Quem vai poder tomar a coronavac

A partir de hoje (30) todas as crianças de 3 e 4 anos de idade do estado de São Paulo podem tomar a vacina contra covid-19. A imunização estava restrita às crianças com comorbidades desta faixa etária. A ampliação é fruto de uma doação de 2 milhões de doses de Coronavac por parte do Instituto Butantan, órgão da Secretaria de Ciência, Pesquisa e Desenvolvimento em Saúde.

Quem vai poder tomar a coronavac
Quem vai poder tomar a coronavac

A imunização para crianças dessa faixa etária com Coronavac foi autorizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em agosto, mas não havia doses suficientes para vacinar toda esta população do estado e do país.

“A partir daí o Instituto Butantan importou IFA [Ingrediente Farmacêutico Ativo, insumo utilizado para fabricação de vacinas] e concluiu na última semana a produção de 3,5 milhões de doses, sendo que apenas 1 milhão foi adquirida pelo órgão federal, o que corresponde a 215 mil doses para o estado de São Paulo. Para que o estado pudesse vacinar a totalidade deste público, o Butantan doou a Secretaria de Estado da Saúde mais 2 milhões de doses”, diz a Secretaria Municipal de Saúde.

“A Coronavac é considerada pela Anvisa segura para as crianças de 3 e 4 anos de idade. Nosso imunizante é o mais utilizado entre a população de 3 a 17 anos de idade, resultado da sua segurança e das poucas reações", disse o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. 

"Os dados indicam que é uma vacina muito efetiva e pode evitar que a doença evolua. Ainda temos altos números de internações de crianças e sequelas graves que podem ser evitadas. É fundamental que os pais e responsáveis levem seus filhos para se imunizar”, completou Covas.

O governo federal decidiu nesta semana estender a chamada "dose de reforço" das vacinas contra a covid-19 à toda população maior de 18 anos. Desde setembro, essa terceira aplicação estava restrita àqueles com mais de 60 anos, profissionais da saúde e pessoas com deficiências no sistema imunológico, grupo que o ministério pretende contemplar até o fim do ano.

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O restante da população maior de idade, informou o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, deverá ser revacinado em seis meses, até maio de 2022, nos 38 mil postos de saúde do país. Ele assegurou que o país tem vacinas contratadas em quantidade suficiente para a nova etapa da campanha.

Apesar do anúncio, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) enviou uma lista de questionamentos ao Ministério da Saúde sobre a decisão de liberar a dose de reforço da vacinação contra covid-19 a todos adultos. A agência também pede dados sobre a decisão de aplicar a vacina da Janssen, antes de dose única, em duas doses.

O Valor detalha, nesta reportagem, como vai funcionar a terceira dose da vacina contra covid-19 a partir de informações do ministério e de governos estaduais, além da ajuda do professor de ciências farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP) Marco Antônio Stephano, que atuou por 20 anos nas fábricas do Instituto Butantan, e da bióloga Beatriz Carniel, doutora pela Escola de Medicina Tropical de Liverpool e integrante do grupo Ação Covid-19. Confira abaixo:

Quem vai tomar a terceira dose de vacina contra covid-19?

Podem tomar o reforço vacinal todos os maiores de 18 anos que receberam a segunda dose dos imunizantes das farmacêuticas Sinovac (Coronavac), Pfizer e AstraZeneca há cinco meses ou mais, informou o Ministério da Saúde. Em nível estadual, São Paulo e outras unidades da federação seguiram a diretriz, que deve prevalecer em todo o território.

Como ficam os vacinados com dose única da Janssen?

Pessoas que receberam a vacina da Janssen em dose única há dois meses ou mais deverão procurar os postos de saúde para uma segunda dose da mesma vacina. Cinco meses depois, elas estarão aptas ao reforço, que, por ora, deverá acontecer com a vacina da Pfizer, conforme recomendação do Ministério da Saúde.

A bióloga Beatriz Carniel, do grupo Ação Covid-19, pondera que resultados de pesquisas sobre dose de reforço ainda vêm sendo publicados no mundo e, por isso, recomendações de governo tendem ser adaptadas à frente.

Quando poderei tomar a terceira dose da vacina?

Cinco meses depois da segunda dose, mas, é importante ressaltar, seguindo o calendário de vacinação de cada Estado ou município.

O anúncio do Ministério da Saúde sobre a extensão da dose de reforço à população adulta veio no dia 16 de novembro. No dia seguinte, à noite, a pasta publicou nota técnica a este respeito, dando sinal verde para Estados e municípios aplicarem o reforço. Agora, cada Estado ou cidade divulgará calendário de vacinação próprio. De acordo com as projeções do governo, 12,4 milhões de brasileiros estão aptos a receber a dose de reforço já em novembro.

Em São Paulo, a revacinação acontece a partir de 18 de novembro. Poderão receber o reforço no Estado os adultos que tomaram a segunda dose da vacina até o dia 27 de abril. A partir de 19 de novembro, serão revacinados aqueles que tomaram a segunda dose até 17 de junho.

O Estado do Rio, o segundo mais populoso do país, segue aplicando o reforço somente para grupos prioritários. Na capital, idosos com mais de 60 anos devem se vacinar até 20 de novembro, e as demais prioridades devem respeitar o intervalo de cinco meses após a segunda dose (D2), conforme orientação federal, e não mais de seis meses, como vinha acontecendo.

Ainda não há calendário definido para a população adulta. Mas os fluminenses que tomaram Coronavac começaram a receber a D2 perto de 28 de junho e, portanto, poderiam começar a ser revacinados no fim de novembro. Aqueles que tomaram AstraZeneca ou Pfizer, como começaram a receber a D2 por volta de 31 de agosto, só devem receber o reforço no fim de janeiro.

É preciso fazer cadastro ou já posso procurar o posto de saúde?

Não. Para tomar a dose de reforço, basta acompanhar o calendário de cada Estado ou município e procurar um posto de saúde, munido do comprovante da segunda dose. No Estado de São Paulo, que tem o sistema de cadastro "Vacine Já", obrigatório em algumas cidades, não é preciso realizar nova inscrição, porque os vacinados já constam no sistema.

Vacina contra covid-19: População acima de 18 anos receberá a terceira dose — Foto: Prefeitura de São Paulo

Quais vacinas serão usadas na terceira dose?

De acordo com a nota técnica do Ministério da Saúde, serão usados os imunizantes Pfizer, AstraZeneca e Coronavac, que respondem por quase a totalidade da carga contratada pelo governo federal até o momento. Mas, no documento, a pasta afirma que a vacina a ser utilizada deverá ser "preferencialmente, da plataforma de RNA mensageiro (Pfizer) ou, de maneira alternativa, vacina de vetor viral (Janssen ou AstraZeneca), independentemente do esquema vacinal primário".

A vacina produzida pela farmacêutica Janssen, no entanto, será reservada para a segunda dose dos pacientes que a receberam como dose única. O professor Marco Antônio Stephano (USP) e Beatriz Carniel, do Grupo Ação Covid-19, diz que isso deve acontecer tanto pela escassez da vacina no país, quanto pela falta de recomendação internacional do uso desse imunizante como reforço.

É possível escolher a terceira dose da vacina?

Não será possível ao cidadão escolher a vacina usada para reforço. Mas o comitê de assessoramento do Ministério da Saúde recomenda que a marca seja diferente da primeira e segunda doses, o que chamam de esquema de vacinação heterólogo. Em outras palavras, idealmente, quem tomou as duas doses de AstraZeneca receberá uma terceira da Pfizer e vice-versa.

Apesar da preferência do Ministério da Saúde por Pfizer ou AstraZeneca na dose de reforço, o documento da pasta atesta que, "na população geral, dados preliminares de ensaios clínicos com a vacina Coronavac demonstram amplificação da resposta imune após a terceira dose, elevando a patamares superiores ao observado quando da aplicação da segunda dose, tanto em adultos de 18 a 59 anos quanto acima de 60 anos".

Por que é interessante tomar o reforço com AstraZeneca se tomei Pfizer antes?

Segundo Stephano, quando usado a mesma vacina de forma repetitiva, o sistema imunológico tende a especializar sua resposta por meio de anticorpos específicos, induzidos por aquela vacina. Esses anticorpos específicos passam, então, a prevalecer. A aplicação de vacinas com vetores diferentes, que acionam outras partes do sistema imune, diminui esse efeito de especialização, estimulando uma resposta mais abrangente ao coronavírus, ou seja, mais diversidade de anticorpos e resposta celular. Isso também confere maior proteção contra cepas diferentes.

Esse esquema de trocar fabricante de vacinas traz riscos?

Não. Os riscos de alternar vacinas não são maiores do que os envolvidos na aplicação repetida de uma mesma vacina. Ao contrário, em alguns casos, serve de alternativa para afastar ainda mais as chances de ocorrência de fenômenos adversos raros em determinados grupos da população.

A vacinação em duas doses foi ineficaz?

Não. A vacinação em duas doses foi eficaz e isso pode ser atestado pela queda vertiginosa do número de casos e mortes por covid-19 nos últimos meses no Brasil, país onde houve forte adesão à campanha. "Além disso, praticamente não há mais restrição de circulação de pessoas e, ainda assim, o número de casos graves vem caindo de forma consistente", acrescenta Stephano, da USP. Especialistas destacam, ainda, que as vacinas hoje no mercado ainda apresentam boa eficácia contra as principais variantes conhecidas do Sars-Cov-2.

Por que, então, é necessário tomar a terceira dose?

A durabilidade da resposta imune, principalmente a produção de anticorpos, não era bem conhecida até meados da pandemia. Devido à situação de emergência, as vacinas foram para o mercado antes da conclusão de testes mais longos capazes de atestar o tempo de proteção. "Em Israel, se verificou que após seis meses a resposta para o coronavírus diminuía e aumentava o número de casos. Então foi decidido aplicar a terceira dose naquele país", observa Stephano sobre um dos primeiros países a implementar a dose de reforço, o que vem sendo seguido por mais de 30 países.

Beatriz Carniel lembra que já existem estudos internacionais publicados sobre queda da imunidade ao longo do tempo em pessoas vacinadas com Pfizer, AstraZeneca e Coronavac. No caso da Pfizer, após seis meses, a eficácia contra hospitalização cai de 96% para 74%, segundo estudo publicado por autoridades sanitárias do Reino Unido. E, para AstraZeneca, essa eficácia cai de 77% para 67%, também segundo o governo britânico. No caso da Coronavac, há estudos realizados por pesquisadores de China, Chile e Turquia, cujas estatísticas variam, mas apontam para queda na imunidade conferida.

Estudos chancelados pelo governo do Reino Unido mostram que a eficácia contra hospitalização da dose de reforço de Pfizer em indivíduos vacinados com esse mesmo imunizante é de 93%. No caso da Coronavac, esse percentual é de 88%. Mas foi demonstrado que a aplicação de uma vacina diferente na terceira aplicação é ainda mais eficaz.

Só quem tomou Coronavac vai tomar a terceira dose?

Não. Todos que tomaram duas doses de vacina há mais de cinco meses, independentemente de marca, deverão tomar a dose de reforço. A exceção é quem tomou a vacina da Janssen, que, como já mencionado, ainda deverá receber uma segunda dose do mesmo imunizante antes do reforço.

Quem tomou dose de reforço terá de tomar novamente no futuro?

Ainda não é consenso entre especialistas se a vacinação contra a covid-19 será periódica. Mas Stephano, da USP, e Beatriz Carniel, do Ação Covid-19, acreditam que sim.

"Vacinas injetáveis não impedem a infecção e transmissão do vírus, mas impedem o desenvolvimento da doença para a forma mais grave e até mesmo a morte. Como ainda não sabemos a durabilidade da resposta em relação à terceira dose, então acredito que haverá outra vacinação a cada seis meses ou um ano até o surgimento de vacinas de segunda ou terceira geração com propriedade de parar, de fato, a transmissão do coronavírus", diz Stephano. Ele faz referência, por exemplo, às vacinas nasais, que impedem o contágio na porta de entrada do vírus e ainda estão em desenvolvimento. A USP desenvolve projeto nessa linha, chefiado pelo médico e professor Jorge Elias Kalil, com participação do próprio Stephano.

Quais são os efeitos colaterais da CoronaVac?

"Observamos que na CoronaVac as reações mais frequentes foram dor de cabeça, dores pelo corpo, dor no local da aplicação. Enquanto a AstraZeneca esteve mais relacionada com o quadro de febre.

Quais são as pessoas que não podem tomar vacina da Covid?

As pessoas que tenham história de reação alérgica grave a qualquer componente da vacina não a devem tomar. A vacina apenas foi testada em crianças com mais de 16 anos de idade. Por conseguinte, neste momento, a OMS não recomenda a vacinação a crianças menores de 16 anos, ainda que pertençam a um grupo de alto risco.

Quem tomou a vacina CoronaVac pode tomar outra vacina?

O tempo de intervalo entre a primeira e a segunda dose para quem tomou a Pfizer foi reduzido para 21 dias. Para a CoronaVac, a espera é de 28 dias. E para a AstraZeneca, de 56 dias. Quem recebe Janssen já passa direto para a dose de reforço, após dois meses.

Quais os efeitos colaterais da CoronaVac em crianças?

Crianças podem tomar a vacina se estiver tossindo ou fazendo uso de remédios como antibiótico. Entre os possíveis efeitos colaterais que possa acontecer após a vacina, Padim relata que são os mesmo de outras vacinas, como incomodo no local da aplicação, febre baixa ou mal estar normal.