Quando falamos de identidade surda entendemos que surdez e apenas uma diferença

IDENTIDADES TRANSITANTES:
O DESENCAIXE DO DEFICIENTE AUDITIVO
NOS DISCURSOS DE/SOBRE SURDOS E OUVINTES

Por GILMARA MARIANA CEC�LIO e
CAMILO DARSIE DE SOUZA

Resumo

A surdez � uma grande inven��o. N�o estou me referindo aqui � surdez como materialidade inscrita em um corpo, mas � surdez como constru��o de um olhar sobre aquele que n�o ouve. Para al�m da materialidade do corpo, constru�mos culturalmente a surdez dentro de distintas narrativas associadas e produzidas no interior [...] de campos discursivos distintos. (LOPES, 2007, p. 7)


Iniciamos a discuss�o, proposta aqui* , com a afirma��o de Maura Lopes que representa a constru��o social que foi feita sobre o sujeito surdo, colocando-o para al�m da falta de audi��o e/ou defici�ncia. Esta proposta se contrap�e aos discursos cl�nicos/terap�uticos por levar as discuss�es sobre os surdos para al�m dos consult�rios m�dicos, dando visibilidade ao discurso desses sujeitos enquanto uma comunidade que partilha de uma identidade em comum. S�o as novas propostas de paradigmas, rompendo com as dezenas de s�culos de enfermidade auditiva. Podemos dizer que n�o � f�cil este rompimento, j� que ele necessita superar toda uma constru��o discursiva que v� as chamadas minorias (negros, surdos, homossexuais, etc.) como �despossu�dores� de algo.

* - Artigo inspirado na monografia de conclus�o de curso de Especializa��o em Educa��o de Surdos intitulada �Identidades Fronteiri�as: Entre Surdos e Ouvintes, o n�o lugar do D.A.�, escrita por Gilmara Mariana Cec�lio, orientada por Camilo Darsie de Souza.

Uma das quest�es que se apresentam, � o fato de que muitos termos usados para descrever essas ditas minorias, s�o compreendidos a partir da pr�pria vis�o do sujeito, estando este numa posi��o etnoc�ntrica em rela��o aos demais sujeitos envolvidos no processo, como, por exemplo, o ouvinte sobre o surdo. � o meu olhar cr�tico conceituando, definindo e diminuindo o outro.

Entendendo etnocentrismo a partir do conceito de Rocha, como:

Etnocentrismo � uma vis�o de mundo onde o nosso pr�prio grupo � tomado como centro de tudo e todos os outros s�o pensados e sentidos atrav�s dos nossos valores, nossos modelos, nossas defini��es do que � exist�ncia. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferen�a; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. (1989, p. 7)

Mas pensamos que se torna interessante observar � sem a inten��o de se fazer qualquer julgamento moral � que n�o s�o somente grupos de sujeitos ouvintes que se utilizam do conceito de �etnocentrismo� para definir o outro; os sujeitos surdos tamb�m o fazem, formando um conceito a respeito do outro, a partir de sua pr�pria realidade e viv�ncia.

Explicando melhor, o surdo descreve, muitas vezes, a cultura surda como algo protegido por fronteiras muito bem delimitadas, n�o enquadrando dentro deste conceito outros posicionamentos identit�rios que podem estar combinados com a materialidade da surdez. Para muitos ouvintes o conceito de surdo/surdez � muito diferente. Para quem ouve, e n�o possui certa proximidade no que se refere � comunidade surda, todos os demais (fora dele) s�o deficientes auditivos, formando assim, um conceito de ouvinte que engloba todos aqueles que ouvem bem, n�o usam aparelhos, se comunicam com linguagem oral, etc. Onde enquadrar ent�o, aqueles indiv�duos que permeiam essa bipolaridade (surdo/ouvinte) mas n�o s�o abarcados pela mesma? Essa pequena quest�o s� faz refletir sobre a necessidade de se analisar o tema a partir do borramento das fronteiras identit�rias que separam surdos de ouvintes.

Dentro desta coloca��o, destaca-se ainda a �linguagem do politicamente correto,� forma/meio/mecanismo usado para amenizar o que � chamado de denomina��es negativas ao falarmos de um determinado sujeito � neste caso o surdo. �[...] (pessoas portadoras de defici�ncia, alunos com necessidades educacionais especiais, portadores de defici�ncias, etc.) n�o apenas as nomeia, mas, antes, as constitui como pessoas de um certo tipo� (Campos, 2006, p. 1).

O objetivo dessas novas terminologias seria substituir os velhos chav�es usados; por termos n�o carregados de pr�-conceitos. A autora � muito feliz na an�lise destas terminologias, pois conduz uma discuss�o interessante do que, na pr�tica muitas vezes ocorre, lembrando que alguns termos acabam por refor�ar essas representa��es negativas que tanto buscaram combater.

A autora ainda argumenta que,

estes discursos e representa��es tanto inventam/disciplinam quanto normalizam as pessoas com defici�ncia, j� que procuram posicion�-las como sujeitos normais/dentro dos padr�es. � poss�vel dizer que, cada sociedade se sente autorizada a falar das pessoas com defici�ncia atrav�s da sua �verdade�. Uma �verdade� que � atravessada por in�meros discursos que os constitu�ram ao longo do tempo, como � o caso dos discursos religiosos, m�dicos, psicol�gicos, da m�dia, dentre tantos outros, que se sentem autorizados e com legitimidade para falar deles. (Op. Cit)


Cabe salientar que o discurso de uma �poca ajuda a construir o termo que representa o sujeito naquele momento. O mais importante, e sabido por pesquisadores, � o fato de que as determinadas terminologias atribu�das aos sujeitos nunca s�o atemporais, elas sempre sofrer�o mudan�as provindas da pr�pria transforma��o da sociedade e das novas representa��es/discursos/terminologias criadas.

As representa��es hoje dadas aos ouvintes pelos surdos e a representa��o dada aos surdos pelos ouvintes, podem ser, muitas vezes estereotipadas, distorcidas e fragmentadas.

A representa��o � um neg�cio complexo e, especialmente quando se trata da �diferen�a�, implica sentimentos, atitudes e emo��es e mobiliza medos e ansiedades no expectador, em n�veis mais profundos do que podemos explicar de uma forma simples do senso comum. � por isso que precisamos de teorias � para aprofundar nossa an�lise. (HALL, 1997, p. 226)


Dentro destes conceitos e representa��es criadas a partir da linguagem uma gama de questionamentos flutua, entre eles, por exemplo: como podemos visualizar esta representa��o? Em sua grande maioria, ela � visualizada de forma bin�ria, em dois p�los antag�nicos com um v�o fazendo a divisa entre elas. Como salienta Hall, os sujeitos s�o �frequentemente expostos a esta forma bin�ria de representa��o�. Onde se � bom ou ruim, bonito ou feio, rico ou pobre, surdo ou ouvinte. Muitas vezes os conceitos n�o englobam nuances cinzas, somente o �branco e o preto�.

Novamente Hall nos d� a resposta da validade dessa binariedade propagada, �[...] embora as oposi��es bin�rias [...] tenham grande valor de captura da diversidade do mundo, elas tamb�m s�o uma forma um tanto tosca e redutiva de estabelecer significados.� O que vemos na teoria s�o os par�metros m�ximos (a grosso modo), quando na pr�tica temos uma linha t�nue que vai de um extremo ao outro em transforma��o. Desta forma percebe-se que entre o branco e o negro, entre o pobre e o rico e, principalmente, entre o surdo e o ouvinte, existe uma infinidade de pessoas e identidades, ora mais pr�ximas de um extremo, ora mais pr�ximas do outro.

Lembrando Bauman, �N�o importa o quanto se tente, a fronteira que separa o �produto �til� do �refugo� � uma zona cinzenta: um reino de indefini��o, da incerteza � e do perigo.� (2006, p.39) Fazendo uma analogia a esta divis�o, poder�amos dizer que n�o importa o quanto se tente, a fronteira entre surdos e ouvintes n�o � r�gida, mas sim povoada de incertezas, meio-termos, elasticidade e tensionamentos.

Para que essa fronteira demarcat�ria seja compreendida como n�o r�gida, � preciso entender que cada grupo ocupa um determinado territ�rio, e que este territ�rio � complexo, envolvendo rela��es humanas e rela��es de poder; citando Darsie (2006, p.181):

[...] o territ�rio como um campo de for�as que ocorrem devido a sua complexidade. A id�ia de complexidade se constituiu a partir do entendimento de que as rela��es humanas, bem como as rela��es de poder, est�o no centro de determinadas situa��es [...].

N�o esquecendo ainda que, �territ�rios podem ser considerados como rela��es sociais que s�o projetadas no espa�o material e, portanto, s�o inst�veis** .� (Op.Cit)

** - Grifo nosso.

Analisando esses territ�rios e os grupos que os comp�em, vemos que em ambos os conceitos o outro � sempre visto a partir de si pr�prio e, a partir de suas pr�prias concep��es, em geral numa an�lise superficial e excludente. O que se torna importante conhecer �, quais as ideias sobre o conceito de cultura e identidade que est�o sendo empregadas nesses grupos (surdo e ouvinte) e como, de fato, este conceito (e estes espa�os) s�o tensionados por discursos e outros termos; onde e como encontraremos os sujeitos surdos ou n�o dentro dessa pr�tica de conceitua��o.

As diferen�as existentes entre surdos e ouvintes podem ser vistas por v�rios prismas: a an�lise cl�nica, os aspectos culturais � principalmente a l�ngua � a vis�o social, a forma��o de comunidades, etc... Vamos primeiramente perceber a diferen�a. Como sinaliza Hall (1997, p. 230) �a diferen�a tem sido marcada [...] A diferen�a significa. Ela �fala�.� Na an�lise entre surdos e ouvintes, este fator � bastante percept�vel, tanto clinicamente como socialmente e culturalmente*** . O autor fez um estudo bastante abrangente sobre a representa��o da diferen�a, em especial da diferen�a racial vista atrav�s do estere�tipo. Essa mesma an�lise encaixa-se perfeitamente para pensarmos os discursos e representa��es sobre/de surdos e ouvintes. �� bom n�o esquecer, no entanto, que o que � dito sobre a diferen�a racial poderia igualmente ser aplicado em muitas inst�ncias a outras dimens�es de diferen�a, tais como o g�nero, a sexualidade, a classe e a incapacidade.� (p. 225)

*** - Embora clinicamente ela possa significar defici�ncia como j� foi dito anteriormente.

A L�NGUA COMO FERRAMENTA DE PODER

Em outras palavras, existe uma �materialidade surda�, mas isso, por si s�, n�o faz sentido. Ali�s, nenhuma materialidade carrega, em si mesma, algum sentido. No caso das pessoas surdas, � em resson�ncia com essa materialidade �n�o-ouvinte� que os sentidos de surdez v�o sendo constru�dos e inventados discursivamente, num campo de lutas por significa��o e reconhecimento social. (VEIGA-NETO in: THOMA, 2006, p. 8)

A l�ngua e o uso de uma linguagem s�o as principais formas de acesso ao mundo. A l�ngua permite a conversa��o, troca de id�ias, aquisi��o de conhecimento e intera��o entre as pessoas. Compreender uma l�ngua, possuir uma linguagem � ter acesso ao poder em nossa sociedade; al�m de nos identificar enquanto pertencentes a um determinado grupo. Falar uma determinada l�ngua � expressar atrav�s dela toda a gama de significados em que aquele grupo social e/ou cultural est� imbu�do; o pr�prio Hall deixa clara tal ideia ao dizer que �A l�ngua � um sistema social e n�o um sistema individual�. (2006, p. 40)

Para os surdos em geral, o uso da Libras � L�ngua Brasileira de Sinais � tamb�m os afasta da obrigatoriedade de construir uma fala oralizada ou de utilizar a L�ngua Portuguesa como comunica��o principal, o que � muito desgastante para quem n�o ouve. Substituir o Portugu�s pela Libras, � facilitar o aprendizado e a compreens�o do indiv�duo surdo, visto que se dar�o de forma visual abandonando a forma mentalizada de �decoreba� de fonemas, s�labas e palavras que o surdo n�o tem na mem�ria auditiva como o ouvinte. No entanto, mais importante do que isto, � dar poder � l�ngua. Ginzburg (1987, p. 113) chega a dizer que a capacidade de dominar e transmitir uma cultura � uma fonte de poder; como a l�ngua faz parte da cultura de um grupo, pode-se dizer que transmitir uma l�ngua � ampliar o poder desse grupo.

Ronice Quadros (2006) ao discutir as pol�ticas ling��sticas destaca que os valores pol�ticos marcam a educa��o de surdos e que no Brasil ainda se acredita que h� uma �nica l�ngua. Salienta que �Os surdos brasileiros resistiram � tirania do poder que tentou silenciar as m�os dos surdos, mas que, felizmente, fracassou neste empreendimento autorit�rio.� (QUADROS, 2006) E continua com a defesa do uso de Libras, �A l�ngua de sinais brasileira � visual-espacial representando por si s� as possibilidades que traduzem as experi�ncias surdas, ou seja, as experi�ncias visuais.� A autora deixa clara a import�ncia dessa l�ngua para os surdos em todos os sentidos, derrubando a ideia de que � uma l�ngua limitada e destacando o quanto a l�ngua contribuiu para a forma��o da identidade surda. Para ela, �existe uma rela��o de poder institu�da entre as l�nguas que refor�am a dicotomia l�ngua de sinais e l�ngua portuguesa [...]� destacando que para os surdos a Libras � vista como primeiro elemento, ou seja, o mais importante.

Ricardo Martins (in: THOMA e LOPES 2004, p. 204-205) chega a dizer: �Sem l�ngua n�o existe nem os surdos nem o modo de ser, cultural, surdo. Existiriam apenas deficientes auditivos.� E segue com uma boa afirma��o em defesa da l�ngua, �[...] n�o � simplesmente o n�vel de audi��o que vai definir quem � surdo ou deficiente auditivo.� (Op. Cit.) � importante destacar neste contexto o movimento surdo intenso para garantir seus direitos de acesso na sociedade atrav�s dessa l�ngua, isso � percebido na exig�ncia de int�rpretes, por exemplo. Al�m da defesa de Libras, busca-se relacionar a l�ngua com poder e conhecimento, Ladd in: Quadros (2006),

Recoloca as prioridades em rela��o aos estudos das l�nguas de sinais a partir da perspectiva surda. Os surdos querem entender suas origens, buscar explica��es de como se constituiu a sua l�ngua. Como afirma Ladd [...], se entendemos que um povo se torna des-colonializado quando estabelece seus pr�prios interesses, planeja seu pr�prio futuro, precisamos nos perguntar quais s�o as prioridades que estamos apresentando para as nossas investiga��es. Os surdos querem saber da pr�pria l�ngua no sentido de desvendar a sua constitui��o no passado e no presente.


Existe um peso ideol�gico (poder) por tr�s do uso de uma l�ngua como forma de comunica��o, este peso hoje dado ao Portugu�s foi historicamente constru�do, visto que n�o � a l�ngua de comunica��o do Brasil col�nia (como muitos pensam). Assim como o Portugu�s foi sendo imposto como dom�nio e acabou por dar identidade ao povo brasileiro; a Libras hoje � uma l�ngua que precisa ser constru�da diariamente por seus usu�rios que enfrentam a dif�cil tarefa de dar visibilidade e import�ncia a ela. Mesmo sabendo que � usada pela grande maioria dos sujeitos surdos, esta l�ngua ainda enfrenta barreiras para ser aceita pela sociedade ouvinte, pois dar visibilidade � mesma � dar significado a tudo que ela representa. O que em termos de poder, discurso e ideologia n�o � bem aceito por muitos ouvintes em nossa sociedade. Conhecimento � poder, dominar e utilizar uma l�ngua � ter acesso a este poder. O que parte do mundo ouvinte tenta, � limitar este acesso do mundo surdo, seja por preconceito, por falta de informa��es ou por dom�nio do considerado diferente. A l�ngua e a linguagem s�o elementos fundamentais nos discursos, na ideologia, na sociedade e na forma��o de uma identidade, seja ela coletiva ou individualizada.

A linguagem transforma o processo da tradi��o social.[...] A linguagem � mais do que um simples ve�culo da tradi��o social. Ela afeta o que transmite. O sentido socialmente aceito de uma palavra (ou outro s�mbolo) � quase necessariamente algo abstrato. (CHILDE, 1988, p. 14-15)

A quest�o do surdo/surdez vem sendo atravessada por diferentes discursos, muitos dos quais considerados cientificamente embasados e aceitos como verdades absolutas. Estas significa��es que v�o sendo utilizadas ao longo da hist�ria por diferentes pessoas, est�o imbu�das de pequenos discursos, jogo de poderes, marcas e representa��es. Como estes discursos exercem um papel central e normativo das pr�ticas sociais, eles norteiam o pensamento que produz poder e controle na sociedade. Discurso � poder, discurso embasado � poder controlado voltado para determinado caminho, dif�cil de ser desconstru�do, imposs�vel de ser silenciado.

Conforme Hall em seu texto, O espet�culo do outro, se referindo a Gramsci e Foucault:

O poder envolve conhecimento, representa��o, id�ias, lideran�a e autoridade cultural, bem como constrangimento econ�mico e coer��o f�sica. Eles teriam concordado que o poder n�o pode ser capturado pelo pensar exclusivamente em termos de for�a e coer��o: o poder seduz, solicita, induz, conquista o consenso. (1997, p. 261)

Complementando com Darsie em refer�ncia � Foucault:

[...] J� que nenhum discurso ou pr�tica social est� isenta de rela��es de poder.[...] em todas as sociedades existem m�ltiplas rela��es de poder provenientes, tamb�m, dos discursos que circulam nessas sociedades. Esses discursos atravessam o corpo social, caracterizando-o e constituindo-o. (2006, p. 27)

Em outras palavras, ter poder � ter visibilidade, obter mesmo que n�o de forma totalit�ria, o consenso de um discurso. Representar aquilo que se quer, da forma como se deseja apresentar. Este parece ser um dos �n�s� quando se relaciona poder e representa��o. Ainda que o poder circule e possamos encontr�-lo em toda parte, a forma como as rela��es sociais s�o envolvidas por ele, reflete na forma como as pessoas atuar�o em suas comunidades, ora representadas como dominantes e ora representadas como dominadas.

A sociedade posiciona o sujeito surdo de acordo com o discurso.

Imbricada em rela��es de poder, a educa��o de surdos vem sendo pensada e definida, historicamente, por educadores ouvintes, embora possamos encontrar em alguns tempos e espa�os a participa��o de educadores surdos. Por�m, estes educadores, que militam pelo direito de ser como s�o, questionando suas constantes submiss�es a pr�ticas de normaliza��o, s�o sujeitos tamb�m produzidos culturalmente e constitu�dos por tra�os identit�rios que os aproximam enquanto surdos, mas que por vezes os afastam em aspectos como g�nero/sexualidade, etnia, condi��es econ�micas e outras. (THOMA, 2006, p.9)

Estas rela��es de poder s�o determinantes para compreender melhor como a educa��o, as rela��es sociais, o trabalho, o uso de uma l�ngua, as rela��es afetivas, etc., est�o em constante disputa, tensionamento e negocia��es. E tanto o surdo como o ouvinte se encontram engrenados neste sistema e nesse jogo de representatividade. Por isso a disputa pelo poder envolve tanto a forma��o de discursos coesos e a tentativa de usar a l�ngua como instrumento para se alcan�ar este poder.

Mas, quem s�o os criadores destes discursos? Arriscamo-nos a dizer que toda a sociedade, incluindo os pr�prios sujeitos. No momento em que defendem a cultura surda, em pr�ticas sociais e nas fronteiras identific�veis; eles imp�em uma nova normaliza��o �s avessas. � o etnocentrismo t�o longamente usado pelos ouvintes, visto agora dentro do discurso surdo. � o ver o outro a partir do meu olhar que o coloca abaixo de mim, inferior. Esse �olhar� � a materializa��o de uma ideologia* crescente, que v� dois blocos completamente opostos: ouvintes versus surdos.

* - Aqui entendida por um conjunto de id�ias que aparece na sociedade como um todo, e age como um elemento desintegrador da diferencia��o social.

Em todos estes momentos de discuss�o cultural percebe-se a exist�ncia de uma cultura surda e uma cultura ouvinte; ambas utilizando a sua pr�pria l�ngua como principal instrumento de poder.

A L�NGUA COMO ARTEFATO CULTURAL

[...] proponho olhar a surdez de outro lugar que n�o o da defici�ncia, mas o da diferen�a cultural.[...] desloco meu olhar para o qu� os pr�prios surdos dizem de si [...] de se verem e de quererem ser vistos como sujeitos surdos, e n�o como sujeitos com surdez. (LOPES, 2007, p. 9)

Esta diferen�a de olhar provoca uma nova dimens�o do ser surdo e, coloca a surdez como um marcador cultural. A comunidade surda demonstra que a l�ngua de sinais tamb�m � vista como ferramenta, �A l�ngua de sinais �, para ambos os casos, um meio eficaz para resolver a quest�o da oralidade dos surdos,[...].� (SKLIAR, 2005, p. 10)

Ferramenta esta que busca marcar a posi��o do sujeito surdo. A l�ngua de sinais juntamente com as experi�ncias visuais, a comunidade surda e as identidades surdas, abarcam o conjunto de diferen�as dos surdos em rela��o aos demais grupos de sujeitos, segundo o pr�prio autor.

� preciso discutir quando se analisa o sujeito cultural surdo, a import�ncia da l�ngua como marcador de uma cultura. Como um dos principais elos que ligam o sujeito a uma determinada identidade, a mesma forma de comunica��o. De acordo com Lacan citado por Hall (2006, p. 37); �A forma��o de eu no �olhar� do Outro... inicia a rela��o da crian�a com os sistemas simb�licos fora dela mesma e �, assim, o momento da sua entrada nos v�rios sistemas de representa��o simb�lica- incluindo a l�ngua, a cultura e a diferen�a sexual.� Neste momento vemos a aprendizagem da l�ngua como fator de forma��o do pr�prio eu, no caso de surdos isto pode significar que a aprendizagem e o uso de Libras ajuda a constituir o sujeito surdo cultural.

Fazendo alguns comparativos extras sobre o tema, � poss�vel relacionar a l�ngua de sinais como um artefato cultural do surdo. Recordando Darsie (2006, p. 29) que faz uma an�lise sobre artefatos culturais com base em Du Gay,

[...] � cultural tamb�m porque � constitu�do, por n�s, como um objeto significativo. Pode-se dizer tamb�m que ele � cultural porque est� ligado a um conjunto particular de pr�ticas sociais, espec�ficos de nossa cultura e a determinados modos de vida.[...] Outra quest�o que torna algo em um objeto cultural, assim como o walkman analisado por Du Gay, � o fato de ele ser freq�entemente representado nas nossas linguagens visuais (sejam elas escritas ou imag�ticas) e nas m�dias.

O que o autor traz pode ser enquadrado na mesma discuss�o feita sobre a l�ngua de sinais. Ela torna-se um artefato cultural na medida em que � considerada significativa, ligada a um conjunto de pr�ticas sociais e a um grupo que a utiliza, faz parte da cultura surda e � representada visualmente pelos seus usu�rios, al�m de ser reconhecida pelos demais grupos sociais como a �l�ngua dos surdos�. Silva (2000, p. 10) acrescenta, �Existe uma associa��o entre a identidade da pessoa e as coisas que uma pessoa usa.�

Esta discuss�o tamb�m retoma a quest�o da identidade, lembrando que a mesma n�o nasce com o sujeito, e de acordo com Hall (2006, p. 38) �Assim a identidade � realmente algo formado, ao longo do tempo, atrav�s de processos inconscientes, e n�o algo inato, existente na consci�ncia no momento do nascimento.� Se o ser humano constr�i sua identidade de acordo com as suas viv�ncias, experi�ncias, grupos sociais e discursos com os quais convive; � de concluir-se que fatores como l�ngua, cultura, fam�lia, amigos, escola, religi�o, etc... v�o ter uma influ�ncia direta em sua identidade, cruzando as informa��es e estes mesmos discursos in�meras vezes. E que as experi�ncias visuais e a l�ngua de sinais v�o fazer parte constante da identidade surda, tornando-se com isto um ponto de coes�o, quase um dogma de partida desta identidade surda.

Quando se estuda identidade cultural de um grupo, sempre se parte da premissa que a mesma � formada a partir de uma cultura nacional, que nos agrega, nos identifica e nos assemelha enquanto indiv�duos pertencentes ao mesmo espa�o-tempo-sociedade. � claro que sabemos que isto n�o est� efetivamente no nosso corpo, n�o est� no nosso complexo sistema biol�gico ou neurol�gico, mas seu poder de identifica��o criou em cada um de n�s um sentimento de identidade, de fazer parte, de sentir-se abarcado por esta unidade.

A lealdade e a identifica��o que, numa era pr�-moderna ou em sociedades mais tradicionais, eram dadas � tribo, ao povo, � religi�o e � regi�o, foram transferidas, gradualmente, nas sociedades ocidentais, � cultura nacional. (HALL, 2006, p. 49)

Esta observa��o do autor complementa a ideia de que existe um fio condutor que liga nossa concep��o de pertencimento a uma cultura nacional. Salientando que a mesma forma��o cultural est� ligada a cria��o de padr�es sociais, como uma forma de se posicionar mais uniforme na sociedade, ao uso da l�ngua predominante, ao sistema de ensino padr�o, a uma vestimenta nos moldes da moda, as g�rias correntes, aos h�bitos em voga, etc...Estes padr�es, funcionam como um sistema de representa��o, neste caso citado acima, da cultura nacional. Mas podemos interpretar tamb�m, dentro das comunidades menores, os micro-espa�os de circula��o de surdos e/ou ouvintes por exemplo. A forma��o de uma identidade surda ou ouvinte, passa pelo conceito de pertencimento, que est� diretamente associado ao pr�prio conceito de identidade cultural. Segundo Hall (2006, p.8), as identidades culturais abrangem �aqueles aspectos de nossas identidades que surgem de nosso pertencimento a culturas �tnicas, raciais, ling��sticas, religiosas e, acima de tudo, nacionais�. Podemos ler ent�o, que o sentimento de pertencimento ao grupo ouvinte ou ao grupo surdo � um dos fatores que forma a identidade do sujeito ouvinte e do sujeito surdo. � certo que na maioria das vezes, estas identidades s�o cambi�veis e m�ltiplas, mas os grupos buscam um �eu� coerente que possa unific�-las.

Tanto surdos em suas comunidades, como os ouvintes em seus grupos de atua��o, possuem esta sensa��o de pertencimento e, portanto, desenvolvem junto ao grupo a mesma �lealdade� e uniformidade de a��es, que se refletem do discurso usado em defesa destes espa�os. Complementando mais uma vez com Hall que diz que �Uma cultura nacional � um discurso - um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas a��es quanto a concep��o que temos de n�s mesmos.� (2006, p. 50) Em outras palavras, nossas identidades s�o formadas a partir deste todo que envolve nosso grupo social e a forma como captamos a cultura do mesmo.

O que se est� dizendo aqui, � que o mesmo padr�o usado para interpretar uma cultura nacional, e a forma��o de uma identidade nacional, pode ser empregada para entender melhor a organiza��o que se d� nas comunidades surdas e compreender a forma��o de uma cultura surda centrada em alguns arqu�tipos que a representam, segundo a mesma.

Outro exemplo para corroborar com esta afirma��o pode ser visto novamente atrav�s de Hall (2006, p. 52):

H� a narrativa da na��o [...] Essas fornecem uma s�rie de est�rias, imagens, panoramas, cen�rios, eventos hist�ricos, s�mbolos e rituais nacionais que simbolizam ou representam as experi�ncias partilhadas, as perdas, os triunfos e os desastres que d�o sentido � na��o. Como membros de tal �comunidade imaginada�, nos vemos, no olho de nossa mente, como compartilhando dessa narrativa. Ela d� significado e import�ncia � nossa mon�tona exist�ncia, [...].

Isto significa que, o que o grupo vivencia, acredita, segue e faz enquanto grupo ou unidade; � partilhado por cada indiv�duo pertencente ao mesmo. Independente de estar na mesma viv�ncia ou nas mesmas a��es, cada indiv�duo pertencente a este todo, sente-se parte das a��es da comunidade. Em um grupo com identidade ouvinte adolescente das grandes capitais, por exemplo, isto pode ser expressado, atrav�s da mesma tend�ncia lingu�stica compartilhada. Em um grupo surdo adolescente de uma determinada comunidade, isto pode ser visto, por exemplo, atrav�s dos mesmos sinais usados como g�rias por exemplo. O que a comunidade imaginada tem como experi�ncia, cada indiv�duo da mesma se sente representante, tendo-a vivenciado ou n�o.

Dentre as m�ltiplas identidades que comp�em um indiv�duo, � necess�rio salientar que uma ir� se destacar de acordo com a situa��o que ele experi�ncia naquele momento. Esta faceta em maior evid�ncia reflete a necessidade de identifica��o do indiv�duo com aquele grupo naquela situa��o. Nada mais simples e comum, por exemplo, do que em uma discuss�o sobre futebol, que cada um deixe claro sua identifica��o com este ou aquele clube e que estes mesmos indiv�duos numa danceteria, por exemplo, demonstrem prioritariamente seus gostos musicais. De acordo com a ocasi�o, o indiv�duo destaca o qu� dele mais pertence aquele espa�o.

Conforme Costa apud Darsie (2006, p.185):

A inten��o relacional pode ser determinada pela busca afetiva, est�tica e comportamental, vinculadas a processos identificat�rios pessoais que ir�o dar conforma��o a uma identidade coletiva, ou seja, a um conjunto de indiv�duos que se agregam em determinados lugares do espa�o por se identificarem em algum ponto, ou em v�rios que os unem, como o h�bito de fumar.

Toda esta discuss�o de identidades serve primordialmente para deixar compreens�vel a forma��o que se d� das comunidades surdas e dos grupos ouvintes. E, quanto consciente ou inconscientemente estes grupos tentaram formar em torno desta unidade, uma base s�lida que converta para o grupo todos os pertencentes a ele, deixando como excludentes os demais.

Mas onde visualizamos estas facetas identit�rias? Onde isto pode ser visualizado para ser melhor compreendido? �Todas as identidades est�o localizadas no espa�o e no tempo simb�licos. Elas t�m aquilo que Edward Said chama de suas �geografias imagin�rias�...suas �paisagens� caracter�sticas, seu sendo de �lugar�, de �casa/lar�, ou heimat, bem como suas localiza��es no tempo- nas tradi��es inventadas que ligam passado e presente,...� (HALL, 2006, p. 71-72) ou seja, existe um tempo e um espa�o simb�lico onde estas identidades atuam. Este tempo e este espa�o podem ser entendidos desde a escola, casa, trabalho, internet, at� um movimento social, tanto os freq�entadores do shopping como os punks, possuem esta no��o de tempo e espa�o da sua pr�pria identidade.

Se visualizarmos os prismas de identidade nas comunidades, � bem verdade que reconheceremos ent�o uma identidade surda ao nos depararmos com um grupo surdo conversando animadamente em Libras. Assim como reconhecemos um grupo de jovens ouvintes ao v�-los falando alto, rindo e cantando uns com os outros. Mas onde est� a faceta identit�ria do Deficiente Auditivo (DA)? At� esse momento ele est� conceituado apenas clinicamente, o que n�o pode ser o �nico fator a formar a sua identidade.

O HIBRIDISMO

Mary Douglas argumenta que o que realmente perturba a ordem cultural � quando as coisas acabam em categoria errada; ou quando as coisas n�o cabem em nenhuma categoria � [...] mas flutuam ambiguamente numa zona h�brida inst�vel, perigosa de indetermina��o, de meio-termo. (HALL, 1997, p. 236)

O grande erro, em nossa opini�o, se incorre quando ao tentar formar a coes�o do grupo, os aspectos menos interessantes ou mais question�veis s�o retirados. Hall (2006, p. 55) salienta que �A identidade nacional � tamb�m muitas vezes simbolicamente baseada na id�ia de um povo ou folk puro, original.� Esta id�ia na verdade � falsa como o pr�prio autor finaliza, mas � o mesmo princ�pio usado para a agrega��o de pessoas em um grupo. Em geral, acredita-se que todos ali t�m as mesmas identidades, s�o �puros� naquilo em que se determinam a pertencer. Comparando novamente com o estudo de Hall sobre as culturais nacionais (2006, p. 59), �n�o importa qu�o diferentes seus membros possam ser em termos de classe, g�nero ou ra�a, uma cultura nacional busca unific�-los numa identidade cultural, para represent�-los todos como pertencentes � mesma e grande fam�lia nacional.� Isto n�o significa que n�o haja dentro dessa pseudo-universalidade, diferen�as. Mas significa que elas s�o �ajustadas� de modo a parecerem mais coesas, do que de fato muitas vezes s�o. Algumas identidades s�o subordinadas � identidade do todo, criando esta falsa id�ia de consenso, coes�o e unifica��o absoluta. Todas estas identidades s�o �atravessadas por profundas divis�es e diferen�as internas�, como sentencia o pr�prio Hall. Mas elas continuam a ser representadas como unificadas para fortalecimento do todo. Tem-se claro que elas n�o eliminam estas diferen�as, mas elas mascaram.

Essas representa��es generalizadas esquecem as diferentes identidades que hibridizam o sujeito surdo, por exemplo, que podem servir de referencial maior a este sujeito. Exemplo, o sujeito surdo que fala, o que possui resto auditivo, o que n�o conhece Libras, o que conhece parcialmente Libras, o que, ao qual, nunca foi dada oportunidade de comunica��o, o que ainda usa gestos caseiros, o que domina plenamente Libras, etc...todos estes sujeitos possuidores de uma variada gama de experi�ncias sociais, pol�ticas, econ�micas, culturais e familiares n�o podem ser enquadrados em identidades estanques, dentro de territ�rios fixos e discursos s�lidos.

Para retomar Hall (2006, p. 16):

A sociedade n�o �, como os soci�logos pensaram muitas vezes, um todo unificado e bem delimitado, uma totalidade, produzindo-se atrav�s de mudan�as evolucion�rias a partir de si mesma,[...] Ela est� constantemente sendo �descentrada� ou deslocada por for�as fora de si mesma.

Para entender esta coloca��o de outra forma; poder�amos dizer que a sociedade est� em constante tensionamento interno e externo, sendo jogada em todas as dire��es, pois n�o h� um n�cleo seguro e centralizado que a mantenha. E que tanto as comunidades surdas como as ouvintes, n�o s�o t�o unificadas, delimitadas, coesas e uniformes como imaginam. Seguindo ainda est� linha de pensamento para a discuss�o, vale lembrar que se a identidade muda e n�o � autom�tica; ela tornou-se, segundo Hall (Op.Cit.), politizada. Um processo muito mais associado a uma pol�tica de diferen�a do que a uma pol�tica de identidade original. O sujeito � surdo, porque assim foi constru�do e posicionado e n�o porque nasceu sem audi��o.

Dentro de todo esse processo de forma��o de novas identidades ou reorienta��o das velhas, nota-se que, para o grupo dominante, as minorias s�o sempre vistas como um bloco �nico. Hall ainda coloca, �...mas que elas s�o vistas e tratadas como �a mesma coisa�... como o �outro� pela cultura dominante.� Para o grupo que domina, aquelas comunidades que n�o fazem parte dela, s�o unificadas no olhar, embora possuam uma gama de diferen�as internas. Este posicionamento refor�a o que j� foi dito sobre etnocentrismo. Vis�o muito utilizada entre grupos, comunidades, sociedades e pa�ses em situa��o desigual ou desproporcional.

Rocha (1989, p. 75) ao analisar a sociedade etnoc�ntrica em que se vive salienta,

O etnocentrismo est� calcado em sentimentos fortes como o refor�o da identidade do �eu�. [...] Para uma sociedade que tem poder de vida e morte sobre muitas outras, o etnocentrismo se conjuga com a l�gica do progresso, com a ideologia da conquista, com o desejo de riqueza, com a cren�a num estilo de vida que exclui a diferen�a.

A vis�o etnoc�ntrica se imp�e como superior, mais desenvolvida, mais abrangente; mesmo sem o ser. Recordando aqui a fala dos estudiosos cl�nicos que associam um poss�vel retardo da sociedade, em caso de n�o haver a audi��o. A identidade neste caso, sempre � feita com o �eu� e nunca com �o outro�, mas sua base de partida � sempre o outro.

� preciso lembrar que toda a identidade possui fatores externos e internos, o primeiro que se define a partir de algo que lhe � exterior, portanto diferente e o segundo que precisa demonstrar essa diferen�a e apresentar o elo de identifica��o. Partindo da ideia de que estas identidades n�o s�o estanques, essas diferen�as citadas tamb�m n�o ser�o. Ou seja, os elementos diferenciais ser�o vari�veis, conforme os m�ltiplos fatores que o cerquem predominantemente naquele momento, desta forma podem ser concebidas algumas quest�es: a surdez ser� sempre o fator determinante? Ou a quest�o de g�nero, faixa et�ria, nacionalidade, grau de instru��o, etc., ser� mais importante? Outra simples pergunta que n�o encontra at� o momento uma resposta adequada.

Esta discuss�o pode fazer um paralelo com outra, levantada por Bauman sobre a quest�o dos guetos, segundo o autor: �Eles costumavam ser mini-sociedades, [...] Tamb�m forneciam a seus residentes certo grau de seguran�a e pelo menos um sopro do sentimento de chez soi, de estar em casa, indispon�vel aos de fora.� (2005, p. 102). O gueto criado tanto por ouvintes como por surdos, apenas define culturalmente se os obst�culos de acesso est�o do lado de dentro ou de fora do mesmo, ou seja, os discursos bin�rios formaram dois grandes guetos culturais, e quem a eles n�o se sente pertencente, est� do lado de fora do gueto, e sua pr�pria condi��o de ouvinte para o gueto surdo ou surdo no gueto ouvinte; � o obst�culo que o coloca pra longe desse �espa�o� social.

Esta binariedade contradit�ria coloca para fora do gueto o clinicamente constitu�do, �deficiente auditivo�, este que n�o possui nem gueto pr�prio nem identidade cultural afirmada. Esse �diferente� que mistura caracter�sticas de surdos com ouvintes, � despossu�do de parte da audi��o e mascarado (sem intencionalidade) como usu�rio da l�ngua oral-auditiva. Ele acaba por formar e ocupar a fronteira destes guetos culturalmente j� constitu�dos, classificados e normatizados dentro de suas pr�prias concep��es. Ele � o h�brido, o resultado da mistura.

Analisando as comunidades, Bauman chega ao conceito de �mesmice� que significaria a aus�ncia do outro, especialmente deste outro que se fundamenta como diferente apesar dos esfor�os em maqui�-lo ou at� dissolver sua diferen�a. Este outro � visto como amea�a, �Na figura do estranho (n�o simplesmente o �pouco familiar�, mas o alien, o que est� �fora de lugar�), o medo da incerteza, fundado na experi�ncia da vida, encontra a largamente procurada, e bem-vinda, corporifica��o.� (2003, p. 104) Se relacionarmos esta observa��o com surdos e ouvintes, veremos que este �alien�gena� � o Deficiente Auditivo, fora de lugar entre ouvintes por n�o ouvir plenamente e fora de lugar entre os surdos, por ouvir parcialmente. A corporifica��o � a resist�ncia criada (e todos os mecanismos dela) para que ele permane�a fora dos guetos. N�o h� espa�o para o h�brido dentro de um conceito bin�rio.

O D.A. E A CULTURA

Assim como a l�ngua, a cultura oferece ao indiv�duo um horizonte de possibilidades latentes- uma jaula flex�vel e invis�vel dentro do qual se exercita a liberdade condicionada de cada um. (GINZBURG, 1987, p. 25)

Edward Tylor criou o termo ingl�s �culture�, resultado da jun��o da palavra alem� Kultur, que estava relacionada aos aspectos espirituais, e do voc�bulo franc�s �civilization�, que seriam os feitos materiais. Dessa forma, cultura era definida, como toda a possibilidade de realiza��o humana. Tentando analisar a cultura surda e a ouvinte a partir do pr�prio conceito de cultura, esbo�ado por Tylor** podemos sintetizar:

** - Edward Tylor (1832-1917) o primeiro estudioso a formalizar um conceito de cultura amplo, no final do s�culo XIX. Seu principal objetivo era fugir da id�ia de aquisi��o inata, queria marcar o car�ter de aprendizado da cultura.

Tomado em seu amplo sentido etnogr�fico � este todo complexo que inclui conhecimentos, cren�as, arte, moral leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou h�bitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. (apud LARAIA, 1998, p. 14)

Usando este conceito, teremos uma fronteira perme�vel entre surdos, D.A.s e ouvintes, tanto quanto se usarmos o conceito de Robert Braidwood, que diz �Quase se pode dizer que a cultura vive na mente das pessoas que a possuem. Mas as pessoas n�o nascem com a sua cultura. Adquirem-na � medida que crescem no conv�vio social�. (COTRIM, 1996, p. 24) Ginzburg (1987, p. 12) chega a propor o car�ter de �circularidade� entre as culturas, um movimento circular que seria de influ�ncias rec�procas entre grupos culturais diferentes***. Maura Lopes afirma cultura, �Como um conjunto contestado e em constante tensionamento de pr�ticas de representa��o intimamente relacionadas aos processos de (re)composi��o de diferentes grupos sociais�. (apud THOMA e LOPES, 2004, p. 37)

*** - Inicialmente, Ginzburg prop�e a circularidade entre cultura das classes dominantes e cultura das classes subalternas.

Utilizando os apontamentos de cultura citados por Tylor, Braidwood, Ginzburg e Lopes, teremos um territ�rio vasto com fronteiras mais t�nues e igualmente mais pertinentes para abranger a sociedade (surdos, Deficientes Auditivos e ouvintes) com suas m�ltiplas caracter�sticas. Apesar da antiguidade dos dois primeiros conceitos, eles ainda hoje podem ser sugeridos e intercalados com os demais escritos, que visam uma especificidade.

N�o h� um conceito de cultura ouvinte claramente definido, mas pode-se estrutur�-lo a partir do conceito de cultura surda. Quadros (2006) define; �Entende-se cultura surda como a identidade cultural de um grupo de surdos que se define enquanto grupo diferente de outros grupos�; este conceito no entanto n�o abarca a totalidade dos indiv�duos surdos e soa vago. Para melhor entendimento, vamos complement�-lo com Lopes (2007, p. 9)

Culturalmente produzimos o normal, o diferente, o anormal, o surdo, o deficiente, o desviante, o ex�tico, o comum entre outros que poderiam compor uma lista infind�vel de sujeitos. [...] Qualquer escolha ser� sempre feita a partir de interpreta��es e representa��es que constru�mos [...].

Se n�s produzimos os sujeitos, e cultura abrange um todo constru�do pelo indiv�duo em sociedade, reafirmamos o que j� foi dito anteriormente: constru�mos (em algum momento do passado) a bipolaridade �surdos versus ouvintes�, tanto nos aspectos cl�nicos como culturais e �esquecemos� do sujeito que se encontra tensionado por estes dois conceitos � o deficiente auditivo.

A �nfase na representa��o e o papel-chave da cultura na produ��o dos significados que permeiam todas as rela��es sociais levam, assim, a uma preocupa��o com a identifica��o. [...] A cultura molda a identidade ao dar sentido � experi�ncia [...] (Woodward in: SILVA, 2000, p. 18)

Esta observa��o da autora nos leva a questionar: Por que este sujeito (D.A.) s� foi constru�do clinicamente? Se a cultura molda a identidade com base na experi�ncia, qual � a experi�ncia do D.A.? Por que n�o h� uma defini��o cultural que o abarque? Por que mesmo quando falamos no todo que � a cultura, ele ainda continua � margem? Uma poss�vel resposta inicia-se recordando que ele � o �alien� para os demais guetos culturalmente constitu�dos.

Thoma, (2006, p. 24) orienta o caminho:

[...] em tempos que as identidades se apresentam como fragmentadas, m�veis, cambi�veis, n�o podemos mais dividir o mundo em fronteiras n�tidas e fixas. A pureza das identidades � um equ�voco do ambicioso projeto moderno e olhar o mundo de forma mais plural ajudar� a desconstruirmos nossas pr�prias verdades [...].

Woodward vai fazer rela��es dentro do �circuito da cultura*� argumentando que �Os discursos e os sistemas de representa��o constroem os lugares a partir dos quais os indiv�duos podem se posicionar e a partir dos quais podem falar.� (Op. Cit.) Fica sub-entendido que cada sujeito fala a partir de sua posi��o e esta � resultante de um intrincado sistema de discurso e representa��o que perpassa e molda a cultura do sujeito.

* - Esquema criado por Paul de Gay et alii (1997) citado por Woodward (in: SILVA, p. 68-69) que prev� v�rios processos pelos quais os artefatos culturais circulam, desde a representa��o, identidade e produ��o, at� o consumo e regula��o.

Neste momento abre-se espa�o para a inser��o do deficiente auditivo para al�m de sua falta parcial de audi��o. E n�o � s� para o D.A. que estamos abrindo espa�o, abre-se caminho a uma infinitude de novos sujeitos potencializados pelo enfraquecimento das fronteiras r�gidas dos guetos. Hall (2006, p. 88) coloca �Em toda parte, est�o emergindo identidades culturais que n�o s�o fixas, mas que est�o suspensas, em transi��o, entre diferentes posi��es [...]�, ou seja, que se deslocam entre os antigos extremos conceituados. E lembrando o que o pr�prio Hall sentenciou (in: SILVA, 2000, p. 112), �As identidades s�o, pois, pontos de apego tempor�rio �s posi��es-de-sujeito que as pr�ticas discursivas constroem para n�s.�

Isto n�o quer dizer, no entanto, que os par�metros deixaram de existir e o discurso do multiculturalismo � a �nica chave para o entendimento da sociedade, e neste caso, dos discursos e estudos que abarcam a audi��o. Dizer simplesmente que na atualidade todas as culturas se sobrep�em e que nenhuma tem destaque especial, as identidades transitam e nada pode ser esclarecido; n�o � a premissa da qual devemos partir para entender o tensionamento das identidades e dos territ�rios hoje.

Bauman de forma ir�nica explica sua vis�o da fala dos intelectuais defensores do multiculturalismo:

Perd�o, mas n�o podemos resgat�-lo da confus�o em que voc� se meteu. Sim, h� confus�o sobre valores, sobre o sentido de �ser humano�, sobre as maneiras certas da vida em comum. Mas depende de voc� encontrar seu pr�prio caminho e arcar com as conseq��ncias caso n�o goste dos resultados. Sim, h� uma cacofonia de vozes e nenhuma ser� cantada em un�ssono, mas n�o se preocupe: nenhuma can��o � necessariamente melhor que a pr�xima, e, se fosse, n�o haveria maneira de sab�-lo � por isso fique � vontade para cantar (compor se puder) sua pr�pria can��o (de qualquer maneira, voc� n�o aumentar� a cacofonia; ela j� � ensurdecedora e uma can��o a mais n�o far� diferen�a). (2003, 112)**

** - Bauman diz ainda de maneira quase po�tica, que esta resposta de multiculturalismo �est� se tornando rapidamente o c�none da �corre��o pol�tica�; mais, ela se torna um axioma que j� n�o precisa ser explicado, um proleg�meno a toda delibera��o futura, a pedra de toque da doxa: n�o propriamente um conhecimento, mas a suposi��o t�cita, impensada, de todo pensamento que mira o conhecimento.� (2003, p. 112)

Neste coment�rio, de forma brilhante, ele nos diz que o multiculturalismo � uma boa desculpa moderna, usada por alguns intelectuais que n�o conseguem compreender (ou n�o querem) a condi��o humana e suas identidades, preferindo ref�gio nessa terminologia. Ele chega descrev�-la como a �ideologia do fim da ideologia.� (Op. Cit.) e profetiza, �Num mundo de �multiculturalismo�, as culturas podem coexistir, mas � dif�cil que se beneficiem de uma vida compartilhada.� (p. 122)

O medo maior � o de transformar esta vis�o de multiculturalidade em uma de �multicomunitarismo�, onde as diferen�as culturais de todos os tipos formam barreiras intranspon�veis pelos sujeitos das mesmas e os sitiados fazem a defesa do grupo. Trazendo esta discuss�o para o estudo deste trabalho, seria dizer que em muitos casos, esta multiculturalidade corre o risco de escorregar para a forma��o de guetos t�o fechados hermeticamente, que n�o permitem a entrada de nenhum diferente com medo de que essa diferen�a jogue por terra as muralhas constru�das. Exemplo mais claro, de forma geral tanto o surdo e o ouvinte t�m receio de que o outro �invada� seu espa�o e �manche� sua identidade de forma a ela n�o ser mais pura, mais �nica, mais segura. E para combater esta possibilidade, rejeitam a presen�a da diferen�a, aqui marcada pelo D.A. tamb�m.

A import�ncia dada � seguran�a com que se apega Bauman em seus escritos representa a tentativa de demonstrar as comunidades e seus guetos, que s� haver� enriquecimento cultural m�tuo e trocas entre as culturas, quando as mesmas se sentirem seguras em seus pr�prios territ�rios. Esta cria��o moderna (o discurso da inseguran�a) acaba por fragmentar cada vez mais as grandes comunidades, formando guetos mais coesos, mais uniformes e com menos possibilidade de tensionamento e deslocamento dos sujeitos. Em nosso caso, para reafirmarem seus espa�os, os surdos e os ouvintes se combatem cada vez mais, usando como subterf�gio os marcadores culturais estanques.

Todo este discurso abre espa�o novamente ao sujeito h�brido (D.A.), e Hall aponta, �As pessoas pertencentes a essas culturas h�bridas t�m sido obrigadas a renunciar ao sonho ou � ambi��o de redescobrir qualquer tipo de pureza cultural �perdida� ou de absolutismo �tnico.� (2006, p. 89) N�o h� como o D.A. imergir na cultura ouvinte e se tornar um ouvinte, nem como mergulhar na cultura surda e constituir-se unicamente como sujeito surdo. Ele �/est� na fronteira destes espa�os e precisa construir sua identidade flutuante, tensionada, e acima de tudo - real.

CONSIDERA��ES FINAIS

O que tentamos demonstrar aqui foi a possibilidade de exist�ncia de um territ�rio entre as fronteiras identit�rias de ouvintes e surdos, tal territ�rio � ocupado pelo deficiente auditivo (D.A.), que inicialmente foi constru�do a partir de discursos cl�nicos, mas que �/est�/precisa ser constitu�do tamb�m por uma identidade pr�pria. E que a mesma � flutuante e tensionada pelos demais territ�rios.

Na verdade, esta prov�vel identidade D.A. � resultado da mistura e influ�ncia recebida por este sujeito parcialmente surdo e ao mesmo tempo ouvinte. Ele � h�brido, misturando todas as experi�ncias que recebe de forma a construir sua identidade a partir do seu �eu� em oposi��o ao �outro�. E como assinalou Hall (2006, p. 89), �As culturas h�bridas constituem um dos diversos tipos de identidade distintivamente novos produzidos na era da modernidade tardia.�

Este D.A. n�o est� s� nesta fronteira, outros similares e diferentes a ele, mas n�o compreendidos como surdos culturais ou ouvintes funcionais plenos, est�o a lhe fazer companhia. Embora possa n�o parecer, esta �terra de fronteira� � muito mais extensa do que parece e abarca in�meros sujeitos expulsos dos demais guetos por n�o se enquadrarem totalmente em seus conceitos pr�prios de comunidade. Neles est�o os usu�rios de aparelhos auditivos, os surdos que desconhecem sinais, os que ouvem mal, mas falam razoavelmente, os que se ap�iam em uma oraliza��o a toda prova, os que se disfar�am de ouvintes por medo e/ou preconceito, os que tornaram-se surdos ap�s longo per�odo ouvinte, qui�� at� os implantados.

Todos os frutos de uma audi��o n�o total, mais ainda assim audi��o e de um olhar diferenciado sobre o mundo e sua realidade, pois, se lhes falta algo, o compensam com a experi�ncia adquirida por esta mesma falta. N�o h� uma forma estanque, pura e �nica de ser parcialmente surdo e n�o plenamente ouvinte, o que h� � um espa�o que possibilita um deslocamento, sem um eixo centralizado e demarcat�rio.

Hall (1997, p. 234) usa a lingu�stica para argumentar: �A diferen�a � importante porque � essencial ao significado; sem ela, o significado n�o teria como existir.� Fazendo outro analogismo com o estudo em quest�o, a diferen�a entre os sujeitos aqui trabalhados � a marca que a partir do outro, os constituem, em foco: o D.A. � assim constitu�do pela sua diferen�a em rela��o ao surdo cultural, sem essa diferen�a ele n�o existiria e ela vai al�m da quest�o cl�nica de diferentes graus de perda auditiva, como muitos estudiosos afirmam.

Tanto o ouvinte como o surdo utilizam de pap�is etnoc�ntricos para definir e conceituar o D.A., no entanto reduz�-lo a uma nomenclatura de cunho cl�nico-terap�utico, n�o lhe tira a ess�ncia do significado que mesmo relacional e tensionado, lhe marca. At� porque, contraditoriamente, a pr�pria vis�o etnoc�ntrica impede de dilu�-lo dentro de uma ideologia multiculturalista, onde sua diferen�a seria anulada. Usando de Hall novamente (Op. Cit.)

A marca da �diferen�a� leva-nos simbolicamente a cerras as fileiras, estear a cultura e estigmatizar e expulsar qualquer coisa que seja definida como impura, anormal. Todavia, paradoxalmente, tamb�m torna a �diferen�a� poderosa, [...] uma amea�a � ordem cultural.

Interessante pensar que essa mesma classifica��o etnocentrista, que lhe delimita um �statu quo*** � cl�nico lhe imbuindo de padr�es e fronteiras, � o que o afirma e imputa a diferen�a cultural, pois ele s� � expulso dos guetos por oferecer uma amea�a real a ordem cultural. Se ele fosse apenas um sujeito cl�nico, n�o teria porque ser isolado dos guetos bin�rios formados. Se ele � segregado � porque os demais reconhecem sua posi��o de sujeito para al�m da terminologia cl�nica.

*** - Statu quo � uma redu��o da express�o latina [in] statu quo [ante], que significa, literalmente, "no mesmo estado em que se encontrava antes".

Ainda que muitas outras quest�es possam ser levantadas, como discuss�es sobre estere�tipos, representa��o e significantes e marcadores culturais D.A.s os quais n�o adentramos neste trabalho de forma intencional, esperamos que a posi��o do sujeito D.A. tenha sido marcada. Mesmo que a terminologia D.A. possa ser contestada, n�o h� problemas em consider�-lo um ensurdecido (desde que lhe mantenham o prop�sito) ou substituir o termo deficiente por outro de mesmo cunho, Campos (2006) j� fez uma longa e boa discuss�o acerca do emprego das terminologias. O que � de fato crucial neste caso, � n�o roubar-lhe a identidade e nem tentar reduzi-la.

E �O espa�o n�o se reduz a um simples cen�rio onde se inscreve e atua um corpo. Muito mais do que isto, � o pr�prio corpo que institui e organiza o espa�o [...].� (Veiga-Neto in: THOMA, 2006, p. 9) ent�o o corpo D.A. � capaz de organizar o espa�o que lhe d� sentido, lembrando que a percep��o desse espa�o � contingente.

Se n�o vamos classificar a sociedade em simples binariedades e nem vamos cair na onda do multiculturalismo, ent�o precisamos come�ar a ver e ouvir os sujeitos para al�m de suas diferen�as, e como nos diz Bauman (2003, p. 134) �Se vier a existir uma comunidade no mundo dos indiv�duos, s� poder� ser [...] uma comunidade de interesse e responsabilidade em rela��o aos direitos iguais de sermos humanos [...].�

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Quando falamos de identidade surda entendemos que surdez e apenas uma diferença

CAMILO DARSIE DE SOUZA Possui Gradua��o em Geografia (2003) e Mestrado em Educa��o (2006) pela Universidade Luterana do Brasil. Atualmente � aluno do curso de Doutorado em Educa��o da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atua como professor titular da Unidade de Ensino Especial Conc�rdia, Universidade Luterana do Brasil e Instituto de Desenvolvimento Educacional e Profissional Integrados - INDEPin. J� orientou trabalhos e ministrou disciplinas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no Centro Universit�rio La Salle, na Universidade de Santa Cruz do Sul entre outras. Tem experi�ncia nas �reas de Educa��o, Geografia e Pedagogia, atuando principalmente nos seguintes temas: Pol�ticas de Sa�de, Territorialidades, Paisagem, Educa��o de Surdos e Educa��o Inclusiva.

Quando falamos de identidade surda entendemos que surdez e apenas uma diferença

Gilmara Mariana Cec�lio Graduada em Licenciatura em Hist�ria (1994) e Mestre em Hist�ria pela Pontif�cia Universidade Cat�lica do Rio Grande do Sul- PUCRS (1997) e especialista em Educa��o de Surdos pela Universidade Luterana do Brasil- ULBRA (2008). Atualmente Assessora T�cnica Pedag�gica da 1� Coordenadoria Regional de Educa��o/Secretaria de Educa��o- 1�CRE/SE/RS. Pesquisadora nas �reas de Educa��o Especial, Hist�ria, Cultura Material e Educa��o de Surdos.

Quando falamos de identidade surda entendemos que surdez é apenas uma diferença?

As pessoas surdas têm em comum muitas características, que vão além da especificidade biológica e abarcam experiências sociais. Porém, entre elas, há diferenças quanto à visão da surdez e delas mesmas nesse contexto. Dito de outro modo, sujeitos inseridos na realidade da surdez apresentam identidades heterogêneas.

Como podemos definir a identidade surda?

1 – Identidade surda Quem tem identidade surda se comunica apenas em língua de sinais, apresenta características culturais e uma maneira de estar no mundo que se baseia na visualidade, além de defender e lutar pelo direito de manifestar sua diferença e de viver a cultura surda na pele.

Quais são as principais identidades surdas?

Por isso, vou explicar a seguir 5 tipos de identidade surda para que você não confunda mais os diferentes termos..
Identidade de transição. ... .
Identidade inconformada. ... .
Identidade flutuante. ... .
Identidade híbrida. ... .
Identidade incompleta..

Qual o termo correto para definir a identidade cultural da pessoa com surdez?

As pessoas que fazem parte da comunidade se identificam como surdas, enquanto as que não pertencem a ela são chamadas de deficientes auditivas.