem treinadas a uma moral altru�sta, f�sica, inclusive (SOARES, 2003, p. 28).

    Notamos que os m�todos, apesar de espec�ficos ao seu p�blico, se relacionam e se influenciam.

    Desse ponto de vista, os �m�todos de gin�stica� at� agora por n�s discutidos assemelham-se. Diferenciam-se apenas na forma, umas mais anal�ticas, outras mais sint�ticas. Todavia, o conte�do anatomofisiol�gico ditado pela �ci�ncia�, constitui o n�cleo central das distintas propostas, al�m do que, � claro, a moral da classe, o culto ao esfor�o (individual), a disciplina, obedi�ncia... ordem, adapta��o, forma��o de h�bitos [...] (SOARES, 2004, p 67).

    E al�m de atender aos objetivos do Estado no s�culo XIX, serviram de suporte para a estrutura��o da Gin�stica atual.

Conclus�o

    Surgindo de uma necessidade do Estado, o Movimento Gin�stico Europeu reformulou a sociedade europeia, difundindo preceitos higienistas, nacionalistas, pedag�gicos e morais por meio da pr�tica da Gin�stica. Os m�todos resultantes desse processo compartilhavam caracter�sticas b�sicas, mas buscavam ser espec�ficos aos interesses de cada na��o, chegando a discordarem em alguns aspectos.

    Essa rela��o ocorreu de forma bastante din�mica e trouxe uma rica diversidade de pr�ticas e conceitos, o que resultou n�o apenas na estrutura��o e sistematiza��o da Gin�stica no s�culo XIX, mas tamb�m nas origens da Gin�stica Atual. Dessa forma, buscou-se caracterizar e relacionar tais m�todos, a fim de compreender a g�nese da Gin�stica como a conhecemos hoje.

    Das quatro Escolas criadas no Movimento Gin�stico Europeu: Alem�, Sueca, Francesa e Inglesa; apenas as tr�s primeiras influenciaram as pr�ticas g�mnicas. A Escola Alem�, de car�ter essencialmente militarista, abrangeu os m�todos Alem�o e Natural Austr�aco; a Sueca possu�a um vi�s m�dico, de onde surgiram os m�todos Sueco, Dinamarqu�s e a Calistenia; e a Escola Francesa trazia aspectos mais acentuadamente pedag�gicos e foi composta pelos m�todos Franc�s e Natural de H�bert.

    A escola Alem� influenciou diretamente a modalidade competitiva Gin�stica Art�stica e indiretamente a Gin�stica R�tmica. A Escola Sueca j� abordava os conceitos das Gin�sticas Fisioter�picas de Souza (1997) e serviu de inspira��o para a Gin�stica Geral. E a Escola Francesa auxiliou o desenvolvimento da Educa��o F�sica escolar.

    Apesar da escassez de material que abordasse o hist�rico da Gin�stica e do Movimento Gin�stico Europeu, conseguimos identificar suas caracter�sticas principais e relacionar suas diversas metodologias, encontrando, nas mesmas, as ra�zes de manifesta��es g�mnicas atuais. O que comprova a relev�ncia do conhecimento desse per�odo que trouxe tantas contribui��es n�o apenas para a Gin�stica, mas tamb�m para a Educa��o F�sica.

Refer�ncias

  • FIGUEIREDO, J.F; HUNGER, D.A.C.F. A relev�ncia do conhecimento hist�rico das gin�sticas na forma��o e atua��o do profissional de educa��o f�sica. Motriz, Rio Claro, v. 16, n. 1, p. 189-198, jan/mar. 2010.

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Qual a diferença entre ginástica natural e ginástica analítica

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O que é ginástica analítica?

EFN110 - Ginastica Analitica. Ginastica localizada; ginastica basica para as diferentes faixas etarias, indistintivamente de sexo em finalidade especifica.

Qual a definição da ginástica natural?

"A ginástica natural tem influência de técnicas orientais e se baseia na movimentação solo do jiu-jitsu, trazendo benefícios para a saúde, aumentando a qualidade de vida e melhorando o condicionamento físico", diz Álvaro.

Quais as diferenças entre os dois tipos de ginástica?

A ginástica é um esporte cujos exercícios realizados exigem concentração, coordenação, elasticidade do corpo e força. Ela se divide em dois tipos: as ginásticas competitivas e as ginásticas não competitivas. Essa classificação depende do fato de a modalidade entrar ou não em competições, como as Olimpíadas.

Quais são as ginásticas naturais?

A ginástica natural é baseada no movimento dos animais e do homem primitivo. Esta prática também incorporou movimentos de solo do Jiu Jitsu, e algumas posições de Yoga. O criador do método é o brasileiro Álvaro Romano: faixa preta em Judô e Jiu Jitsu, professor de Educação Física, surfista e nadador.