Qual o papel da mulher na sociedade ao longo do tempo?

O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
Claudete Inês Pelicioli
Advogada e Doutoranda pela Universidade de Buenos Aires/Ar
Florianópolis 25/02/2012

1. INTRODUÇÃO
O presente artigo trata do papel da mulher na sociedade contemporânea, ou seja, de como se pode contribuir para diminuir as desigualdades de gênero, para a construção de uma sociedade melhor.
Apesar de que muitas pessoas, homens e mulheres, acharem que não há diferença de gênero e que a mulher “moderna” não sofre qualquer tipo de discriminação, existe uma história e uma marca que está no consciente ou inconsciente coletivo, como se passa a demonstrar ao longo deste artigo.
Portanto, este artigo tem como escopo, provocar a consciência das pessoas, homens e em especial as mulheres, para que façam a sua parte, com pequenas ações, para diminuir as diferenças de gênero.
2. DESENVOLVIMENTO
A consolidação da igualdade de direitos entre os gêneros é uma conquista que leva tempo e cujas raízes da desigualdade remontam aos tempos antigos.
Existe uma memória secular em relação ao papel da mulher, manifestada em vários setores: religioso, intelectual, cultural, social, jurídico, familiar, psicológico, etc.
No âmbito religioso, a Bíblia traz que a primeira mulher, Eva, surgiu da costela de um homem, Adão; intelectualmente podemos citar os grandes filósofos gregos, para quem as mulheres eram equiparadas a crianças e escravos; socialmente, a mulher foi usada como mercadoria de troca entre reinados e senhores feudais, servindo para alianças políticas e econômicas; até pouco tempo, os direitos políticos das mulheres eram reduzidos, não tendo direito ao voto e com liberdade vigiada, precisando da autorização do marido para trabalhar fora; todas estas diferenças e muitas outras, eram reforçadas e ratificadas pela família e pela escola, que educava a mulher para cumprir um determinado e limitado papel social.
É sabido que em alguns países ainda é assim: as mulheres são impedidas de trabalhar fora e de estudar, proibidas de ter outra função social a não ser aquela de procriar e servir.
A consolidação das conquistas é um processo muito lento, pois a mulher carrega consigo as marcas da história, da tradição e dos costumes, que a direcionam a cumprir determinado papel social e familiar.
Atualmente, a palavra chave para qualificar a mulher, mesmo que de forma muito sutil e muitas vezes despercebida na sociedade é “limitação”, pois a mulher já não é mais considerada “incapaz”, agora ela é só “limitada” para o exercício de algumas atividades e para alguns discernimentos.
Apesar de muitas mulheres jovens não perceberem a discriminação de gênero, a geração mais antiga, certamente, tem alguma história para contar de discriminação sofrida, não só social, mas familiar, em que lhes era implantada a ideia de que a mulher tinha algumas limitações e obrigações previamente definidas.
Para dar um exemplo local e atual da falta da credibilidade na mulher, em Florianópolis todos os representantes na câmara de vereadores, são homens. São 23 homens no poder para legislar e decidir o que é melhor para a cidade e consequentemente para nós, mulheres.
Não se está afirmando que as mulheres são melhores ou piores que os homens, é apenas o levantamento de dados: as mulheres em Florianópolis representam 53% dos eleitores e, poderíamos estar representadas na mesma proporção por mulheres na política, mas não somos nem a maioria e nem a minoria, neste setor, simplesmente não existimos.
De nada adianta fazer Lei que determina cota eleitoral, de no mínimo 30% para as mulheres , para diminuir a diferença de gênero, se as mulheres não votam nelas mesmas.
Como visto acima, não obstante a prática da discriminação seja proibida pela Lei Maior (art. 5º, caput e inciso I , Art. 7º, XXX da Constituição Federal), somente a previsão legal não é suficiente para inibir a discriminação, já que faz parte da história e da concepção do papel social e familiar da mulher.
Diante do exposto e visando dar utilidade ao nosso estudo, apresentam-se duas possibilidades de mudança: a mudança por repressão (de cima para baixo) e a mudança por consciência (de baixo para cima).
As leis em defesa dos direitos das mulheres, impõem uma mudança por repressão, de cima para baixo, em que o comportamento social é inibido por medo de sofrer uma sanção. Neste caso, a discriminação permanece encoberta e incubada, diante da proibição legal.
Acredita-se que a mudança verdadeira é aquela em que se dá na consciência e no comportamento, que se faz pelo entendimento e pela incorporação da ideia de igualdade de direitos da pessoa e não somente de gênero.
Neste contexto, mais importante que ser homem ou mulher, é ser pessoa, pois existem diferenças e habilidades, que variam de pessoa para pessoa, que devem ser respeitadas, sob pena de se perder a identidade.
A mudança é uma construção lenta, atuada dia a dia, momento a momento, e deve iniciar por cada um, não devendo esperar que inicie pelo reconhecimento do outro.
A culpa não pode mais ser reportada aos homens: ao longo da história, eles tiveram o seu papel e nós fizemos o nosso, mas quem tem o dever de dar um impulso a essa mudança somos nós mulheres, até porque somos nós que sofremos as consequências.
Neste sentido, pequenas ações no nosso cotidiano, podem ser úteis e funcionais à mudança dessa realidade, que ainda se revela discriminatória.
As pequenas atitudes de cada dia podem ser muitas: não discriminando a mulher ao escolher um profissional, seja um médico, um dentista, um advogado, um engenheiro, um arquiteto, um psicólogo, um representante político, um líder religioso, etc., ou seja, não discriminar a mulher no seu projeto de vida, na sua atuação profissional, na sua fonte de renda.
Ainda, não ofender uma mulher ao observar que tem dificuldade no exercício de alguma tarefa, não a ofendendo quando está praticando atividades para as quais é geralmente discriminada, a exemplo de quando está conduzindo veículos, no trânsito, essa atitude comum, demonstra mais que discriminação, demonstra desrespeito.
E, o mais importante, começar dentro da própria casa, pois a mulher é a principal educadora dos filhos. São as ideias dela que vão formar os homens e mulheres do futuro, portanto, ao educar um filho ou uma filha, deve identificar e respeitar as suas diferenças, não fazendo discriminação de gênero.
Neste contexto, vale lembrar que ao adquirir um brinquedo, ou mesmo um livro infantil, deve-se deixar de lado o encantamento superficial e verificar qual é a mensagem por trás daquele brinquedo: uma boneca , uma estória da bela adormecida, da branca de neve, da cinderela , etc. Que mensagem trás? Que educação estamos dando as nossas filhas?
É preciso acordar e saber que a mulher “pode fazer o que quiser, mas é importante que saiba que, além do marido, dos filhos, existem muito mais coisas a serem feitas na sociedade ”.
3. CONCLUSÃO
Não obstante ainda haja discriminação de gênero, observa-se uma evolução do papel da mulher na sociedade.
No entanto, para que a mulher tenha as mesmas possibilidades de desenvolvimento do seu projeto de vida é necessário um avanço de pensamento e de comportamento.
Nesta conquista, a mulher é a protagonista principal, pois é ela que tem que se posicionar com coerência e vontade.
Esta mudança começa de dentro para fora, quer dizer, de dentro de si mesma para o mundo externo, de dentro da sua família na educação dos filhos, de dentro do seu ambiente de trabalho se posicionando e conquistando o seu lugar como profissional.
Demais de tudo isso, a alma da pessoa não tem sexo, não é nem masculina, nem feminina e, se pensarmos nisso toda e qualquer desigualdade e discriminação desaparece.

4. OBRAS CONSULTADAS
Meneghetti, Antonio. A feminilidade como poder sexo e graça. 2ª. ed. Recanto Maestro/RS : Ontopsicologica Editrice, 2004.
Piovesan, Flávia. Temas de Direitos Humanos, 5ª ed., São Paulo : Saraiva, 2012.