Qual a importância da Revolução Industrial no surgimento da sociologia?

Qual a importância da Revolução Industrial no surgimento da sociologia?

Qual a importância da Revolução Industrial e da Revolução Francesa para a Sociologia?

A sociologia surgiu, na primeira metade do século XIX, sob o impacto da Revolução Industrial e da Revolução Francesa. As transformações econômicas, políticas e culturais suscitadas por esses acontecimentos criaram a impressão generalizada de que a Europa vivia o alvorecer de uma nova sociedade.

Qual é a importância da Revolução Industrial para o surgimento da Sociologia?

Na verdade, a Primeira Revolução Industrial (surgiu no século XVIII) é considerada como o principal fator que contribuiu para o surgimento da Sociologia, que nasceu no século XIX. Desta forma, a Sociologia passou a estudar e interpretar as mudanças que estavam ocorrendo na sociedade.

O que a Revolução Francesa tem a ver com o aparecimento da Sociologia?

Ademais, a necessária Revolução Francesa teria deixado um cenário caótico e instável, que necessitava de correção para que houvesse uma retomada do crescimento econômico, social, moral, científico e político do mundo. Comte formulou, então, as ideias positivistas, que foram o centro dessa primeira produção sociológica.

Qual é a importância da Revolução Industrial para o capitalismo?

Nesse sentido, a Revolução Industrial deu início a uma era de grande prosperidade material, possibilitando a consolidação do sistema capitalista, o aumento da produtividade (tanto na agricultura, para o abastecimento alimentar da população, quanto na oferta de bens para o consumo de pessoas, empresas e Estados), o ...

Qual a importância da Revolução Industrial nos estudos sociológicos de Karl Marx?

A Revolução Industrial concentrou os trabalhadores em fábricas. O aspecto mais importante, que trouxe radical transformação no caráter do trabalho, foi esta separação: de um lado, capital e meios de produção de outro, o trabalho. Os operários passaram os assalariados dos capitalistas.

Qual a origem da Revolução Industrial?

  • Foram desfeitos alguns costumes e tradições, como a família patriarcal, a servidão e o trabalho manufatureiro, dando início à indústria capitalista. A Revolução Industrial, ocorrida na Europa (principalmente na Inglaterra) no século XVIII, mudou radicalmente a estrutura da sociedade.

Como foi o surgimento da sociologia?

  • Este fato é importante para o surgimento da sociologia, pois colocava a sociedade num plano de analise relevante, como objeto que deveria ser investigado por seus novos problemas. O mundo estava se tornando cada vez menor e mais integrado, a consciência das pessoas sobre o mundo estava aumentando e dispersando.

Por que a Revolução Industrial foi uma revolução burguesa?

  • Assim, a Revolução industrial foi uma das revoluções burguesas que definitivamente redesenhariam não apenas a forma de produzir a vida material, mas as relações humanas, as relações sociais de produção: passagem de uma sociedade estamental para outra de classes. Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico?

Quais são os desdobramentos da Revolução Industrial?

  • As condições históricas, sociais e econômicas para o advento da Revolução Industrial, bem como os seus desdobramentos, são o foco deste texto. Ouvir: Revolução Industrial e seus desdobramentos.

André Pinheiro Costa

Rodrigo Soares de Brito Rios

Resumo

Este artigo tem por objetivo apresentar as influências históricas da Revolução Industrial sobre o surgimento da Sociologia, buscando relacionar as mudanças sociais provocadas pelas revoluções do século XVIII com o início do estudo específico da sociedade por meio das Ciências Sociais, demonstrando que esta se tornou uma necessidade, posto que a dinâmica social não era um campo da ciência até esse período. Por se tratar de uma pesquisa bibliográfica, tem como sustentação teórica as ideias de Carlos Benedito Martins (1994), Cristina Costa (1997), Lakatos e Marina Marconi (1999), entre outros. Tomando como base a influência da dinâmica do processo histórico na elaboração do pensamento sociológico, a conclusão parcial a que chegamos é que os conflitos sociais geram um ambiente propício para a formulação de pensamentos transformadores assim como foi a Sociologia no seu início (século XVIII e XIX) e é atualmente (século XXI).

Palavras-chave: Revolução Industrial; Sociologia; sociedade.

Introdução

O presente estudo tem por objetivo compreender as influências históricas da Revolução Industrial sobre o surgimento da Sociologia por meio dessa pesquisa bibliográfica, analisando as mudanças provocadas por esse acontecimento na sociedade. A quebra de paradigmas, até então imperantes na sociedade feudal, instaurou uma nova dinâmica social na nova sociedade.

A Sociologia, segundo Carlos Benedito Martins, (1994, p. 3), “é o resultado de uma tentativa de compreensão de situações radicalmente novas, criadas pela então nascente sociedade capitalista. A trajetória desta ciência tem sido uma constante tentativa de dialogar com a civilização capitalista, em suas diferentes fases”. As mudanças abrangeram não somente o campo ideológico, mas também o comportamento dos indivíduos em cidades superlotadas e desestruturadas repletas de ex-moradores rurais.

Afirma ainda o referido autor que a Revolução Industrial significou algo a mais que a introdução da máquina a vapor e dos sucessivos aperfeiçoamentos dos métodos produtivos. Ela representou o triunfo da indústria capitalista que, pouco a pouco, concentrou as máquinas, as terras e as ferramentas nas mãos dos burgueses, transformando grandes massas humanas em simples trabalhadores despossuídos.

Os conflitos gerados pelo estilo de vida da classe trabalhadora foi um propulsor para o surgimento da Sociologia, que, até o momento de sua consolidação, trilhou diversos caminhos teóricos dos conservadores até os socialistas. Porém, o desejo de transformar a sociedade por meio de um estudo detalhado fertilizou as ideias dos pensadores da sociedade e, por conseguinte, a Sociologia se consolidou como ciência no século XVIII com Auguste Comte.

Esta análise histórica tem como sustentação teórica as ideias de Carlos Benedito Martins (1994), Cristina Costa (1997), Lakatos e Marina Marconi (1999), entre outros. E foi organizada considerando a origem e as consequências da Revolução Industrial sobre o estudo das transformações sociais.

Essa pesquisa pretende apresentar o papel da sociologia, enquanto Ciência Social, no estudo dos conflitos e transformações sociais desde o seu surgimento tendo como base a influência da dinâmica do processo histórico na formulação do pensamento sociológico, analisando a capacidade da Sociologia para elaborar um conhecimento a partir das contradições na sociedade, principalmente, a capitalista.

 O surgimento da Sociologia

Segundo Carlos Benedito Martins (1994, p. 5), “a sociologia pode ser entendida como uma manifestação do pensamento moderno”. A evolução do pensamento científico fez da Sociologia uma necessidade, uma vez que o mundo social não havia sido incorporado ao mundo das ciências. Analisar as contradições sociais e procurar resolvê-las, acreditar que o bem-estar do homem depende das condições sociais é o germe do pensamento sociológico, que surge em um momento histórico conturbado e repleto de mudanças intelectuais, as quais implicaram a desagregação da sociedade feudal e a consolidação da civilização capitalista. Esse cenário inspirou uma série de pensadores que se empenharam para compreender as novas situações sociais.

As grandes revoluções do século XVIII – industrial e francesa – contribuíram para a instalação de uma novo tipo de sociedade. As transformações ocorridas nesse período colocaram problemas inéditos para os homens que as experimentaram. Dessa forma, instalava-se uma sociedade baseada na distinção pela posse de riqueza, que exigia uma nova ordem social, dirigida por pessoas dispostas a buscar um espaço no mundo, a competir por mercados e a responder de forma produtiva à ampliação do consumo.

A revolução industrial representou o estabelecimento da indústria capitalista que, financiada pelo empresário, possibilitou a concentração dos meios de produção nas mãos do burguês. A nova concepção de lucro praticada por este é a marca decisiva da ruptura com os valores do mundo medieval. O avanço da sociedade capitalista desintegrava costumes, instituições e formas de organizar a sociedade até então imperantes na sociedade feudal. O pequeno proprietário de terra foi esmagado e sujeitado pelo novo modo de produção capitalista e as pessoas que vendiam sua força de trabalho passaram a ser, simplesmente, massas humanas despossuídas.

A revolução industrial provocou grandes mudanças estruturais em países como a Inglaterra. As pequenas cidades passaram a ser o destino de muitos moradores do campo. Tais cidades se transformaram em abrigos de indústrias gigantescas. A mudança estrutural que aconteceu por todo o país implicou a reordenação da sociedade rural, a destruição da servidão, o desmantelamento da família patriarcal etc. Mulheres e crianças, por serem uma mão de obra mais barata, foram inseridas em jornadas de trabalho desumanas, sem férias e com remuneração baixa.

A mudança radical sobre a forma habitual de vida dos novos cidadãos urbanos teve um efeito traumático em suas vidas. Muitas cidades industriais cresceram rapidamente sem possuir estrutura de moradias, de saneamento e de saúde. Isso resultou em um aumento da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade, da violência e de surtos epidêmicos.

Os pensadores do período de mudanças não queriam apenas conhecer as novas condições de vida, mas procuravam também extrair orientações para as ações com o objetivo de manter ou reformular radicalmente a sociedade. Foi nessa época que a sociedade passou a ser tratada a partir do estudo de seus grupos e não dos indivíduos isolados. Muitos pensadores do século XVIII queriam transformar não apenas as formas de conhecimento ultrapassadas, mas a própria sociedade. Martins (1994) relembra:

É entre os pensadores franceses do século XVIII que encontramos um grupo de filósofos que procurava transformar não apenas as velhas formas de conhecimento, baseadas na tradição e na autoridade, mas a própria sociedade (MARTINS, 1994, p. 10).

O método científico da observação e da experimentação passou a ser utilizado com êxito. Nesse período, a ciência passou por um notável progresso. O emprego sistemático do método estava possibilitando uma grande acumulação de fatos. O estabelecimento de relações entre estes possibilitava um conhecimento da natureza que abria o controle e o domínio sobre ela. Para os filósofos do século XVI e XVII como Francis Bacon, o novo método do conhecimento deveria ser estendido e aplicado ao estudo da sociedade. Partindo dessas ideias, ele realizou experimentos a fim de descobrir e formular leis gerais sobre a sociedade.

O pensamento racionalista, que empregava a razão sistematicamente e examinava a realidade livremente, fez com que o conhecimento fosse liberto do controle teológico, da tradição e da “revelação”. Consequentemente, existiu a formulação de uma nova atitude diante dos fenômenos da natureza e da cultura, além de possibilitar a investigação racional da sociedade.

Os conflitos de interesses na sociedade levaram muitos intelectuais ao ataque contra a estrutura de conhecimento vigente com o objetivo de demonstrar que as instituições da época eram irracionais e injustas, que atentavam contra a natureza dos indivíduos e, nesse sentido, impediam a liberdade do homem (perfeição inata do ser humano). Sendo assim, tudo aquilo que tirava a liberdade humana deveria ser eliminado.

A insatisfação dos críticos burgueses sobre a sociedade feudal residia no seu plano político. A monarquia absolutista assegurava privilégios a uma minoria da população. Esta camada privilegiada não pagava impostos e recebia tributos feudais. Esse governo impedia, ao mesmo tempo, a constituição da livre-empresa, a exploração eficiente da terra e mostrava-se incapaz de criar uma administração padronizada por meio de uma política tributária racional e imparcial.

 Os iluministas, enquanto ideólogos da burguesia, que nesta época posicionava-se de forma revolucionária, atacavam com veemência os fundamentos da sociedade feudal, os privilégios de sua classe dominante e as restrições que esta impunha aos interesses econômicos e políticos da burguesia (MARTINS, 1994, p. 10).

Com a revolução de 1789, a burguesia toma o poder mobilizando as massas, especialmente os trabalhadores pobres das cidades. A investida burguesa rumo ao poder liquidou sistematicamente o velho regime, extinguindo a velha estrutura feudal e o Estado monárquico. Essa camada que baseou os ideais da revolução se aproveitou da manifestação das massas para se introduzir no poder com um novo regime de administração (impulsionado pela revolução industrial que se desenvolvia), explorando o proletariado impiedosamente. A traição dos próprios princípios por parte da burguesia instaurou uma realidade desordenada de acordo com os pensadores da época.

O ideal iluminista, que alimentou o projeto revolucionário da burguesia, se mostrava incapaz de estabelecer ordem e paz. Tornou-se necessário, portanto, o desenvolvimento de uma ciência social, ensinado os homens a “deixar de lado a negação” e aceitar a ordem existente aquilo que Auguste Comte denominou de “positivismo”.

Alguns pensadores, com o objetivo de introduzir uma higiene na sociedade, revalorizaram determinadas instituições, as quais – segundo eles – são fundamentais na coesão da vida social. A Sociologia assumia – de acordo com Martins (1994, p. 15) – o papel de “repensar o problema da ordem social, enfatizando a importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social, destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade”. O grande propulsor para o surgimento da Sociologia foram as disputas e os antagonismos ocorridos no interior da sociedade. Essa ciência sempre buscou ir além das reflexões e apresentar explicações com intenções práticas no rumo da civilizações, tendo como objetivo manter ou alterar os fundamentos sociais.

A formação da Sociologia

 A escolha de alternativas para o estabelecimento da ordem social entre a conservação ou a transformação radical é um dilema que afetou os pioneiros da sociologia e ainda afeta os sociólogos contemporâneos, posto que a sociedade se transforma constantemente.

No século XVIII, muitos pensadores viam a sociedade com bastante otimismo, chegando a classificar os interesses das classes dominantes como uma representação universal. Outros encontraram no pensamento conservador a inspiração para formular ideias sobre a realidade. Pra eles, ao contrário dos iluministas, o grande exemplo inspirador era a sociedade feudal com sua estabilidade e hierarquia social. Esses conservadores consideravam a Revolução Francesa um castigo divino uma vez que ela, praticamente, aniquilou a propriedade, a autoridade e a religião; por isso, eles defendiam as instituições religiosas e monárquicas com o objetivo de preservá-las. A corrente conservadora acreditava que a ausência de progresso na sociedade cada vez mais baseada na indústria, na tecnologia, na ciência e no igualitarismo era a causa para o domínio do caos social.

Os primeiros sociólogos tomaram o pensamento conservador por base e adaptaram suas ideias. O desejo desses pensadores era o de preservar a nova ordem econômica e política que estava sendo implantada na Europa.

Saint-Simon (1760-1825) entendia que a nova era do industrialismo trazia consigo a possibilidade de satisfazer todas as necessidades humanas e constituía a única fonte de riqueza e propriedade. Acreditava que o progresso econômico acabaria com os conflitos sociais e traria segurança para os homens. O pensamento social deveria, portanto, orientar a indústria e a produção. Novos papéis seriam estabelecidos na nova sociedade, o cientista substituiria o clero; os burgueses, os senhores feudais. Essa elite estabeleceria os objetivos da sociedade, prevalecendo sobre os trabalhadores.

Auguste Comte (1798-1857) retoma as ideias de Saint-Simon, afirmando que a sociedade se encontrava em um estado de caos e desordem. As ideias religiosas, segundo ele, já haviam perdido a sua força e não seria possível organizar a sociedade por meio delas. Este pensador francês lutava para que, em todos os ramos de estudos, se obedecesse à preocupação da máxima objetividade. Defendia o ponto de vista de somente serem válidas as análises das sociedades quando feitas com verdadeiro espírito científico, com objetividade e com ausência de metas preconcebidas, próprios das ciências em geral. Os estudos das relações humanas deveriam constituir uma nova ciência, a que se deu o nome de “Sociologia”. Esta não deveria limitar-se apenas à análise, mas também deveria propor normas de comportamento.

Segundo Comte, o pensamento conservador visava à ordem e desprezava o progresso. Já os revolucionários preocupavam-se somente com o progresso e ignoravam a necessidade de ordem na sociedade. Comte concluiu ser natural que a sociedade, em toda parte, evolua da mesma maneira e no mesmo sentido, resultando daí que a humanidade caminha para um mesmo tipo de sociedade mais avançada. De tais ideias surgiu a classificação das sociedades denominada “A Lei dos Três Estados” (teológico, metafísico e positivo).

Embora Comte seja considerado o pai da sociologia e tenha lhe dado esse nome, Émile Durkheim (1858-1917), sociólogo francês, é apontado como um dos primeiros grandes teóricos da Sociologia. Ele se esforçou para a constituir como disciplina rigorosamente científica. Ao preconizar o estudo dos fatos sociais como “coisas”, por meio de regras de rigor científico, determinou o objeto de estudo da Sociologia. Ele distingue três características dos fatos sociais. A primeira delas é a coerção social, ou seja, a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a se conformar com as regras da sociedade em que vivem. A segunda característica é que eles são exteriores aos indivíduos, existem e atuam sobre o homem independentemente de sua vontade ou de sua adesão consciente. A terceira característica é a generalidade, é social todo fato que é geral, que se repete em todos os indivíduos ou, pelo menos, na maioria deles.

Posteriormente a caracterização do objeto da sociologia, Durkheim procurou definir o seu método. Cristina Costa (1997) afirma:

Para Durkheim, a explicação científica exige que o pesquisador mantenha certa distância e neutralidade em relação aos fatos, resguardando a objetividade de sua análise. Além disso, é preciso que o sociólogo deixe de lado suas prenoções, pois nada têm de científico e podem distorcer a realidade dos fatos (COSTA, 1997, p. 60).

Diante da crescente sociedade capitalista, Durkheim entendia que a divisão do trabalho na sociedade gera um novo tipo de solidariedade, baseada na complementação de partes diversificadas. O encontro de interesses complementares cria um laço social novo, com moral própria, que dá origem a uma nova organização social. Durkheim se distingue dos positivistas, pois suas ideias ultrapassaram a reflexão filosófica e chegaram a constituir um todo organizado e sistemático de pressupostos teóricos e metodológicos sobre a sociedade.

Karl Marx (1818-1883) é o pensador que desenvolveu a teoria socialista de forma mais expressiva. Ele contribuiu, de forma decisiva, para o desenvolvimento da Sociologia, ao salientar que as relações sociais decorrem dos modos de produção, numa tentativa de elaborar uma teoria sistemática da estrutura e das transformações sociais. O postulado básico do marxismo é o determinismo econômico, segundo o qual o fator econômico é determinante da estrutura do desenvolvimento da sociedade. O homem para satisfazer suas necessidades, atua sobre a natureza, criando relações técnicas de produção. Todavia, essa atuação não é isolada: na produção e distribuição necessárias ao consumo, o homem relaciona-se com outros seres humanos, dando origem às relações de produção. Os homens desenvolvem as relações técnicas de produção por meio do processo de trabalho (força humana e ferramentas) dando origem a forças produtivas que, por sua vez, geram um determinado sistema de produção (distribuição, circulação e consumo de mercadorias); o sistema de produção provoca uma divisão de trabalho (proprietários e não-proprietários dos meios de produção) e o choque entre as forças produtivas e os proprietários dos meios de produção determina a mudança social.

Para Marx, a sociedade divide-se em infraestrutura e superestrutura. A infraestrutura é a estrutura econômica, formada das relações de produção e forças produtivas. A superestrutura divide-se em dois níveis: o jurídico-político, formado pelas normas e leis que correspondem à sistematização das relações já existentes; e o ideológico, formado por um conjunto de ideias de determinada classe social. Sendo a infraestrutura determinante, toda mudança social se origina das modificações nas forças produtivas e nas relações de produção. De acordo com esta teoria, Marx, juntamente com Engels, chegou a uma classificação de sociedades segundo o tipo predominante de relações de produção. Tendo como base a dialética hegeliana e o materialismo filosófico, os pensadores alemães concluíram que o que movia a história era a oposição entre as classes.

O grande papel da Sociologia, para Marx, seria o de desmascarar a ideologia, mostrando os reais mecanismos de dominação da sociedade para além das aparências. Ele afirma: “toda ciência seria supérflua se houvesse coincidência imediata entre a aparência e a essência das coisas” (MARX, apud OLIVEIRA, 2000, p. 2). A Sociologia deveria, portanto, contribuir para a realização de mudanças radicais na sociedade, sem se preocupar, apenas, com a solução dos “problemas sociais” e o reestabelecimento do “bom funcionamento da sociedade”. A Sociologia encontrou nessa vertente de pensamento inspiração para se tornar um empreendimento crítico e militante e também compromissado com a construção de uma ordem social na qual fossem eliminadas as relações de exploração entre as classes.

Max Weber (1864-1920) teve uma contribuição importantíssima para o desenvolvimento da Sociologia. Em meio a uma tradição filosófica peculiar, a alemã, e vivendo os problemas de seu país, pôde trazer uma nova visão, não influenciada pelos ideais políticos nem pelo positivismo. Na Alemanha, o pensamento burguês se organizou tardiamente no século XIX (em razão da tardia organização da Alemanha como um Estado nacional), sob influência da história e da antropologia. Enquanto o pensamento de outras nações (como França e Inglaterra) se voltou para a universalidade, o alemão se volta para a diversidade, que se preocupa com o estudo das peculiaridades dos indivíduos.

Weber, ao contrário do que pensavam os positivistas, ressaltou a importância da pesquisa histórica para a compreensão das sociedades, respeitando o caráter particular e específico de cada formação social e histórica. “Weber consegue combinar duas perspectivas: a histórica, que respeita as particularidades de cada sociedade, e a sociológica, que ressalta os elementos mais gerais de cada fase do processo histórico" (COSTA, 1997, p. 71).

Para Weber, o ponto de partida da sociologia não estava nas entidades coletivas, grupos ou instituições. Seu objeto de investigação é a ação social, a conduta humana dotada de uma justificativa subjetivamente elaborada. Na sociologia positivista, a ordem social submete os indivíduos como força exterior a eles. Weber afirma que as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação.

O cientista social não consegue assumir uma posição exterior em relação ao objeto de estudo. Ele, como todo indivíduo em ação, age guiado por seus motivos, sua cultura e tradição, sendo impossível descartar-se de suas prenoções (como propunha Durkheim). Os fatos sociais não são “coisas”, mas acontecimentos que o cientista percebe e cujas causas procura desvendar.

Max Weber recebeu forte influência do pensamento marxista e, por isso, concebeu obras relacionadas à economia e ao surgimento do capitalismo entre elas A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, publicada em 1905, onde relaciona a acumulação de capital e os princípios puritanos com as causas do capitalismo. Weber via as instituições produzidas pelo capitalismo como a clara demonstração de uma organização racional que desenvolvia suas atividades dentro de um padrão de precisão e eficiência. Ressaltou diversas vezes a figura do empresário como um verdadeiro revolucionário. Porém, a grande racionalização da vida no ocidente implicava um alto custo para o homem moderno. O mundo cada vez mais intelectualizado e artificial abandonava o pensamento sobre a individualidade do ser humano.

A obra de Auguste Comte, Émile Durkheim, Max Weber, Karl Marx, entre outros; contribuiu de forma decisiva para a formulação da Sociologia e das bases do seu pensamento. Os clássicos da Sociologia procuraram explicar as grandes transformações pela qual passava a Europa em decorrência do desenvolvimento do capitalismo. Seus trabalhos forneceram informações sobre as condições da vida humana, sobre o problema do equilíbrio e das mudanças sociais, sobre os mecanismos de dominação e sobre a alienação da época moderna.

A pobreza e a responsabilidade do Estado

 As transformações e os conflitos sociais influenciaram fortemente no surgimento do pensamento sociológico, este manteve seu campo de estudo e, ainda hoje, na pós-modernidade, a sociologia se preocupa com questões sociais complexas que despertam a atenção de diversos pensadores. Entre elas a questão da pobreza, um dos aspectos que mais chamam a atenção, em relação à sociedade contemporânea, de caráter paradoxal.

A ideia de que todos fazem parte de uma totalidade a qual é a humanidade é o que torna a pobreza tão pouco aceitável na sociedade contemporânea. “Ao contrário dos povos antigos, que tinham muito clara a noção de que a sociedade se diferenciava por grupos inconciliáveis, o mundo ocidental desenvolveu a consciência de constituir uma humanidade” (COSTA, 1997, p. 255).

A partir da consciência de igualdade humanitária, as desigualdades sociais se tornaram cada vez mais perceptíveis e incômodas. O paradoxo social não é aceito facilmente por grande parte da população muito menos pelos sociólogos, visto que é cada vez mais difícil justificar as diferenças em sociedades em que todos têm os mesmos direitos e são iguais perante a lei. “Se todos possuímos os mesmos direitos, como pode haver grupos que não têm acesso ao mínimo de bens produzidos pela sociedade?” (COSTA, 1997, p. 255).

O aspecto econômico e material também torna mais difícil aceitar a pobreza. Na sociedade contemporânea, a indústria de massa se desenvolve plenamente e, por conseguinte, coloca em circulação uma grande quantidade de produtos que, embora sejam capazes de manter e reproduzir toda a população do planeta, a oposição entre os grupos sociais criam mecanismos de apropriação dos bens econômicos e sociais, gerando concentração de renda.

Nesse cenário contraditório em que não existe uma solução viável para a questão da pobreza, o Estado assume uma grande responsabilidade no bem-estar social, posto que “é ele que regula os mecanismos de distribuição de renda, por meio de controle do salário mínimo, preço de produtos, impostos e financiamentos (...) é ele também responsável pelo crescimento da pobreza” (COSTA, 1997, p. 259). Por mais que se queira reduzir a intervenção do Estado na economia, ele ainda é responsável pela saúde, educação e pela igualdade social.

O mundo, cada vez mais industrializado, gera concorrência entre os países. Esta muitas vezes é desleal, uma vez que as tecnologias de produção variam de acordo com o desenvolvimento das nações.

 As relações internacionais de mercado têm sido responsáveis pelo que passou a se chamar “dumping social” – existência de salários ínfimos nos países em desenvolvimento para que seus produtos possam competir com os países desenvolvidos e industrializados (...). Os interesses econômicos que essa política defende têm nefastas consequências para a vida social – como a perda de conquistas duramente conseguidas pelos trabalhadores. Espera-se assim que o Estado, representando a sociedade como um todo (...), possa amenizar essa desigualdade social. (COSTA, 1997, p. 259).

A responsabilidade do Estado reside na realização de medidas corretivas para a crescente pobreza de parte da população (objetivando a minimização das desigualdades sociais), entre elas a promoção da reforma agrária, diminuindo a concentração de terras e assegurando a permanência da população rural no campo, além de “desenvolver uma política de crédito agrícola capaz de auxiliar os pequenos proprietários rurais” (COSTA, 1997, p. 259); já que 35% da população pobre dos centros urbanos é composta de migrantes, provindos de um setor agrário empobrecido.

Infelizmente os esforços que os Estados afirmam estar desenvolvendo são insuficientes e, por isso, a pobreza permanece. “A esperança de vida cresce em quase todas as partes do mundo, mas o atendimento à população carente continua precário. As favelas se multiplicam (...); o desemprego aumenta, juntamente com a criminalidade e a mendicância” (COSTA, 1997, p. 261). Uma parcela da população está por fora do progresso da sociedade sem usufruir dos benefícios alcançados por ela. Tudo isso demostra a ineficiência do Estado de quem se esperam medidas efetivas.

Considerações finais

 Ao trilhar o percurso histórico da Sociologia, foi possível perceber que esta foi um resultado da nova dinâmica social inaugurada pelas revoluções do século XVIII, principalmente a industrial. O pensamento sociológico percorreu diversos caminhos entre as escolas da Sociologia, variando desde a manutenção da ordem com os conservadores e positivistas até a transformação total da ordem vigente com os socialistas e mais expressivamente com Karl Marx. Entretanto todas elas mantinham um objetivo comum e um padrão na análise do objeto de estudo que era a sociedade, isso permitiu a consolidação da Sociologia como ciência de fato, além de inseri-la nas discussões e matérias acadêmicas.

A sociologia incorporou em sua composição diversos conceitos, objetivando acompanhar as tendências de cada momento histórico e, com isso, estudar a sociedade de forma efetiva. Isso se torna evidente na grande quantidade de orientações sociológicas surgidas no período pós-revolução industrial, cada uma delas se adaptavam à realidade vivida por seus idealizadores. Max Weber, por exemplo, por viver em um país (Alemanha) onde a industrialização foi tardia, não teve o seu pensamento endossado pela universalidade burguesa mas sim pela diversidade e peculiaridade dos seres humanos presentes na história e na antropologia.

Modernamente, a Sociologia foca suas atenções nos paradoxos da sociedade contemporânea, entre eles a divergência que existe entre a consciência humanista igualitária do estado de Direito, a sociedade das indústrias de massa desenvolvidas e a questão da pobreza. Ao buscar respostas e soluções para essa oposição, a Sociologia encontra no Estado a responsabilidade para se tomar decisões coerentes e efetivas, tendo como objetivo erradicar a pobreza e diminuir as desigualdades sociais. Todavia, essa não é a única preocupação do pensamento sociológico. Este ainda tem grandes dilemas para resolver e, assim como no período pós-revolucionário, propor soluções efetivas; que tornam a ciência social tão complexa.

Referências

 A pobreza e a responsabilidade do Estado. Pedagogia ao pé da letra. 09 abr. 2013. Educação. Disponível em: < http://pedagogiaaopedaletra.com/a-pobreza-e-responsabilidade-do-estado/>. Acesso em: 12 out. 2015.

 BALSAN, Francys Layne. Pobreza e desigualdade social no Estado democrático de direito: o caso brasileiro. Revista internacional Direito e cidadania. 02 ago. 2010. Disponível em: < http://www.reid.org.br/?CONT=00000211>. Acesso em: 12 out. 2015.

 COSTA, Cristina. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. 2ª ed. – São Paulo: Moderna, 1997.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia Geral. 7ª ed. rev. e ampl. – São Paulo: Atlas, 1999.

 MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 38ª ed. - São Paulo: Brasiliense (Coleção primeiros passos), 1994.

 OLIVEIRA, Ciro Mesquita de. A universidade em debate: uma análise da educação superior no Brasil sob a crise estrutural do capital. 6° colóquio internacional Marx e Engels. Disponível em: < http://www.ifch.unicamp.br/formulario_cemarx/selecao/2009/trabalhos/a-universidade-em-debate-uma-analise-da-educacao-superior-no.pdf>. Acesso em: 15 out. 2015.

Qual a importância da Revolução Industrial para surgimento da sociologia?

A Revolução Industrial não modificou apenas os ritmos e as modalidades de organização do trabalho. Alterou significativamente as formas e estilos de vida, o cotidiano e a cultura de todos os segmentos da população. O fator que mais abalou as maneiras tradicionais de viver foi a crescente urbanização.

Quais foram as influências da Revolução Industrial para o surgimento e consolidação da sociologia?

A consolidação da burguesia enquanto classe dominante e a formação do capitalismo industrial firmaram-se com a mudança da economia, antes baseada na manufatura e agora baseada na produção industrial, que gerou a divisão acirrada de classes sociais.

Qual foi a importância da Revolução Francesa para o surgimento da sociologia?

A Revolução Francesa marcou a ascensão da burguesia como classe social dominante, superando a aristocracia proprietária de terras, bem como a criação de novas instituições e novas formas de organizar a vida econômica, política e social que iriam se expandir para todo o planeta.

Qual a importância do surgimento da sociologia?

Sociologia aumenta o poder da ação social A ciência da sociedade ajuda o indivíduo a compreender a si mesmo, suas capacidades, talentos e limitações. Isso permite que ele se ajuste ao ambiente. O conhecimento da sociedade, grupos sociais, instituições sociais, associações, suas funções etc.