Será que devemos entender o currículo apenas como uma seleção de conhecimentos?

RESUMO:

Este artigo tem por objetivo propor uma reflexão crítica em torno do currículo e da aprendizagem significativa no contexto do educando. Para tanto, percebe-se que é importante considerar o conhecimento prévio do aluno, bem como seu contexto para que ele construa relações com a realidade. Assim, a pesquisa procura responder aos objetivos e ao problema propostos de forma teórica, uma vez que se nota a necessidade de o professor transformar suas aulas com metodologias inovadoras.

PALAVRAS-CHAVES: aprendizagem, currículo, educação.

INTRODUÇÃO

Este artigo tem por tema a contribuição do currículo no processo ensino-aprendizagem, enfatizando a noção de currículo e a aprendizagem significativa na sociedade moderna. Dessa forma, é importante considerar que este artigo tem relevância científica para a área da educação e para a atuação dos professores, pois sabemos que estes encontram resistência em coadunar currículo e aprendizagem significativa. Dessa forma, as discussões sobre currículo ocupam-se cada vez mais o campo da educação, no país, pois sabemos que vários autores tentam discutir as teorias curriculares e aproximá-las da realidade do professor na sala de aula.

A partir dessa ideia, levanta-se o seguinte problema: Como o professor pode tornar as aulas satisfatórias? Afirmar que os professores não pretendem desenvolver trabalhos inovadores é uma afirmação muito apressada, pois eles ainda estão se atualizando para utilizar novos métodos na sala de aula.

Desse modo, acredita-se que os alunos participam de maneira satisfatória quando as aulas são enriquecidas com o uso de tecnologias, com estudo de caso e práticas cotidianas, pois para eles são, ao mesmo tempo, metodologias inovadoras. Acredita-se que a discussão no campo curricular seja pertinente para entender a transformação e mudança do currículo que o professor pode fazer para contribuir na aprendizagem dos alunos.

Tendo como ponto de partida os fundamentos de Ausubel (2003) e de Freire (1986), busca-se analisar como se processa a aprendizagem significativa por meio de uma aula estruturada que tenha fundamento e prática para o aluno. Assim, temos por objetivos:

a) Contribuir com a prática docente com relação ao estudo da aprendizagem significativa.

b) Propor a utilização da tecnologia e das metodologias inovadoras como meio para a aprendizagem significativa.

A pesquisa justifica-se na medida em que notamos, em nossa prática cotidiana, que as aulas diferenciadas fazem com que o aluno interaja mais durante o processo ensino-aprendizagem, conforme propõe Ausubel (2003), estudioso da aprendizagem significativa, a necessidade de o aluno verificar se a aprendizagem faz sentido na realidade dele. Para Freire (1986, p.97), o “currículo padrão, o currículo de transferência é a forma mecânica e autoritária de pensar sobre como organizar um programa, que implica, acima de tudo numa tremenda falta de confiança[…]”.

Assim, Freire afirma que a leitura do mundo é a leitura de palavras. Logo, pode-se notar que na visão do autor acima, o currículo é algo padronizado e imposto pela sociedade, pelos valores e pela ideologia.

Ao desenvolver a prática educativa, precisamos do conteúdo que é objeto ensinado pelo educador, que por fim será entendido pelo educando. Logo, modificar o currículo é algo essencial para o educador, assim este construirá metodologias inovadoras com o objetivo de que a aula seja estruturada e significativa.

DEFINIÇÃO DE CURRÍCULO

Historicamente, quando falamos em currículo, é importante ressaltar o conceito que ele tem no passado e como ele é visto na modernidade. O currículo está relacionado a poder, pois não existe neutralidade nele, ele é veículo de uma ideologia e de um contexto social de época. Nessa visão,Silva (2011) acrescenta que “o modelo dessa concepção de currículo é a fábrica”, ou seja, é um produto fabril, como a visão de Bobbitt no passado. Nesse sentido, o currículo precisa de métodos e objetivos para obter resultados.

Essa é uma noção totalmente tradicional, considerada como um processo industrial e administrativo, que é a visão Taylorista. Silva (2011, p.15) acrescenta: […]O currículo é sempre o resultado de uma seleção: de um universo mais amplo de conhecimentos e saberes seleciona-se aquela parte que vai constituir, precisamente, o currículo.

As teorias do currículo, tendo decidido quais conhecimentos devem ser selecionados, buscam justificar por que “esses conhecimentos” e não “aqueles” devem ser selecionados. É importante considerar que nessa visão tradicional de currículo, busca-se entender o porquê da seleção de determinados conteúdos e não de outros.

Assim, o currículo passa a estar envolvido naquilo que somos e nos tornamos, ou seja, ele é fruto de uma identidade e subjetividade, uma vez que forma cada indivíduo de uma maneira diferente, devido aos valores, a sociedade, etc. Ao discutir currículo, devemos pensar no início da colonização, quando os jesuítas catequizaram os índios. Essa relação tem sido discutida por muitos anos no processo educacional, na história da educação brasileira.

São os grupos que detêm a hegemonia política e social, de acordo com os seus interesses. Assim, não devemos esquecer-nos do estruturalismo que enxergava o currículo como relação de poder, pois havia um processo seletivo no sentido de selecionar aquilo e não isto, que é uma operação de poder. É assim que compreendemos o currículo como um campo de formação e de valores de uma sociedade.

APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

A aprendizagem é algo importante para que possamos incorporar um conhecimento e torná-lo significativo. Dessa forma, quando falamos em aprendizagem significativa, devemos entender que ela é um processo de modificação do conhecimento, pois o indivíduo precisa ter disposição para aprender, e depois, o conteúdo precisa ser significativo para ele. Ainda sobre essa questão da aprendizagem significativa, Moran em uma entrevista efetuada ao 2015 | AGOSTO | | 41 Portal da escola, em agosto de 2008, afirma:

A escola precisa partir de onde o aluno está das suas preocupações, necessidades, curiosidades e construir um currículo que dialogue continuamente com a vida, com o cotidiano. Uma escola centrada efetivamente no aluno e não no conteúdo, que desperte curiosidade, interesse.

Precisa de bons gestores e educadores, bem remunerados e formados em conhecimentos teóricos, em novas metodologias, no uso das tecnologias de comunicação mais modernas. Educadores que organizem mais atividades significativas do que aulas expositivas, que sejam efetivamente mediadores mais do que informadores.

De acordo com a entrevista do autor, podemos entender que a escola deve trabalhar o seu currículo conforme a realidade e a necessidade do educando para que a aprendizagem seja satisfatória em termos sociais e culturais. Assim, a escola, que é um ambiente renovador, deve adaptar-se aos recursos tecnológicos e as práticas educativas sem criar barreiras para o aprendizado. A internet, por exemplo, é um meio digital que surgiu há alguns anos e é um meio para a construção do conhecimento.

Seguindo esse pensamento e direcionamento de aceitação do novo, Freire (1996, p.20) acrescenta: É próprio do pensar certo a disponibilidade ao risco, a aceitação do novo que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo, assim como o critério de recusa ao velho não é apenas o cronológico.

O velho que preserva sua validade ou que encarna uma tradição ou marca uma presença no tempo continua novo. As ideias de Freire nos mostram que devemos aceitar e renovar o aprendizado, o que aprendemos antes de conhecer o novo modelo, deve ser preservado e não descartado.

Diante disso, a tecnologia assume um papel no que tange à educação contemporânea, que é utilizar o acesso e a crítica à informatização como método para ampliar o universo cultural do aluno. A aprendizagem significativa ocorre no momento em que o aluno é o sujeito participante do próprio aprendizado, ou seja, no momento em que o professor aplica um conteúdo e com os conhecimentos prévios que ele tem armazenado é ativado o que se considera como significativo para ele, em resumo, que tenha sentido relevante.

A linguagem é outro elemento importante no processo da aprendizagem. O pesquisador Ausubel afirma que se o professor utilizar uma linguagem clara, simples e adequada, o conhecimento será significante para o aluno. Nos dizeres de Ausubel (2003), é importante levar em consideração o conhecimento prévio do indivíduo, antes de inserir um novo conteúdo para ele. Assim, para que essa aprendizagem ocorra, devemos verificar a natureza do conteúdo e as dificuldades de aprendizagem do aluno:

Por outras palavras, elaboram-se aqui dois pressupostos:

(1) é menos difícil para os seres humanos apreenderem os aspectos diferenciados de um todo, anteriormente apreendido e mais inclusivo, do que formular o todo inclusivo a partir das partes diferenciadas anteriormente aprendidas;

(2) a organização que o indivíduo faz do conteúdo de uma determinada disciplina no próprio intelecto consiste numa estrutura hierárquica, onde as ideias mais inclusivas ocupam uma posição no vértice da estrutura e subsomem, progressivamente, as proposições, conceitos e dados factuais menos inclusivos e diferenciados. (Ausubel, 2003, p. 166).

Diante das ideias de Ausubel, podemos entender que cada ser humano introduz no pensamento o conhecimento e a organização dele de maneira diferenciada, ou seja, o indivíduo aprende de maneira diferenciada, embora estejam no mesmo ambiente de aprendizado. Para que a aprendizagem seja significativa, está deve ser inserida de forma ativa na realidade.

O professor precisa conduzir projetos, desenvolver novas ideias, novos métodos de ensinar, resolver problemas, a fim de que esses conhecimentos tenham significado na vida prática do educando.

Desse modo, a aprendizagem significativa é pôr em relevo a construção de significado como elemento central no processo ensino-aprendizagem. Nos dizeres de Salvador (1988, p.148) o aluno aprende um conteúdo” quando é capaz de atribuir-lhe significado[…]”, ou seja, o aluno pode aprender mecanicamente sem atribuir significado, que é a forma de memorizar e em breve esquecer do aprendizado. Por isso, o currículo deve ser pautado na realidade do educando, para nela intervir e transformá-la, devido à seleção dos conteúdos escolares e o papel das diferentes fontes de conhecimento.

Contudo, o importante é discutir o currículo no atual cenário, com valores diferenciados para que os professores possam encontrar uma ancoragem entre currículo e aprendizagem significativa. Considerações finais conforme foi dito na introdução deste artigo, o problema de pesquisa partiu da realidade em que encontramos no cotidiano dos professores, que é tornar o aprendizado satisfatório para os alunos.

Pudemos observar, durante as reflexões teóricas, que os alunos interagem mais quando o professor utiliza diferentes metodologias inovadoras, bem como a tecnologia em sala de aula. Acredita-se que o professor deva inovar suas aulas e torná-las satisfatórias para que o conteúdo tenha lógica intrínseca e não seja vago na realidade do educando. É certo que o conteúdo não deva ser arbitrário, isto é, estar pouco estruturado e sem lógica.

Enfim, o currículo contextualizado torna-se integrador de uma realidade social que é objeto do conhecimento. Afirmamos, nesse sentido, que o currículo constrói uma educação inovadora e transformadora, rica de conhecimentos e culturas. Dessa forma, as aprendizagens são os resultados de processos singulares e individuais que pressupõem um enfoque pedagógico que tenha como eixo estruturador as aulas e a metodologia dos professores.

Por: Fabiana Meireles de Oliveira


REFERÊNCIAS AUSUBEL, David Paul. Aquisição e retenção de conhecimentos: uma perspectiva cognitiva. Lisboa: Plátamo, 2003. FREIRE, Paulo.Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 32.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. _____________. & SHOR, Ira. Medo e Ousadia: o cotidiano do professor. 2.ed. rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. MORAN, J.M. Aprendizagem significativa. [ago.2008]. São Paulo. Entrevista concedida ao Portal Escola Conectada. Disponível em . Acesso em 27/07/2012 SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de Identidade.Uma introdução às teorias do currículo.3.ed. São Paulo:autêntica, 2011.

Por que dizemos que o currículo e uma questão de conhecimento?

O currículo é sempre resultado de uma seleção: de um universo mais amplo de conhecimentos e saberes seleciona-se aquela parte que vai constituir , precisamente o currículo. As definições de currículo de Lopes (2006) e Silva (2005) são aquelas de Sacristán (apud SEED, 2003, p. 15):

Como deve ser entendido o currículo?

indicar quais são os conhecimentos verdadeiros, distinguindo-os daqueles que não precisam ser repassados às novas gerações. nortear a ação docente, no sentido de divulgar as informações mais úteis e precisas aos alunos.

Qual a relação entre currículo e conhecimento?

Considerando que o currículo influencia a formação das pessoas, pode-se afirmar que o mesmo é determinante no desenvolvimento do processo de aprendizagem e produção do conhecimento nas dimensões individual, cultural e social.

O que se entende por currículo?

Quanto à origem da palavra, currículo vem do latim “currere”, que significa rota, caminho. Representa, então, a proposta de organização de uma trajetória de escolarização, envolvendo conteúdos estudados, atividades realizadas, competências desenvolvidas, com vistas ao desenvolvimento pleno do estudante.